O GRANDE INIMIGO DA VERDADE É MUITAS VEZES NÃO A MENTIRA -
DELIBERADA, ORGANIZADA E DESONESTA - MAS SIM O MITO, PERSISTENTE, PERSUASIVO E
IRREALISTA. ACREDITAR EM MITOS PERMITE O CONFORTO DE TER OPINIÃO SEM O
DESCONFORTO DE TER QUE PENSAR - Jonh F. Kennedy
Há
mais de sete anos fui "metido" de forma absurda, inexplicável,
mentirosa e perversa, no chamado Processo Casa Pia.
Acabado
de chegar ao Algarve para um fim-de-semana com a minha família, à porta da casa
dos meus sogros, fui detido com o argumento de que havia indícios de ter
cometido dois crimes de abuso sexual. Podiam ter-me prendido duas horas antes
em minha casa. No dia seguinte, a versão oficial era a de que eu ia em fuga,
não sei bem para onde: sem passaporte, sem Bilhete de Identidade, uma muda de
roupa na mala e um computador portátil.
A
minha "fuga" é das maiores ficções do Processo Casa Pia mas ela era
também o início de toda uma história construída com mentiras, invenções,
fábulas. Não há nenhum indício de tentativa de fuga. Um inspector diz que tinha
a informação de que eu me preparava para fugir. Não se sabe de onde vinha tal
informação.
Como
era preciso que o povo acreditasse nessa enormidade, uma "fonte"
informa o jornal Público de que eu tinha transferido todo o meu dinheiro para o
Brasil. O jornal publica, sem qualquer indagação pelo menos junto do Banco para
onde eu teria feito a transferência. Nos dias a seguir sucederam-se notícias
falsas (a sua falsidade acabou reconhecida pelos próprios jornalistas, que se
recusaram a revelar as fontes): "Contas a Zero comprometem Cruz",
"Escutas e vídeos comprometem Cruz"; "Cruz na lista de pedófilos
do FBI", "Contradições entre arguidos" (sem nunca ter sido
ouvido) etc, etc.
Perante
tal massacre estava criada a histeria colectiva e condenatória típica deste
tipo de processos que são muitos, em vários países. Junte-se-lhe 15 meses de
prisão preventiva, mais alguns de prisão domiciliária a seguir e depois
proibição de sair do Concelho onde resido e facilmente percebi o veredicto do
julgamento na praça pública: CULPADO!
A
Comunicação Social era diariamente alimentada pelas "fontes". Sabemos
hoje quem eram algumas delas que até envolviam o próprio Juiz Director da
Polícia Judiciária. Publicavam-se excertos cirurgicamente escolhidos de
depoimentos e outros documentos em segredo de Justiça. Jornalistas houve que
chegavam a receber apenas algumas linhas de alguns documentos com omissão das
partes que contradiziam o seu conteúdo ou que se revelavam inverosímeis.
Alguma
Comunicação Social e a investigação andaram de mãos dadas: a Comunicação Social
vendia e a investigação tinha o povo do seu lado, a pedir sangue. Este é o
resumo do Processo Casa Pia. A este "matrimónio" juntara-se alguns
personagens cujas motivações não são difíceis de adivinhar e, por fim, a total
incompetência e irresponsabilidade de algumas figuras que tiveram neste caso os
seus "15 minutos de glória". Se ainda tiverem alguma réstia de
consciência, sete anos passados perceberão como são seres efémeros e talvez
ainda saboreiem alguma amargura do remorso.
Em
Fevereiro deste ano, o Conselho Superior de Magistratura escreveu que deverá
ser feito "um enorme trabalho de análise e reflexão que deverá ter no
processo "Casa Pia" o seu case study." E mais: "A fase do
julgamento do processo "Casa Pia" dura há mais de 5 anos. Este dado
objectivo reflecte, com uma evidência nunca antes vista, a ineficiência do
nosso sistema de justiça."
Por
tudo isto resolvi abrir este site. Mas também por outras razões: durante estes
anos reconheço que há pessoas que me consideram culpado, outras têm dúvidas e
outras juram pela minha inocência. Trata-se de um processo de Fé e Convicções,
no meio das quais surgem alguns fundamentalismos. Tenho que o entender depois
de toda a intoxicação onde uns terão mais culpas do que outros. Muitos amigos
meus iam-me contando as suas discussões, os argumentos de quem me condenava sem
qualquer argumento válido. E foram-me comunicando algumas das perguntas que
lhes faziam: então e isto? E aquilo? E os vídeos? E as fotografias? E as escutas?
