quinta-feira, 8 de setembro de 2016

BRASIL: AUTORITARISMO E CLAMOR DEMOCRÁTICO

O que o clamor das ruas brasileiras exige agora é o mínimo respeito pela democracia por parte dos grupos de pressão que controlam o Congresso Nacional.

Editorial do diário La Jornada, do México, em Carta Maior

Desde o dia em que Michel Temer, o chefe de Estado do golpismo, foi investido como presidente do Brasil pelo Senado, diversas manifestações passaram a tomar as ruas das principais cidades do país. Algumas delas, marchas multitudinárias, pautadas pelo repúdio ao novo governo, demandando o restabelecimento da democracia no gigante sul-americano.

Em efeito, na mesma quarta-feira passada (31/8), horas depois do ato farsante da manobra que conduziu Temer ao poder, dezenas de milhares de pessoas saíram já começavam a expressar sua inconformidade com a destituição de Dilma Rousseff e sua substituição por aquele que era o seu vice-presidente. Em São Paulo, as manifestações foram violentamente reprimidas pela polícia.

Embora as mobilizações não tenham cessado, no sábado passado (3/9), o chanceler do novo regime, José Serra – que se encontrava na China, acompanhando a reunião de cúpula do G-20 –, tratou de desqualificar as mesmas, descrevendo-as como muito pequenas, “quase nada”, algo entre cinquenta ou cem pessoas. No dia seguinte, foi desmentido por uma marcha que contou com mais de cem mil participantes, ocupando a principal avenida de São Paulo. Foi uma demostração pacífica e bem organizada da oposição social ao novo governo. Porém, em determinado momento da jornada, a polícia paulista resolveu iniciar uma série de ataques com granadas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, nas proximidades de uma estação de metrô, uma agressão completamente injustificada.

As concentrações foram convocadas por organizações sociais reunidas em duas coalizões: a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo. Nenhuma delas pertence ou inclui entre os seus aliados o Partido dos Trabalhadores (PT), da presidenta deposta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O sentir das mobilizações não é necessariamente pró-Dilma, mas sim contra o golpe de Estado disfarçado, concluído no último dia do mês passado. Suas demandas centrais são a remoção de Temer e a imediata convocação de eleições presidenciais diretas.

Desde uma perspectiva democrática, a razão está a seu favor: como expressou a própria ex-presidenta, em uma entrevista publicada há poucos dias, o fato de um programa de governo que foi aprovado pela sociedade através dos votos seja derrubado à força, e que em seu lugar tenha entrado um programa de sentido oposto, sem que essa decisão seja submetida à consideração da cidadania, é uma situação aberrante. É exatamente isso o que vem acontecendo no Brasil.

Mais grave e inaceitável que as circunstâncias da queda de Rousseff, com base em acusações sem fundamento, e levadas adiante por um Poder Legislativo, é o fato de Temer aplicar políticas públicas do mais descarado neoliberalismo, contrárias às que receberam o voto majoritário em outubro de 2014, e que alguma vez foram representadas por ele mesmo como candidato à vice-presidência na mesma chapa de Rousseff.

Em suma, o que o clamor das ruas brasileiras exige agora é o mínimo respeito pela democracia por parte dos grupos de pressão que controlam o Congresso Nacional brasileiro, e que tomaram por assalto o Poder Executivo.

Tradução: Victor Farinelli - 
Créditos da foto: Roberto Parizotti

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