sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O risco moral da culpa solteira

A venda da Artlant a um grupo tailandês escreve o capítulo final da relação entre a Caixa e o negócio que nela abriu o maior buraco, uma soma astronómica a queimar os 600 milhões. Já as contas com a justiça continuam por fazer.
André  Veríssimo
André Veríssimo 09 de novembro de 2017 às 23:00
Era projecto PIN (Potencial Interesse Nacional) quando a obra arrancou em 2008, passou a empresa em PER (Plano Especial de Revitalização) em 2015, e foi declarada insolvente em 2017. É o caso mais significativo de como a intervenção política (José Sócrates era primeiro-ministro, Carlos Santos Ferreira, o presidente executivo do banco, e Armando Vara, administrador) terá custado milhões ao banco e engordado as imparidades que os contribuintes foram chamados a cobrir com a injecção de 4.000 milhões de euros na CGD.

Financiamentos da dimensão do que foi concedido ao projecto petroquímico de Sines fazem-se em consórcio, envolvendo vários bancos. Porque assumiu a Caixa, sozinha, um risco de crédito que mais ninguém quis?

A comissão de inquérito à gestão da Caixa entre 2000 e 2015 teve o vergonhoso desfecho que se conhece, sem um relatório final aprovado e conclusões que, tirando a referência a pressões políticas, se resumem à verdade conveniente de que tudo não passou de uma inevitabilidade da crise financeira.

O ruído em torno do banco público pode ter baixado. Mas não a suspeita sobre o que ocorreu. Ficou uma mancha, uma sombra, que só uma clarificação credível pode afastar.

Neste, como noutros casos, não podemos correr o risco moral da culpa solteira. Porque esse é um perigoso e poderoso incentivo para que possa voltar a acontecer, na mesma ou noutra instituição.

Espera-se que a auditoria à gestão entre 2000 e 2015, a cargo da EY, que era para estar pronta até Agosto e deverá ser conhecida até final do ano, venha a ser mais esclarecedora. Assim como a investigação em curso no Ministério Público.


Os 28 milhões que a Indorama Ventures paga pela Artlant não são consolo para um empréstimo de perto de 600 milhões, que já tinha sido todo provisionado: valia zero no balanço. Mas é-o Paulo Macedo ter conseguido encontrar um comprador disposto a investir mais de 100 milhões de euros na viabilização da fábrica, assegurando cerca de 100 postos de trabalho.

O esqueleto saiu enfim do armário das imparidades, espera-se que desta feita com um futuro de carne e osso pela frente. As responsabilidades, essas, continuam debaixo do tapete.

Fonte: Jornal de Negócios

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