Há um bom par de anos que a banca está no centro do debate em Portugal. Pelas más razões. A crise financeira de 2008 colocou a nu as fragilidades da banca e plantou um grande ponto de interrogação à frente de muitos dos créditos concedidos pelo sector.
Por
exemplo, porque é que a Caixa Geral de Depósitos precisa de uma
injecção de capital? Para tapar o buraco resultante de créditos
irrecuperáveis. É também esta a razão que leva os candidatos à
compra do Novo Banco a insistirem na criação de um "side bank"
ou a exigirem ao Estado garantias que os proteja de créditos cuja
recuperação é altamente improvável ou mesmo impossível. O Novo
Banco foi criado para suceder ao BES, mas não nasceu limpo. Antes
pelo contrário. Ficou por lá muito lixo creditício, à espera de
um milagre da transformação que não aconteceu.
A
regeneração do sistema financeiro é fundamental e tem sido uma
tecla constantemente batida por políticos, empresários e
economistas. A banca, contudo, é só metade do problema. A outra
metade, que tem permanecido na sombra, são as empresas que
recorreram à banca para se financiar e foram incapazes de cumprir os
seus compromissos, ajudando a empurrar o sector para o abismo. E
algumas (demasiadas) continuam a viver de balões de oxigénio, da
extensão das maturidades da dívida ou do perdão de juros,
confiantes no conceito de que são demasiado grandes para cair.
Ou
seja, a regeneração da banca será claramente ineficaz se não for
acompanhada por uma regeneração do tecido empresarial, expurgando
aquelas que manifestamente só se mantêm à tona à custa de um
tratamento preferencial e de uma teia de interesses de natureza
diversificada.
A
nacionalização do Novo Banco servirá para esconder este problema
estrutural, da mesma forma que a injecção de capital na Caixa - sem
a realização da auditoria forense - irá perpetuar o "status
quo" de desresponsabilização dos grandes devedores, colocando
o ónus no Estado e nos contribuintes.
É
necessário que os erros tenham consequências e que todos os
intervenientes neste processo assumam as suas responsabilidades. O
que tem acontecido até aqui é que certas empresas e investidores
têm sido poupados a este esforço, o que claramente prejudica a
recuperação da economia nacional. Não é só a banca que precisa
de mudar de vida. Há empresas que têm obrigatoriamente de o fazer e
outras que terão mesmo de desaparecer. Caso contrário, o país
andará sempre a chover no molhado.
Fonte:jornaldenegocios
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