Um investimento de 25 milhões de euros vai ser preciso "para retomar a atividade turística" nos concelhos do Centro do país afetados pelos incêndios de junho, disse hoje à Lusa o presidente da Turismo Centro.
Entre as iniciativas previstas para relançar a atividade turística destacam-se obras de recuperação de unidades afetadas pelas chamas e uma campanha internacional de promoção da região, suportada por dinheiros do Fundo Europeu de Emergência.
Pedro Machado, que dirige a Entidade Regional de Turismo onde se situam os concelhos devastados pelo incêndio que começou em 17 de junho (Castanheira de Pera, Penela, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, Góis, Pampilhosa da Serra e Sertã), avançou que não se registaram grandes estragos nas infraestruturas, mas que "a perceção de confiança dos turistas levou um rombo grave".
A Turismo Centro tem trabalhado de perto com a ADXTUR - Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (que gere a rede das 27 aldeias do xisto distribuídas pelo interior da região Centro), com o Turismo de Portugal e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) para avaliar a extensão dos estragos e elaborar um plano de recuperação.
"Este é o tempo para visitar o Centro de Portugal. Faça férias no coração do seu país", apelou Pedro Machado, apontando num gesto largo para as águas claras da lagoa do Cabril, onde fica situada uma praia fluvial muito procurada e um prestigiado restaurante de Pedrógão Grande, poupado pelas chamas.
O plano para retomar a "atividade turística plena" nos concelhos afetados pelos incêndios já arrancou. Na semana seguinte ao incêndio ter sido declarado extinto pelas autoridades avançaram as primeiras obras de recuperação.
Segundo o levantamento feito pela Turismo Centro, pela CCDRC e pela ADXTUR, 40 das 200 unidades turísticas da região (num total de duas mil camas) foram atingidas pelas chamas, que, nestes casos, não fizeram vítimas e pouparam as estruturas principais, tendo provocado prejuízos em zonas de apoio, redes de comunicações, águas e saneamento.
Os estragos mais graves registaram-se nas aldeias de xisto Ferraria de São João, Casal de São Simão, Mosteiro e Pedrógão Pequeno. Das 23 aldeias que integram a rede das aldeias de xisto, 19 saíram praticamente incólumes. As chamas afetaram também seriamente as praias fluviais do Pessegueiro e do Mosteiro, mas, pelo menos nesta última, tudo regressou já à normalidade.
No Mosteiro, o reflorestamento da mancha florestal até já arrancou por iniciativa de uma empresa local de turismo, que convida os portugueses a apadrinharem a plantação de "árvores dos afetos".
"A iniciativa é destinada a grupos, empresas e outras instituições que queiram contribuir para o reflorestamento de uma área que foi muito atingida pelos incêndios de junho. Esperemos que criem laços afetivos com esta terra e que regressem sempre", explicou à Lusa o promotor do evento, Luís Dias, responsável pelo complexo turístico do Mosteiro, que integra bungalows e um restaurante junto a uma praia fluvial.
Pedro Machado reconhece que o maior estrago feito pelas chamas aconteceu ao nível da confiança dos turistas, sobretudo portugueses. As reservas nas unidades hoteleiras tiveram um cancelamento de 15% nas semanas que se seguiram ao incêndio, na sua maioria de turistas portugueses. Já as reservas pelos estrangeiros não registaram cancelamentos, antes pelo contrário, tendo-se registado uma ligeira subida na procura.
"A perceção das pessoas de que podem não estar em segurança nesta região é um problema sério, que tem de ser combatido", referiu Pedro Machado, que reconhece que "o mercado português foi o que reagiu pior, de forma mais fundamentalista, em relação à perceção de falta de segurança".
Machado admitiu, no entanto, que a situação está a mudar aos poucos, registando-se de novo uma subida nas reservas, ao que não será alheio a campanha lançada para atrair turistas: "São campanhas de curto prazo em meios digitais e redes sociais", explica, revelando que estão a ser promovidas "fam trips" (visitas de cortesia) à região de jornalistas, agentes de turismo e figuras públicas, estando em curso "parcerias editoriais" com algumas empresas do setor.
Como o exemplo deve vir de cima, algumas entidades do setor estão a escolher os concelhos afetados pelas chamas para realizar reuniões dos respetivos órgãos de direção. É o caso da Associação Portuguesa de Agentes de Viagens e Turismo, que reúne a sua direção na Sertã e Figueiró dos Vinhos nos dias 28 e 19 de julho; da Confederação de Turismo de Portugal, que escolheu Pedrógão Grande para acolher em setembro a reunião do corpo diretivo; e da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, que reúne em Pedrógão o Conselho Consultivo, a 26 de setembro.
"Com a ajuda de todos vamos conseguir repor a normalidade e até crescer como destino de primeira escolha para os turistas nacionais e estrangeiros", perspetivou Pedro Machado.
Lusa
Nenhum comentário:
Postar um comentário