segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A limpeza que não se fez


Celso  Filipe

Celso Filipe 16 de Janeiro de 2017 às 00:01






Há um bom par de anos que a banca está no centro do debate em Portugal. Pelas más razões. A crise financeira de 2008 colocou a nu as fragilidades da banca e plantou um grande ponto de interrogação à frente de muitos dos créditos concedidos pelo sector.
Por exemplo, porque é que a Caixa Geral de Depósitos precisa de uma injecção de capital? Para tapar o buraco resultante de créditos irrecuperáveis. É também esta a razão que leva os candidatos à compra do Novo Banco a insistirem na criação de um "side bank" ou a exigirem ao Estado garantias que os proteja de créditos cuja recuperação é altamente improvável ou mesmo impossível. O Novo Banco foi criado para suceder ao BES, mas não nasceu limpo. Antes pelo contrário. Ficou por lá muito lixo creditício, à espera de um milagre da transformação que não aconteceu.
A regeneração do sistema financeiro é fundamental e tem sido uma tecla constantemente batida por políticos, empresários e economistas. A banca, contudo, é só metade do problema. A outra metade, que tem permanecido na sombra, são as empresas que recorreram à banca para se financiar e foram incapazes de cumprir os seus compromissos, ajudando a empurrar o sector para o abismo. E algumas (demasiadas) continuam a viver de balões de oxigénio, da extensão das maturidades da dívida ou do perdão de juros, confiantes no conceito de que são demasiado grandes para cair.
Ou seja, a regeneração da banca será claramente ineficaz se não for acompanhada por uma regeneração do tecido empresarial, expurgando aquelas que manifestamente só se mantêm à tona à custa de um tratamento preferencial e de uma teia de interesses de natureza diversificada.
A nacionalização do Novo Banco servirá para esconder este problema estrutural, da mesma forma que a injecção de capital na Caixa - sem a realização da auditoria forense - irá perpetuar o "status quo" de desresponsabilização dos grandes devedores, colocando o ónus no Estado e nos contribuintes.


É necessário que os erros tenham consequências e que todos os intervenientes neste processo assumam as suas responsabilidades. O que tem acontecido até aqui é que certas empresas e investidores têm sido poupados a este esforço, o que claramente prejudica a recuperação da economia nacional. Não é só a banca que precisa de mudar de vida. Há empresas que têm obrigatoriamente de o fazer e outras que terão mesmo de desaparecer. Caso contrário, o país andará sempre a chover no molhado.

Fonte:jornaldenegocios

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