O antigo ministro das Finanças João Salgueiro considerou hoje que um novo resgate financeiro a Portugal "pode ser inevitável" e o professor universitário João César das Neves defendeu mesmo que se está "à beira de um novo resgate".
Lusa
Os
dois economistas assumiram esta posição nas jornadas parlamentares do PSD, em
Santarém. No início da sua intervenção, João Salgueiro defendeu que se aproxima
uma mudança profunda em Portugal e disse que já se começa a pensar que um
quarto resgate "pode ser inevitável".
Durante
o período de debate com os deputados, César das Neves colocou esse cenário como
uma certeza: "Está-se à beira de um novo resgate em Portugal, e certamente
uma crise muito mais vasta do que isso. A Europa está fragilizadíssima e,
portanto, estamos por meses de ver aí uma coisa mesmo séria".
Segundo
César das Neves, o Governo do PS está consciente disso, e por isso desvaloriza
"os disparates" do processo de aprovação do Orçamento do Estado para
2016. "O que eles estão a pensar é: vem aí uma trovoada de um tamanho tal
que qualquer disparate que a gente faça antes desaparece. Eu acho que é isso".
Convidado
para intervir num painel sobre "Caminhos seguros para o crescimento
económico duradouro", o professor universitário descreveu Portugal como
"um país rico de pobres", que está "em vias de extinção"
devido à falta de nascimentos e à emigração, com uma economia prejudicada pela
"evasão fiscal" e "rigidez no mercado de trabalho" e em que
"está tudo falido".
César
das Neves terminou a sua intervenção com uma citação de Salazar sobre
"riqueza ilusória" que termina com a seguinte afirmação: "Todos
estes males têm somente uma cura - a estabilização da moeda, e esta é
impossível, independentemente da solução do problema financeiro".
Por
sua vez, João Salgueiro começou por elogiar os sociais-democratas.
Perante
a presença do presidente do PSD e ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e
de vários ministros do anterior Governo PSD/CDS-PP, o economista disse que via
na sala várias pessoas que contribuíram para "ajudar o país a viver melhor
e a ter mais sucesso".
Depois,
manifestou "apreço" pelos deputados do PSD que "estão a
participar numa experiência que não é fácil ", acrescentando: "Tenho
visto as intervenções de alguns na comunicação social muito assertivas e muito
convincentes".
Logo
em seguida, o antigo dirigente do PSD sustentou que "o país mais uma vez
está na véspera de ter de mudar de cenário".
"Quem
já viveu mais anos do que gostaria infelizmente está lembrado de situações
idênticas, em que se tem a sensação de que as soluções estão esgotadas e que
vai ter de haver uma mudança se calhar mais funda do que nós pensaríamos
inicialmente", prosseguiu.
João
Salgueiro apontou como exemplo a descolonização, dizendo que "foi uma
lição de que as mudanças que não se fazem a tempo dão ruturas muito mais graves,
mais tarde ou mais cedo".
Neste
contexto, afirmou que houve "um terceiro resgate que já acabou, mas ainda
não está concluído, e se calhar já começa a pensar-se que um quarto pode vir a
ser inevitável".
"Isso
é sintoma de um esgotamento do sistema, que mostra que neste momento tudo o que
pensemos não é demais", considerou.
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