por Francisco Sarsfield Cabral |
A tragédia dos incêndios florestal tem evidenciado uma preocupante desorganização no seu combate. Essa desorganização também se manifesta no campo da comunicação social.
A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) anunciou há dias que passaria a concentrar a informação sobre os fogos em dois “briefings” diários na sua sede em Carnaxide – um de manhã, outro à tarde. Os bombeiros não gostaram; o presidente da Liga de Bombeiros falou mesmo em “lei da rolha”. Instalou-se a ideia que ANPC queria filtrar e eventualmente ocultar alguma informação. Os jornalistas também se insurgiram contra a anunciada medida, considerando indispensável terem informação fidedigna no terreno, no “teatro das operações”.
A ideia da “lei da rolha” parece afinal ser falsa: a nova directiva só se aplica aos elementos da estrutura operacional da ANPC, não aos comandantes dos bombeiros e outros operacionais no terreno. Digo “parece” porque esta clarificação passou largamente desapercebida, havendo ainda agora quem critique a aparente “mordaça” aos bombeiros. Vejam-se, por exemplo, os artigos de hoje (sexta-feira, 20) de José Manuel Fernandes no Observador e de Felisbela Lopes no Jornal de Notícias.
De facto, as primeiras explicações da ANPC sobre a tal directiva referiam justificações como “em situações excepcionais são precisas soluções excepcionais”. “Não temos qualquer interesse em esconder informação”, garantia Patrícia Gaspar, da ANPC. Mas é difícil confiar em que venha informação útil da parte de uma entidade que tão mal comunicou algo que lhe dizia respeito.
Para além deste caso envolvendo a ANPC, creio existir fraca consciência em algumas cabeças quanto à maneira como, actualmente, funciona a comunicação social: em permanente informação. Seja através das televisões (cinco canais informativos transmitindo notícias quase 24 horas por dia), seja pelas rádios, jornais, blogues, redes sociais, etc. Mesmo os jornais que apenas e publicam uma vez por dia têm, como os outros “media”, sites onde as notícias são actualizadas em permanência.
Da parte das autoridades deveriam existir pessoas qualificadas (bombeiros ou não) capazes de transmitir aos jornalistas informações seguras nos locais dos incêndios. Tem havido progressos, por exemplo na PSP, na informação pública. Esses progressos deveriam chegar, também ao combate aos incêndios florestais.
Fonte: CPI
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