As
desigualdades em saúde em Portugal são elevadas e os anos de "profunda
recessão económica e de cortes orçamentais" tiveram consequências que
ainda não são conhecidas, indica o Relatório de Primavera deste ano.
"Portugal
tem vivido anos de profunda recessão económica e de cortes orçamentais em
várias áreas, incluindo a saúde, educação e segurança social. Neste sentido, as
desigualdades em saúde representam uma preocupação acrescida, à luz dos custos
elevados que acarretam", lê-se no documento, elaborado pelo Observatório
Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).
Intitulado
"Saúde - procuram-se novos caminhos", o documento começa por recordar
os relatórios elaborados nos últimos seis anos, nomeadamente sobre a questão da
crise na saúde.
"Constatamos
que a crise e o seu impacto na saúde dominou as atenções nesses anos tendo o
OPSS apresentado ao longo desses anos diversas sugestões e alertas que poucas
vezes foram tidos em conta", lê-se no relatório que será hoje apresentado
em Lisboa, na presença do ministro da Saúde.
Os
autores indicam que "o acentuado corte nas despesas com saúde", que
"fizeram baixar alguns pontos no ranking da OCDE, tiveram efeito mais
acentuado nas despesas com medicamentos e recursos humanos".
"Esses
cortes ultrapassaram os cortes propostos pela troika no Memorando de
Entendimento e ainda estamos longe de conhecer o verdadeiro impacto no sistema
nacional de saúde, nomeadamente nos ganhos em saúde obtidos ao longo dos
últimos anos".
Em
relação às desigualdades sociais em saúde, os autores concluíram que estas são
uma "evidência recente para Portugal", país onde existem "razões
adicionais de preocupação".
"A
evidência prévia demonstra que as desigualdades em saúde em Portugal são
elevadas. Uma revisão sistemática recente aponta para a existência de
disparidades em vários indicadores de saúde (como saúde auto-reportada, saúde
mental, sintomas cardiovasculares e obesidade), relacionadas principalmente com
instrução e género".
O
OPSS recorda que "Portugal é um dos países mais desiguais da Europa em termos
de rendimento", encontrando-se "entre os países com maior
desigualdade, próximo de outros países do Sul da Europa, como Espanha, Grécia,
Itália, ou Chipre, e países de Leste".
"No
mesmo sentido, o risco de pobreza ou exclusão social é elevado em Portugal,
quando comparado com outros países europeus, com taxas semelhantes àquelas
observadas noutros países do Sul da Europa".
Um
dos dados apresentados refere que "as pessoas sem formação têm um risco de
ter má saúde seis vezes superior, em comparação com as pessoas com mais
formação (ensino secundário ou mais)".
"O
risco de diabetes é mais de quatro vezes superior no grupo sem formação, e o
risco de hipertensão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é três vezes
superior. Para a depressão, o risco é mais elevado nos grupos com menor
educação, embora seja superior para as pessoas com ensino básico comparado com
as pessoas sem formação".
"Seja
qual for a doença, a desigualdade aumentou claramente entre 2005 e 2014,
independentemente do sexo e da idade".
Nos
idosos, as desigualdades em saúde são ainda mais marcadas: "O risco de má
saúde é cinco vezes superior nas pessoas sem educação e mais de duas vezes
superior nas pessoas com ensino básico. O risco de doença crónica é quatro
vezes superior nas pessoas sem educação e o risco de limitações mais de três
vezes superior".
Os
autores concluem ainda que, "apesar do carácter universal e
tendencialmente gratuito do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os cuidados de
especialidade estão desigualmente distribuídos na população, a favor dos mais
educados. Este facto também poderá contribuir para as desigualdades em
saúde".
Para
o OPSS, os dados analisados "indicam claramente que o SNS, apesar dos seus
grandes e demonstrados benefícios para a saúde da população, e do seu carácter
universal e tendencialmente gratuito, não é suficiente para combater as
desigualdades em saúde".
Entre
as várias estratégias para combater as desigualdades em saúde, os autores
defendem que "as políticas de saúde pública devem focar os comportamentos
de risco -- álcool, tabagismo, sedentarismo, dieta inadequada -- através de
instrumentos económicos (impostos) e da regulação (por exemplo das gorduras, do
sal ou do açúcar)".
"Os
programas de rastreio devem ser acessíveis a todos, assim como os cuidados de
saúde", preconiza o Observatório.
O
OPSS é uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade
Nova de Lisboa, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de
Coimbra, Universidade de Évora, e a Faculdade de Farmácia da Universidade de
Lisboa.
Fonte:
Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário