“Tem sido semanas muito difíceis…”. Esta curta frase do sub-comandante dos Bombeiros Voluntários de Mira diz bem do sentimento de todos os homens que lutam, muitas vezes em condições extremas, contra os inúmeros incêndios que vão assolando o país de norte a sul, de leste a oeste, por essa altura!
O Jornal Mira Online procurou ouvir da voz de um dos inúmeros representantes dos Bombeiros espalhados pelo território nacional o que lhes vai na alma. E é necessário tentar entrar por ela adentro para se perceber a angústia destes homens e mulheres que tudo dão de si para que mais vidas humanas não sejam ceifadas neste verão que tem batido recordes negativos no que se refere a quantidade de fogos, área ardida e, ainda muito pior, mortes causadas por tamanha tragédia!
Aquando desta entrevista os Bombeiros mirenses estavam a atuar no fogo iniciado em Portunhos (Cantanhede) que, entretanto, em poucas horas já havia chegado à Lamarosa (Coimbra). Fogo de grande dimensão e que causou enorme angústia às populações… e que, entretanto, sofreu reacendimento no dia seguinte, como tantos outros pelo país.
A lista é longa: o que se iniciou em Tabuaço e chegou até os Covões, vários no Concelho de Montemor-o-Velho, os que tiveram início na Lagoa e na Praia de Mira e que, entretanto foram debelados pelos próprios populares que por ali passavam, o de Quiaios, o enorme incêndio de Mação, Abrantes, Penacova, Tábua, Miranda do Corvo… Estas são algumas das inúmeras saídas que os Bombeiros efectuaram nos últimos tempos, para além do trabalho normal que efetuam no dia-a-dia, tais como fazer uma média de 3 emergências por noite!
Não há descanso! Em nenhum quartel de Portugal existe, por hora, o necessário repouso dos guerreiros. Estão em todo o lado e são cada vez menos, com trabalho duplicado e, até, triplicado nesta altura do ano. Para se ter a noção do alcance da dimensão do trabalho a que estes homens e mulheres estão sujeitos por hora, João Maduro afirmou à reportagem que “na semana do incêndio em Mação eu e meus colegas conseguimos dormir por duas noites, somente, tamanha era a necessidade de não deixarmos que o fogo evoluísse ainda mais”. Duas noites numa semana a dormir bem demonstram que aquilo que os Bombeiros estão a fazer está “bem acima das possibilidades da nossa corporação”, como diz o sub-comandante de Mira.
De 20 a 30 elementos dos Bombeiros Voluntários de Mira, entre profissionais e voluntários, estão em ação diariamente por esta altura, muitos deles em prejuízo dos seus trabalhos e todos em prejuízo de uma qualidade de vida melhor, mas disponíveis para abdicar dela em prol de um bem maior que é o que os move, mesmo quando atingem os limites das suas próprias forças!
Resta, então, perguntar a João Maduro, o que fazer para tentar minimizar, neste momento, tudo o que tem acontecido, evitando que possa acontecer em qualquer local, a qualquer momento. “Comportamento cívico é fundamental!”, diz ele. “É preciso que todos nós tenhamos um cuidado extremo por esta altura: temos de ter a percepção de que tudo o que arranca agora, arranca com uma força tremenda! Combustíveis secos, altas temperaturas e ventos fortes são fatores de ignição que não podem ser negligenciados por ninguém…”. Mais, Maduro afirma que “independentemente do vizinho não limpar o pinhal, quando o incêndio tem início, todos acabam por sair a perder… por isso deixo um forte apelo para que todos se esforcem para limpar ao máximo as zonas que podem levar a que um foco de incêndio possa atingir pessoas e bens com imensa facilidade. Temos de ter a consciência de que essas situações não acontecem só aos outros… de que ela pode atingir a todos e a cada um!”
Por fim, João Maduro convida a todos a “estarem atentos, alertas para quaisquer comportamentos suspeitos, pois sendo por negligência ou mesmo por intenção, o início de um incêndio é um fator a ser considerado por todos, já que não se sabe onde será o seu fim”.
João Maduro está a muitos anos nestas andanças. Homem experimentado e tarimbado para estas tarefas, o sub-comandante dos Bombeiros Voluntários de Mira faz um último apelo. Pede a quem “tenha dentro de si o espírito de querer ajudar ao próximo, que se aliste como voluntário já que há, cada vez mais, uma enorme falta de pessoas que queiram se disponibilizar para esta actividade árdua, cansativa, tantas vezes pouco ou nada reconhecida, mas que é gratificante a nível pessoal, já que nada é mais moralizador do que poder contribuir para o bem de outros, mesmo que não os conheçamos de lado algum!”
Ficam aqui as palavras, as mensagens, os pedidos e até as angústias de um homem que fala em nome de tantos outros que estão em campo a qualquer hora, a qualquer momento, para fazer o bem sem olhar a quem.
Resta a todos nós fazermos destas palavras, lei. Sim, lei, porque estes homens e mulheres são aqueles que convivem diariamente com os dramas das populações, tantas vezes em condições extremas nas suas próprias vidas pessoais. Lei, porque cada mensagem aqui deixada pode ser um motivo para que nada aconteça, para que o incêndio não se inicie, nem as tragédias possam bater às nossas portas.
Brava gente, esta! Merecem todo o apoio e, no mínimo, que sigamos os seus conselhos, dados em prol de uma segurança que é de todos, mas começa em cada um de nós…
Francisco Ferra
Nenhum comentário:
Postar um comentário