Há muito que é possível navegar na Web sem ver praticamente qualquer anúncio, graças a uma das várias extensões para browsers que bloqueiam quase toda a publicidade. Recentemente, fiz uma experiência: durante sete dias, e durante as muitas horas por dia que passo em frente a um computador, optei por ter a extensão desligada (algo que já acontecia apenas para um número muito limitado de sites com conteúdo merecedor da excepção). Abriu-se um novo mundo de intrusão publicitária, que é possível conhecer em teoria, mas que tem outra cor quando experimentado.
Logo no início da semana, uma mensagem patrocinada no Twitter prometia já não estou certo se diversão, relaxe ou êxtase com um pequeno pião metálico. Cliquei. Ao que parece, uma empresa canadiana vende uma panóplia de piões feitos de todo o tipo de metais. Depois de analisadas as diferenças entre o pião de cobre e o de tungsténio, fechei o site. Mas no Facebook, no Twitter e nos muitos sites que têm anúncios do Google, o pião surgia recorrentemente.
Provavelmente dado o desinteresse pelo anúncio (manifestado na ausência de cliques e de visitas ao site), o pião começou a aparecer menos. Foi substituído por um touro: depois de consultar a cotação de algumas empresas na bolsa, sucederam-se em catadupa os anúncios serviços de corretagem online, muitos dos quais têm como símbolo o animal que passou a ser sinónimo de mercados financeiros em crescimento.
O mundo mudou muito desde 1994, quando aquele que é frequentemente descrito como o primeiro anúncio na Web (embora outros tenham surgido na mesma altura) apareceu no HotWired.com, um site dos mesmos donos da icónica revista Wired. O banner (reproduzido alguns parágrafos acima) foi pago pela operadora de telecomunicações AT&T. Ao clicar, o utilizador da então jovem Web aterrava numa página com links para museus. Este site documenta o processo.
A simplicidade contrasta com os dias de hoje, nos quais o Google, as redes sociais e as plataformas de publicidade em geral têm uma ideia muito razoável da idade, género, localização, interesses, profissão, rendimentos, estado civil e condição de saúde dos utilizadores. Neste contexto, não admira que um número crescente de utilizadores esteja a instalar bloqueadores de publicidade, dando origem a um jogo do gato e do rato com os muitos sites (incluindo os de jornalismo) que dependem de anúncios. A ProPublica, uma organização jornalística americana, descobriu há pouco tempo que o Facebook permitia direccionar anúncios com base em critérios étnicos. Também desenvolveu uma extensão para o browser Chrome que permite a cada pessoa saber as categorias em que o Facebook a encaixa. Recomenda-se a experiência.
Digno de nota
- A Nintendo Switch, o novo modelo da Nintendo que é um híbrido de consola portátil e doméstica, vai ser posta à venda a 3 de Março. Na FNAC e na Worten está a ser apresentada com um preço de 330 euros (o valor suscitou dúvidas entre investidores e as acções da empresa estão em queda).
- O CompareEurope Group, especializado em ferramentas de comparação de produtos financeiros, e que no mercado português tem o ComparaJá, angariou 20 milhões de euros de financiamento. Parte das operações internacionais do grupo estão em Lisboa.
- Dois funcionários da Microsoft nos EUA levaram a empresa a tribunal por considerarem que não tiveram apoio suficiente num trabalho extraordinariamente difícil: filtrar e denunciar às autoridades conteúdo que incluía imagens de homicídios e abusos sexuais de crianças.
- A Airbus, noticiou a agência Reuters, tem planos para ter pronto no final do próximo ano um protótipo de carro voador capaz de pilotar sozinho. Os carros voadores são um dos veículos clássicos da ficção científica, mas dos planos para a construção de protótipos até à realidade vai quase sempre uma grande distância.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.
Fonte: Público
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