2 Abril, 2016
Há mais um escândalo a assombrar o Vaticano. Desta feita, por causa de obras de restauro, de quase meio milhão de euros, num apartamento habitado pelo Cardeal Tarcísio Bertone, havendo suspeitas de desvio de dinheiro de uma Fundação que apoia crianças doentes.
O caso já está a ser investigado pelos tribunais do Vaticano e, enquanto se elogia a rápida intervenção da Santa Sé, também surge o alerta de que se poderá estar a abrir uma verdadeira Caixa de Pandora, com implicações que podem chegar às mais altas figuras da Igreja.
A investigação centra-se no alegado uso de 422 mil euros dos fundos da Fundação do Hospital Pediátrico Bambino Gesù, que visa apoiar crianças doentes, para a restauração do apartamento habitado pelo Cardeal Bertone, ex-Secretário de Estado do Vaticano, e que é propriedade do Governatorato do Vaticano.
Em jogo estão “crimes gravíssimos”, revela o jornal italiano Espresso, que divulga cartas comprometedoras para os envolvidos, nomeadamente para o Cardeal. A acusação dos juízes do Vaticano menciona “peculato, apropriação e uso ilícito de dinheiro“.
As obras terão custado 422 mil euros, um valor que não foi pago directamente à empresa que fez o restauro, a Castelli Re.
O dinheiro terá sido transferido para uma holding britânica com sede em Londres, a LG Concractor Ltd, que será controlada por um amigo pessoal do Cardeal Bertone, Gianantonio Bandera, que também é o proprietário da Castelli Re.
O Cardeal tem negado desconhecimento absoluto do envolvimento de qualquer verba da Fundação e até disse que pagou “300 mil euros” do seu bolso. Mas o Espresso divulga cartas que asseveram que ele estava a par do uso dos fundos do hospital pediátrico nas obras.
Numa dessas missivas, o ex-presidente do hospital, Giuseppe Profiti, oferece-se para pagar as obras do apartamento habitado pelo Cardeal, através da Fundação sem fins lucrativos dedicada ao apoio de crianças doentes, em troca de este acolher naquela habitação “encontros institucionais”.
Um dia depois, o Cardeal terá respondido à carta aceitando a oferta e enviando uma “lista de pedidos”, salienta o jornal italiano.
Bertone tinha reagido ao seu envolvimento no caso como “uma calúnia”.
“Paguei 300 mil euros do meu bolso, segundo as facturas que me mandou o Governatorato, proprietário do imóvel. Sobre os 200 mil da Fundação? Não vi nada. E excluo em absoluto ter dado quaisquer indicações à Fundação para algum pagamento”, disse o Cardeal.
Outra dúvida que surge, à luz das palavras de Bertone, é que ou está a mentir, mais uma vez, quando diz que pagou o valor, com o conluio de elementos do Governatorato, ou o construtorrecebeu 422 mil euros da Fundação, mais os 300 mil euros do Cardeal.
Na investigação aberta pelo Vaticano constam apenas os nomes de Giuseppe Profiti e do ex-tesoureiro do hospital, Massimo Spina.
Mas muito dificilmente o Cardeal Bertone sairá ileso do caso.
Por ser Cardeal, só poderá ser julgado pelo Tribunal de Cassação da Cidade do Vaticano e se isso vier a acontecer, será o primeiro caso da história da Santa Sé.
SV, ZAP
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