Este
"site", este espaço, pretende começar por responder às
perguntas mais comuns apresentando provas e documentos a que o público nunca
teve acesso. As pessoas conhecem o que a Comunicação Social lhes dá, isto é,
uma ínfima parte e que muitas vezes é relatada com evidente parcialidade.
Porque também nos jornalistas há divisão de opiniões ou há compromissos e
cumplicidades para não virem a perder as suas "fontes".
Este
site irá sendo enriquecido e actualizado: respondo a estas perguntas como
responderei às que me forem chegando desde que o seu autor se identifique
devidamente e faça as perguntas com civismo. Como também aceitarei pistas que
ajudem a chegar à parte da Verdade possível. É que este Processo, da forma como
foi conduzido e organizado, acabou por tornar impossível saber quem foram e/ou
são os verdadeiros abusadores. Foi "a nuvem de fumo para esconder o
cogumelo de uma explosão atómica" no dizer certeiro do jornalista João
Paulo Guerra. Responderei a tudo. Terminou o Julgamento do Tribunal. Mas o
apuramento da VERDADE continua.
E
porque é em nome do Povo que os Juízes julgam, acho que o Povo tem direito a
conhecer em pormenor o que esteve a ser julgado. Assim, oportunamente, aqui
colocarei o Processo na íntegra, devidamente indexado para que os cidadãos
possam procurar respostas para as suas dúvidas e confirmem que provei, SEM
MARGEM PARA QUALQUER DÚVIDA QUE ESTOU INOCENTE. Sou afinal, uma vítima das
vítimas!
Um
comentário final: este Processo vai ficar na História da Justiça portuguesa
como uma enorme nódoa negra. O futuro dar-me-á razão. Mas apesar desta
monstruosidade que abateram sobre mim, julgo que se podem retirar algumas
lições:
-denunciou
situações inimagináveis dentro da Casa Pia de Lisboa
-poderá
e deverá fazer pensar qualquer jurista de bom senso que o nosso Código do
Processo Penal tem que ser profundamente revisto, nomeadamente o artº 356 (o
próprio Presidente do Sindicato dos Investigadores disse há pouco tempo que não
percebe para que serve a investigação, o inquérito, já que não pode ser usado
em Tribunal).
-pôs
em evidência a necessidade de formar procuradores, juízes e investigadores na
especialidade de crimes de abusos sexuais nomeadamente envolvendo crianças e
adolescentes
-lembrou
a necessidade de vídeo-gravar os interrogatórios às vitimas desses abusos
-salientou
a necessidade de se criar a especialidade de Psicologia Forense
-denunciou
a obrigatoriedade de utilização das normas que se encontram nos manuais para
interrogar essas vítimas
-revelou
que é urgente o estudo e aprendizagem dos processos de análise dos depoimentos
(hoje já utilizados nos Tribunais em Espanha, Alemanha, Holanda, Estados
Unidos, Canadá, etc) nomeadamente o CBCA.
-mostrou
que se deve assegurar que, nas perícias levadas a cabo pelo Instituto Nacional
de Medicina Legal, as partes tenham direito a um verdadeiro contraditório
Estas
são as principais lições deste Processo Casa Pia.
Nota Final:
1- Quando falamos do "Processo Casa
Pia" estamos a falar de dois processos:
a) Processo inicial de Carlos Silvino em que ele é o único arguido, que
envolve umas dezenas de vítimas e que esteve quase a ser julgado pelo
então Juiz Dr. Pinto de Albuquerque, hoje Professor da Universidade Católica. É
o chamado "Processo Apensado".
b) E o processo onde se inclui o meu nome. Este processo diz respeito
principalmente a sete assistentes. Eu respondo a cinco crimes envolvendo três
deles. Refere-se a seis arguidos, dois ex-arguidos e outras figuras (bastantes)
que nunca foram arguidas nem ouvidas.
2- Sempre que utilizo o termo "assistentes" estou
evidentemente a referir-me às alegadas vítimas.
3- Neste momento, por razões legais não podemos colocar no site os
fac-simile de todo o processo. Isso só será possível depois da leitura da
sentença. E fá-lo-emos tal como prometido, acautelando a não revelação da
identidade das vítimas e demais constrangimentos legais.
* Coisas do meu arquivo.
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