domingo, 4 de dezembro de 2016

Há uma nova história para contar sobre a hipertensão

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O sistema imunitário está ligado à hipertensão arterial, revela uma linha de investigação recente que já resultou num ensaio experimental contra a hipertensão em ratinhos e que poderá vir a ser aplicado em humanos.
 
Nicolau Ferreira
23 de Novembro de 2016, 8:32
Apesar de ser muito falada, há muitos mistérios sobre a hipertensão arterial, um deles é a sua relação com o sistema imunitário. Uma equipa de cientistas em Itália tem estado a abordar esta nova linha de investigação e está a desenvolver uma terapia que poderá vir a ser aplicada aos hipertensos crónicos que não respondem aos medicamentos. O tratamento passa por matar um nervo do baço, impedindo que um grupo de células do sistema imunitário invada as paredes dos vasos sanguíneos e dê mais força à doença.
A técnica é experimental e foi aplicada só a ratinhos hipertensos, mas teve resultados positivos. O estudo sobre este trabalho foi publicado na revista Nature Communications.
O aumento da pressão arterial está ligado ao aumento do batimento do coração. Episodicamente, não há mal no aumento do ritmo cardíaco. A reacção fisiológica a uma situação de perigo passa pela injecção de adrenalina na circulação que faz o coração bater mais rápido, levando o sangue aos músculos e dando capacidade de resposta ao perigo.
O problema é quando a pressão arterial se mantém alta no tempo. As causas podem ser muitas, desde genéticas até ambientais. Do ponto de vista vascular, os vasos sanguíneos periféricos estreitam-se, o coração bate com mais força para garantir que o sangue continua a chegar a todos os tecidos e a hipertensão instala-se. Ao fim de muitos anos, surgem problemas sérios, como o acidente vascular cerebral.
Felizmente há medicamentos que actuam em diferentes órgãos e permitem diminuir a pressão arterial. Ainda assim, entre cinco a 10% dos hipertensos crónicos não reagem a estes medicamentos. Além disso, os mecanismos fisiológicos que se encadeiam desde a resposta a um factor de risco da hipertensão, como o excesso de sal no sangue, até à condição de saúde se manifestar são desconhecidos.
O trabalho publicado na Nature Communications e que foi coordenado por Giuseppe Lembo, do Instituto Neurológico Mediterrânico (Neuromed), em Pozzilli, Itália, poderá vir a destrinçar alguns dos mistérios desta doença. “Neste artigo, estivemos interessados em olhar para o sistema imunitário como causa da hipertensão”, disse ao PÚBLICO Daniela Carnevale, uma das autoras.
Resultado de imagem para hipertensão arterialMais precisamente, os cientistas estudaram a ligação entre a hipertensão, o sistema imunitário e o sistema nervoso simpático, que pertence ao sistema nervoso autónomo (não é controlado conscientemente). O sistema nervoso simpático é importante na manutenção da homeostase e actua nos órgãos do corpo em resposta aos stresses. Segundo a cientista, há muito que se sabe que a activação exagerada do sistema nervoso simpático tem um efeito na hipertensão, tanto a nível do coração como dos rins – outro órgão importante na equação da doença. Mas a ligação ao sistema imunitário é a novidade.
Quando há uma situação de hipertensão, há substâncias que são detectadas pelo cérebro e este activa o sistema nervoso simpático”, explica Daniela Carnevale. “Este tipo de activação no cérebro provoca uma descarga no baço.”
O baço é um órgão importante para filtrar o sangue, retirando os glóbulos vermelhos velhos da corrente sanguínea. Além disso, acumula linfócitos T (uma das várias classes de células do sistema imunitário), que entram em acção quando um novo organismo patogénico é detectado no sangue.
Estudos recentes mostraram que estes linfócitos T têm um papel importante na hipertensão arterial, explica um comunicado do Neuromed. Estas células são activadas e migram para as paredes dos vasos sanguíneos dos órgãos afectados pela hipertensão, não só reforçando a doença mas também causando danos aos órgãos, como os rins. Não se compreende ainda o que os linfócitos T provocam no sistema vascular daqueles órgãos, e a equipa italiana quer estudar este fenómeno no futuro. Mas a pergunta por trás deste trabalho era, em primeiro lugar, compreender que estímulo é que os activava.

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Há uma nova história para contar sobre a hipertensão 

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