A cada quatro anos, ele é praças embelezadas, acessibilidades rodoviárias renovadas, pavilhões desportivos e de outros usos com cara lavada, parques infantis arranjados, a que se juntam agora as incubadoras de start-ups. Obra, obra, obra, feita à medida do calendário da campanha, sabe Deus com que custos extraordinários. É tal o afã que este ano o investimento das autarquias já aumentou 40%, coisa inédita em, pelo menos, uma década.
É mais um daqueles velhos hábitos que voltaram assim que o programa de austeridade fez as malas. Olha-se à volta e não há como desgostar desta renovação quadrienal. Quem não aprecia a calçada enfim reparada, os novos bancos do jardim, o empedrado no centro histórico ou o brilho da pintura fresca? Depois pensa-se na racionalidade deste ciclo, que é coisa que não existe. Fora a da política, impura e dura, claro está.
Até os temas se repetem. Há umas semanas saiu no Público um pertinente exercício de comparação dos assuntos que marcavam esta campanha autárquica e a de há 20 anos, em Lisboa. Na essência são os mesmos, habitação para os jovens, desenvolvimento dos transportes, redução do número de carros.
Têm um tempero diferente, a habitação choca agora com o turismo e aos problemas do trânsito chama-se mobilidade, mas os ingredientes são os mesmíssimos. Prova de que neste exercício plástico a que assistimos de quatro em quatro anos, as questões essenciais ficam para segundo plano.
Nem todas são responsabilidade exclusiva das câmaras. E é justo que se diga que nem todas as autarquias funcionam assim, e isso vê-se na cautela financeira de umas a contrastar com a irresponsabilidade de outras. Mas é assim que funciona a grande maioria, sem gestão estratégica que não seja a gestão do ciclo eleitoral. Porque ainda é assim que se vencem eleições, com o voto do eleitor a deixar-se levar na sedução da obra feita. O Governo central não foge à regra, com a promessa orçamental de mais rendimentos a tomar o lugar ao betão e ao alcatrão. Se agravamentos fiscais houver, só os conheceremos depois do próximo domingo.
Invariável é também o debate sobre se os resultados das autárquicas devem ou não ter uma leitura nacional. Quem os teme diz que não, mas acabam sempre por ter. Nestas eleições, a carapuça serve inteirinha ao PSD e a Passos Coelho. Depois de em 2013 o partido ter ficado apenas com 106 câmaras, o número mais baixo de sempre, e perdido várias capitais de distrito, olhando para o andar da carruagem tudo aponta para que este possa ser o fim da linha para o actual líder do PSD.
As autárquicas oferecem-nos, a cada quatro anos, um retrato do país real político. E o que se viu já foi bem pior. Mas da gestão eleitoralista, passando pela figura do candidato itinerante que salta de concelho em concelho, muito há ainda a progredir na moralização do poder local.
Fonte: Jornal de Negócios
Fonte: Jornal de Negócios
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