segunda-feira, 11 de julho de 2016

UM DURÃO DE COLUNA MOLE

Rui Sá* - Jornal de Notícias, opinião


Confesso que já tinha decidido escrever sobre Durão Barroso antes da sua nomeação para presidente não executivo da Goldman Sachs. Nomeação que apenas confirma o que dele penso e que se insere num percurso que, parecendo sinuoso, foi preparado ao milímetro e onde o "eu" se sobrepôs, sempre, aos outros...

Pelo que esta nomeação não me admirou, habituado que estou a esta sucessão de personagens que passam das "pastas às postas" e, destas, novamente às pastas, num ciclo infernal de enriquecimento próprio, normalmente à custa do empobrecimento do país.

Não. A razão deste artigo prende-se, isso sim, com o papel que Durão, tal como Portas (outro que também está em fase das "postas"...), desempenhou na invasão do Iraque, em 2003.

É que um relatório britânico, mandado fazer por Gordon Brown, sucessor e do mesmo partido de Tony Blair - o primeiro-ministro britânico que levou os ingleses para a segunda guerra do Golfo -, e divulgado esta semana, confirma o que já se sabia: não havia armas de destruição massiva no Iraque, não estavam esgotadas as possibilidades de negociação da redução do arsenal iraquiano, foi lançada uma deliberada campanha de intoxicação pública baseada em mentiras sobre a ameaça que o Iraque representaria para o "Ocidente", e havia vários indícios de que o derrube de Saddam Hussein seria meio caminho andado para o caos em que, efetivamente, se transformou aquela zona do planeta.

Apesar disto tudo, Blair decidiu que os ingleses deveriam participar na invasão, onde morreram 179 soldados britânicos - cujas famílias o ponderam processar porque perderam entes queridos por causa de uma mentira!

Mas, neste processo, Durão Barroso, então primeiro-ministro português, teve um papel fundamental, ao acolher, na ilha Terceira, a cimeira que envolveu Bush, Blair e Aznar e que decidiu a invasão do Iraque. Também em Portugal Durão (e Portas) conduziram uma inflamada campanha diabolizando Saddam e as suas "armas de destruição massiva".

Hoje, quando sabemos que morreram centenas de milhares de iraquianos, que o Iraque foi fortemente destruído, sendo que não existe uma estrutura de Estado. Hoje, quando sabemos que a invasão do Iraque deu mais força ao radicalismo islâmico e constituiu o rastilho para o estado generalizado de guerra que se vive na região - de que a Síria não é exemplo único -, o que tem causado um brutal êxodo de refugiados. Hoje, quando se vive, em todo o Mundo, com o receio de ataques terroristas perpetrados pelo Daesh - filho direto destes erros crassos!...

Hoje, face a isto, esperava-se que Durão Barroso (tal como Portas), no mínimo, pedissem desculpa! Mas, para isso, era necessário que tivessem uma coluna menos mole!...

*Engenheiro

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