domingo, 4 de dezembro de 2016

BACTÉRIA COM 2,5 MIL MILHÕES DE ANOS EXISTIU ANTES DA FORMAÇÃO DO OXIGÉNIO


 
(dr) Andrew Czaja / UC
Imagem microscópica de uma bactéria de enxofre com 2.5 mil milhões de anos
Imagem microscópica de uma bactéria de enxofre com 2.5 mil milhões de anos
Foram encontradas bactérias de enxofre fossilizadas em duas posições separadas no Cabo Setentrional, na África do Sul.
Em algum momento entre a criação da Terra e o que hoje chamamos de “presente”, os cientistas sabem que algumas formas de vida precoce existiram sem a ajuda do oxigénio.
A primeira metade da vida de 4,5 mil milhões de anos do nosso planeta é descrita pelos especialistas como um momento importante para o desenvolvimento e evolução de bactérias precoces.
Entretanto, os sinais sobre essas formas de vida permanecem escassas, incluindo o segredo de como faziam para sobreviver num momento em que os níveis de oxigénio na atmosfera eram menores do que um milésimo de um por cento do que são hoje.
A mais recente pesquisa geológica da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, apresenta novidades nesta área. Foram encontradas bactérias fossilizadas em duas posições separadas no Cabo Setentrional, na África do Sul.
“Estas são as bactérias de enxofre fósseis mais antigas já relatadas até agora”, diz o investigador Andrew Czaja, professor assistente de geologia da UC.
“Esta descoberta está a ajudar-nos a revelar uma diversidade de vida e ecossistemas que existiam antes do Grande Evento de Oxidação, um momento de grande evolução atmosférica”, comenta.
As bactérias de 2,52 mil milhões de anos são descritas por Czaja como estruturas microscópicas de paredes lisas com estrutura esférica excepcionalmente grandes.
São muito maiores do que a maioria das bactérias modernas, mas semelhantes a alguns organismos unicelulares modernos que vivem em águas subterrâneas ricas em enxofre, onde até hoje quase não há traços de oxigénio.

Neoarqueano

O investigador e os seus colegas Nicolas Beukes, da Universidade de Joanesburgo, e Jeffrey Osterhout, revelam amostras de bactérias que, de acordo com a pesquisa publicada na revista Geology of Geological Society of America, foram abundantes em áreas de águas profundas do oceano num tempo geológico conhecido como Período Neoarqueano, entre 2,8 a 2,5 mil milhões de anos atrás.
“Estes fósseis representam os organismos mais antigos conhecidos que viviam num ambiente muito escuro, de águas profundas”, explica Czaja.
“Estas bactérias existiram dois mil milhões de anos antes das plantas e árvores, que evoluíram cerca de 450 milhões de anos atrás”, compara.
Os microfósseis foram descobertos numa camada de rocha rica em sílica dura, localizada no cráton Kaapvaal da África do Sul.
Com uma atmosfera de muito menos de 1% de oxigénio, os cientistas presumiram que havia coisas a viver no local, em águas profundas que não precisavam de luz solar ou oxigénio, mas Czaja diz que os especialistas não tinham nenhuma prova direta disso até agora.
O investigador argumenta que a descoberta de rochas tão antigas é rara, de modo a que a compreensão dos investigadores sobre o Período Neoarqueano é baseada em amostras de apenas poucas áreas geográficas, como esta região da África do Sul e outra na Austrália Ocidental.
(dr) Aaron Satkoski / UWM
O professor Andrew Czaja, da Universidade de Cincinnati
O professor Andrew Czaja, da Universidade de Cincinnati
De acordo com Czaja, ao longo dos anos os cientistas defendiam que a África do Sul e a Austrália Ocidental faziam parte de um antigo supercontinente chamado Vaalbara, antes de um deslocamento e contração de placas tectónicas que as dividiram durante uma grande mudança na superfície da Terra.
Com base no registo radiométrico e análise de isótopos geoquímicos, Czaja considera que os fósseis se formaram neste supercontinente precoce, nas profundezas do mar, contendo sulfato de rochas continentais.
De acordo com os registos, as bactérias fósseis de Czaja também estavam a prosperar pouco antes da época em que outras bactérias de águas rasas começaram a criar mais e mais oxigénio como um subproduto da fotossíntese.
“Referimo-nos a esse período como o Grande Evento de Oxidação, que ocorreu há 2,4 a 2,2 mil milhões de anos atrás”, diz o geólogo.

Reciclagem precoce

Os fósseis mostram que a bactéria Neoarqueana vivia em números abundantes afundadas no sedimento. O investigador afirma que essas bactérias ingeriam sulfeto de hidrogénio vulcânico – a molécula conhecida por libertar um cheiro de ovo podre – emitindo sulfato, um gás que não tem cheiro.
Czaja diz que este é o mesmo processo que acontece atualmente, quando bactérias modernas reciclam a matéria orgânica em decomposição em minerais e gases.
“O desperdício de uma era alimento para a outra”, acrescenta. “Embora não possa afirmar que estas bactérias precoces são as mesmas que temos hoje, supomos que podem ter feito a mesma coisa que algumas das nossas bactérias atuais”.
Essas bactérias precoces provavelmente consumiram as moléculas dissolvidas de minerais ricos em enxofre que vieram de rochas terrestres que foram sujeitas pela erosão e levadas pelo mar, ou dos restos vulcânicos no solo oceânico.
Há um debate em curso sobre quando as bactérias oxidantes de enxofre surgiram e como isso se encaixa na evolução da vida na Terra.
“Mas estes fósseis dizem-nos que as bactérias oxidantes de enxofre estavam lá há 2,52 mil milhões de anos, e estavam a fazer algo notável“, conclui.
ZAP / HypeScience

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