quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Desculpas (ou como viver com peso na consciência)

P
 
 
Enquanto Dormia
 
David Dinis, Director
 
Bom dia!
Vamos às últimas notícias:  

Um braço-de-ferro. Rajoy e o PSOE ofereceram a Puigdemont uma solução, não o destituindo se aceitasse convocar eleições na região. Mas Puigdemont respondeu esta manhã: não fala de eleições e ameaça com a independência se o Madrid não negociar. Chama-se a isto um beco sem saída.
Uma ponte para recuar. É o que os líderes europeus vão hoje oferecer a Theresa May: recusando a proposta de alargar as negociações do Brexit, a UE acha que seria mau fragilizar ainda mais a chefe de Governo britânica. Chama-se a isto um recuo sensato.
Um primeiro-ministro em lágrimas. Gord Downie, músico canadiano e vocalista da banda Tragically Hip, não resistiu a um tumor cerebral terminal, que lhe foi diagnosticado em 2015 e acabou por morrer, esta terça-feira, aos 53 anos. O primeiro-ministro Justin Trudeau, ao reagir à notícia, recordou o seu “amigo” eacabou emocionado. Chama-se a isto sinceridade.
Um pedido de desculpas. Foi o que fez a revista Les Inrockuptibles, num acto sincero de contrição por ter dado a capa ao cantor que matou a actriz Marie Trintignant. Chama-se a isto humildade.
Mais um pedido de desculpas. O do jovem Svilar, guarda-redes do Benfica, cujo erro fez o Benfica perder o jogo de ontem, contra o Manchester United (uma derrotaa juntar à do Sporting, em cima do apito final). No Estádio da Luz, o público aplaudiu o jogador, a equipa apoiou-o e o jornal A Bola dá o veredicto na capa de hoje: "Desculpado". 
Agora reveja a sequência de notícias em cima. E diga lá que não é um bocadinho diferente de dizer assim: "Se quer ouvir um pedido de desculpas, eu peço desculpas". Pois. É isso. Vamos lá ao tema.

O que marca o dia

António Costa não pediu desculpas, desculpou-se. Mas fez ao que podemos chamar uma total inversão de marcha. Depois de ouvir o Presidente, cedeu em todos os pontos do caderno de encargos: remodelação, pagamento de indemnizações às vítimas e reforço de verbas no OE2018 para a reforma do combate aos fogos.
Forçado a fazer uma remodelaçãoo primeiro-ministro recorreu a dois amigos, mas colocando no MAI Eduardo Cabrita, um peso pesado do PS, da sua inteira confiança, que lhe diminui os riscos de derrocada.
Na Assembleia, Costa não teve bons amigosA esquerda não saiu em sua defesa, culpou o Estado pelo acontecido, cumpriu apenas o papel de atacar a direita pela moção de censura que será votada na próxima semana. 
E a censura não acabou. Numa entrevista ao PÚBLICO e Renascença, o líder parlamentar do CDS aponta o dedo ao primeiro-ministro: “Costa tem cometido erros políticos graves que custaram vidas”.
De resto, até os amigos avisam. Amigos como Helena Roseta, deputada do PS, que hoje escreve quase uma carta aberta ao primeiro-ministro, com o título seguinte:"É preciso merecer o poder que se tem".
O que sabemos hoje é istoo número de mortes já subiu para 42, os prejuízos de domingo vão superar os de Pedrógão Grande, a área ardida deste ano já é a pior de sempre. E este registo só não é pior porque Eduardo levou o autocarro pelo “túnel de chamas” e salvou 48 pessoas.
Costa ficou sem um pára-raios. Porque Constança ficou desfeita e apresentou uma demissão com estrondo (como raras vezes vimos, sempre com efeitos disseminados).
Costa ficou sem um escudo. Porque o Presidente esticou a corda e fez um discurso para virar a história - e nós sabemos o que aconteceu já quando os presidentes quiseram fazer história.
Em síntese, Costa ficou por conta própria. "Foi no que deu o focus group", digo eu no Editorial). E vai começar do zero. Já com um ministro no MAI, com medidas na segunda-feira, com o apoio da esquerda na próxima semana. Mas já sem margem para falhar.

