sexta-feira, 1 de julho de 2016

Angola. A TOLERÂNCIA POLÍTICA

A palavra tolerância, termo que vem do latim “tolerare”, pressupõe suportar, aceitar e quando associada à política traduz  basicamente ideia de uma convivência baseada em cedências e concessões.

Jornal de Angola, editorial

A vida em democracia tem implicações e desafios muito sérios que todos precisam de enfrentar e aceitar na sociedade, nas instituições, particularmente as de índole política. Atendendo às limitações decorrentes da natureza humana, não podemos esperar sempre uma coexistência pacífica e desprovida de incidentes. E muitas vezes   a vida num Estado Democrático e de Direito é confrontada com renovados desafios. 

“Às vezes temos tido algumas discussões acaloradas e alguns deputados assustam-se. Dificilmente, nós vamos ter sempre as mesmas ideias. O importante é haver uma discussão aberta, franca, transparente”,  dizia, há mais de um ano, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando Dias dos Santos, numa das sessões plenárias da Casa das Leis. Tais palavras emblemáticas do líder parlamentar prevalecem válidas, hoje, na medida em que predomina o desafio para o exercício permanente da tolerância, da reconciliação, do perdão, do reconhecimento dos excessos e da aprendizagem contínua. 

Em todas as situações menos boas, naturalmente resultantes da convivência humana, o fundamental é a busca de soluções para os problemas e uma boa aprendizagem para se evitarem as repetições. A tolerância política é uma ferramenta indispensável para que a classe política desenvolva hábitos saudáveis da observância das leis, do respeito pelas diferenças e da convivência na diversidade. 

Numa altura em que um pouco por todo o país tende a aumentar a realização de actividades políticas e partidárias, é expectável que os intervenientes façam jus aos preceitos elementares constantes na Constituição, nas Lei dos Partidos Políticos, tradições e valores angolanos. A classe política em Angola precisa de continuar a fazer prova das boas práticas e, pedagogicamente, contribuir para ensinar a sociedade que o campo das disputas político-partidárias não é uma arena de luta física. 

Como sabemos todos, na política não vale tudo, sendo importante a materialização de acções consentâneas com o jogo político para que saiamos todos enriquecidos. Os actores políticos não podem perder de vista, no exercício das suas acções, não raras vezes questionáveis do ponto de vista dos meios e fins, dos precedentes que deixam. 

Há na nossa sociedade uma classe de adolescentes e jovens que, fruto da dinâmica da vida em sociedade, mais cedo ou mais tarde, vão naturalmente acabar por abraçar os desafios da vida política. E é fundamental que o processo de aprendizagem deste segmento da população, alguns já imbuídos de alguma experiência fruto da militância nos organismos partidários juvenis, seja assegurada com paz e tolerância.

Não é bom que as gerações novas, sobretudo as que tenham já algum percurso dentro das “jotas” ou militância activa no seio das comunidades, aprendam os maus exemplos de convivência política, encarando os adversários como inimigos a abater. Urge um novo processo de reaprendizagem por via do qual as lideranças políticas, através de exemplos práticos, saibam colocar os interesses de Angola acima dos de natureza partidária.

O Estado de que todos fazemos parte precisa muito do esforço de cada angolano e angolana para que, com a observância das leis, dos costumes e das tradições, sejamos capazes da construção de uma sociedade tolerante.  E nada melhor do que insistir no seu exercício porque se trata de uma atitude fundamental para quem viva em  sociedade. Apenas para lembrar, não é por acaso que a tolerância tenha sido instituída pelas Nações Unidas, tendo um dia de celebração em todo o mundo.    

Em Angola, precisamos de resgatar parte significativa da herança recente do processo de Reconciliação Nacional, que tornou viável e possível a ideia de entendimento entre angolanos desavindos durante longos anos de guerra. Conseguimos romper com a barreira imposta pelo conflito armado que incompreensivelmente parecia empurrar os angolanos para um ciclo de conflitualidade permanente, tendo a ponta do fuzil aparentemente como solução constante. 

Há mais de dez anos, com paz e estabilidade, aprendemos por experiência própria que não há nada melhor do que viver com segurança, ordem e tranquilidade de Cabinda ao Cunene. E para isso nada melhor que cultivarmos a tolerância  a todos os níveis porque, independentemente das falhas e dos erros humanos,  os angolanos em geral são acérrimos defensores da vida em sossego e tranquilidade.  

Na política, é igualmente importante que esse exercício se faça sentir, sendo fundamental a resistência para a politização e aproveitamentos que se fazem aquando de incidentes. Em todo o caso, acreditamos que estamos num processo e que independentemente dos incidentes de percurso, somos capazes de transformar a tolerância política como uma ferramenta contra a intolerância e contra a não aceitação da diversidade.

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