sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Visão: O Bombeiro Que Não Teve Tempo para Descansar

Entre 15 e 16 de outubro este jovem bombeiro esteve em serviço quase 24 horas. Pelo meio, quando combatia as chamas num armazém, foi fotografado num dos poucos momentos de descanso – e este era mesmo necessário devido à inalação de fumo -, tornando-se no protagonista de uma das fotos mais emblemáticas da época de incêndios. Menos de um mês depois, regressámos com ele ao local onde foi tirada a fotografia.
Às 15 horas do dia 15 de outubro, Fábio Almeida foi chamado ao serviço. Ainda não sabia que só regressaria a casa às 14 horas do dia seguinte. “Mesmo que soubesse tinha ido na mesma.” A sua missão era a de reforçar o combate às chamas que lavravam na Lousã, que fica a cerca de 40 quilómetros do quartel de Condeixa, corporação de que faz parte. Apressados, porque o momento assim o exigia, Fábio e um colega puseram-se a caminho. O fogo não estava a dar tréguas e os meios não pareciam suficientes para o acalmar. Chegaram à frente de combate meia hora depois de partirem mas não saíram do autotanque florestal. Em Entrocamento de Poiares ardia um armazém com material altamente combustível. “O carro onde seguíamos era pouco indicado para combater um incêndio industrial, mas não podíamos negar a ajuda”, conta. O jovem bombeiro soube acatar a ordem e executá-la com a máxima rapidez. Ainda estava fresco.
Apesar dos seus 20 anos, Fábio Almeida não é propriamente um novato. Bombeiro voluntário desde os 15 já combate incêndios há três verões. “É mesmo isto que gosto de fazer: ajudar sem receber nada em troca”, revela-nos enquanto exibe um orgulhoso sorriso. Quer tornar-se bombeiro profissional – é a sua vocação, nascida da curta mas intensa experiência como voluntário.
As chamas já estavam no meio da vila e o armazém tinha no seu interior pneus e carros. Se atingisse esse material, as habitações em redor do recinto passavam a estar ameaçadas. Quando chegaram ao local, Fábio Almeida teve de entrar em casa de um popular para conseguir chegar ao armazém, enquanto o motorista do autotanque ficou na viatura. “Trepei o muro e a primeira coisa que fiz foi molhar os carros que ainda não ardiam e a parede onde me encontrava”, relata.
O muro a que se refere é alto, ultrapassa certamente os três metros, o que permitia ao jovem bombeiro condeixense ter uma perspetiva privilegiada sobre o terreno. No entanto, as telhas caíam e o impacto do embate no chão fazia saltar fagulhas que eram aliado perfeito de umas chamas descontroladas. O fogo já consumia pilhas de pneus e o fumo adensava-se. Fábio queria aguardar por uma temperatura menos alta para saltar, mas o fogo – e o tempo – não permitiam que as vontades imperassem. Sozinho, entrou no armazém e salvou o que ainda podia ser salvo. O ar tóxico que emanava da pilha de pneus ardida ia enfraquecendo Fábio. “Tinha noção do risco que estava a correr, mas não podia tomar outra atitude.”
Meia hora depois, e com a situação controlada, o bombeiro saiu do armazém para respirar ar menos contaminado. “O meu corpo estava a deitar-me abaixo”, conta. “Foi aqui que me ajoelhei”, diz, apontando para uma zona do chão irregular, onde pequenas peças de alumínio queimadas parecem ser as testemunhas fieis do seu relato. Nem sabia que estava a ser fotografado. Queria apenas recuperar o fôlego e estabilizar. Assim que conseguiu, levantou-se, bebeu água e voltou a entrar no autotanque.
Voltaram a chamá-lo. Deste vez, o que estava a arder era o próprio concelho. “Estive no terreno a defender a vila de Condeixa-a-Nova até às quatro da manhã.”.
Mas o longo dia de trabalho, e sem descanso, ainda teria uma última etapa. A meio da madrugada, uma equipa de bombeiros voluntários de que fazia parte arrancava em direção a Mira, onde o incêndio galgava terreno a alta velocidade. Regressaria dez horas depois.
“A única altura em que aproveitei para descansar foi na viagem até lá. Cheguei a casa às duas da tarde e meti-me na cama.” Entretanto, já a foto que Paulo Novais, fotógrafo da agência Lusa, tirara a Fábio Almeida estava a circular pelas redes sociais, tornando-se viral.
Quando acordou soube que aquele momento de exaustão – não de descanso – tinha ficado eternizado através de uma amiga. Surpreendido, Fábio confessa ter ficado “arrepiado” ao ver a fotografia. A imagem correu mundo – houve amigos na Holanda e nos Estados Unidos que o reconheceram ao ver a fotografia na internet ou nos jornais. Hoje, ao regressar ao local onde correu “o maior risco pessoal” da sua vida – embora já tenha estado em situações mais preocupantes para a população – voltou a sentir-se arrepiado por saber que a situação podia ter acabado de forma mais drástica. “Mas todo este risco vale a pena quando no fim do dia nos agradecem.” É esse sentimento de gratidão que faz com que Fábio Almeida não baixe os braços e esteja hoje a concorrer para ser bombeiro profissional, em Viseu.
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Fonte: visao| Jornalista José Pedro Mozos| Fotografia Marcos Borga
idem BPS

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