Outras notícias importantes

Sócrates terá usado ex-ministros em crimes de corrupção no TGVentre os quais uma actual ministra. É a notícia que faz a nossa manchete de hoje.
Tancos: a descoberta das armas não permitiu identificar suspeitos.O inquérito prossegue.
A guerra pela compra da TVI aqueceu. Depois dos alertas da ERC sobre a compra da Media Capital, a Altice diz-se disponível para ajudar a Autoridade da Concorrência a aprovar a operação, mas não explica como. E acusa a concorrência de instrumentalizar os órgãos de comunicação social. Já Carlos Magno, o presidente da ERC, fez esta declaração de voto.
O Novo Banco vai manter a administração, ou pelo menos o actual presidente, e sem representantes do Fundo de Resolução. O Negócios de hoje acrescenta que o nome do banco também não muda.
Do Estado também quase ninguém sai. As reformas antecipadas caíram 75% em 2016 - e as penalizações subiram fortemente.

Uma pausa para ler... 

Outras leituras do PÚBLICO, para fazer o dia melhor:
1. “Os EUA têm um carro de combate, os europeus 17. Mihnea Motoc, conselheiro de Jean-Claude Juncker para a política de segurança e defesa, passou por Lisboa numa ronda pelas capitais europeias, para avaliar a vontade de cada um. À conversa com a Teresa de Sousa, diz que a defesa é uma prioridade europeia e insiste que precisamos de ter uma União Europeia de Defesa em 2025. As propostas estão preparadas. Tudo depende dos Estados-membros. A discussão começa na cimeira de hoje, em Bruxelas. Eis os argumentos.
2. Doclisboa, dez dias de aventuras em 'rally paper'. A 15ª edição do festival começa hoje e não abranda até dia 29, diz o Jorge Mourinha, "com um programa riquíssimo que vai tornar difícil a escolha entre o cinema do Quebeque, Grace Jones, a selva de Calais e Al Gore". Aqui fica o guia. Difícil é escolher.
3. A corrida mais louca de Astérix. É o 37º volume das aventuras dele, de Obélix e restantes gauleses. Chama-se Astérix e a Transitálica e delicia-nos com uma corrida que atravessa Itália num plano aprovado por César para atestar a superioridade das vias romanas. Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, argumentista e desenhador, dizem que é um regresso paródico ao ambiente de filmes dos anos 70, como Mad Max ou A Corrida Mais Louca do Mundo. O Rodrigo Nogueira falou com eles e antecipa-nos a primeira tira. Preparado? 3, 2, 1 ....

Agenda do dia

Já lhe disse que é dia de decisões difíceis na Catalunha. E que em Bruxelas se discutirá o Brexit, assim como a segurança interna, numa cimeira de líderes.
Por cá, os incêndios continuarão a marcar a agenda, com o ministro Pedro Marques a fazer caminho no levantamento dos prejuízos do fim-de-semana. Há também Doclisboa, assim como o início do Festival Literário Internacional de Óbidos, em torno das "Revoluções, revoltas e rebeldias".
No mundo desportivo, há sorteio da Taça de Portugal. E dois jogos europeus de Braga e Vitória de Guimarães, jogando contra o Ludogorets e Marselha, respectivamente.
Pelo caminho, deixo-lhe uma ideia da McDonald's que, subitamente, me pareceu apetitosa. Chama-se "Phone off. Fun on.". O P3 traduziu-a para "fecha o teu telefone à chave e aprecia a refeição". Tendo em conta a loucura dos últimos dias, acho que vou tentar.
Já agora, um pedido: amanhã a minha filha faz anos e eu prometi levá-la à escola. Se me dispensar só por um dia, eu prometo voltar fresco já na segunda-feira. A equipa do PÚBLICO continuará por aqui, para lhe contar tudo em detalhe.
Tenha um feliz. E produtivo, que já também ajuda.
Até já!

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