terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Perfil | Morreu o Coronel Varela Gomes


Militar, antifascista e revolucionário até ao fim.O militar esteve ligado ao golpe de Beja (1961)

O coronel João Varela Gomes, que morreu na segunda-feira aos 93 anos, foi ator do golpe de Beja contra o fascismo, um militar de Abril e um dos últimos a depor armas no 25 de Novembro, no fim da revolução.

Polémico e frontal, protagonizou uma das tentativas de derrube do regime fascista, no primeiro dia do ano de 1962, com o assalto ao quartel de Beja, em que ficou gravemente ferido.

Nessa altura, como disse numa entrevista à RTP, em 1975, acreditava que "o fascismo tinha os dias contados", mas teve de esperar mais 12 anos, para o derrube da ditadura, iniciada por Salazar e continuada por Marcelo Caetano.

Em 1964, foi julgado pelo tribunal plenário e fez um discurso contra a ditadura, e com ecos na imprensa estrangeira, quando disse a frase "Outros triunfem onde nós fomos vencidos" para salvação da "Pátria bem-amada".

Depois do 25 de Abril de 1974, o golpe que se transformou em Revolução dos Cravos, foi reintegrado no Exército e uma das figuras centrais da 5.ª Divisão, dependente do Estado Maior das Forças Armadas e encarregada de organizar as campanhas de dinamização cultural, associada à chamada "esquerda militar" e à extrema-esquerda.

Varela Gomes e a 5.ª Divisão tiveram papel ativo na derrota do golpe de 11 de março de 1975, ligado à direita e António de Spínola, o general que foi o primeiro Presidente após o 25 de Abril.

Depois do ataque de paraquedistas de Tancos contra o Ralis, em Lisboa, e de pedir ação da Presidência da República, Varela Gomes decidiu enviar uma mensagem a todas as unidades, apelando à resistência.

A atitude valeu-lhe a acusação de "usurpação de funções", que o próprio, em entrevista à RTP, em 2015, explicou como uma usurpação revolucionária".

Em 1975, esteve duas semanas em visita a Cuba, encontrando-se, também por duas vezes, com o líder cubano, Fidel Castro, e o seu irmão Raul.

Nesse ano, dá-se o 25 de Novembro, o movimento militar de 1975 que significou o princípio do fim da revolução e que a "esquerda militar" e PCP consideram a "contra-revolução".

João Varela Gomes é dos últimos a abandonar a defesa dos "revolucionários" no terreno, o que levou o jornal norte-americano The New York Times a associá-lo à revolta dos paraquedistas, como recordou António Louçã, autor da biografia "Varela Gomes: "que outros triunfem onde nós fomos vencidos".

Do Copcon (Comando Operacional do Continente), dirigido pelo estratega do 25 de Abril Otelo Saraiva de Carvalho, ainda tentou contactar várias unidades militares para saber se ainda iriam resistir.

No entanto, ganha o grupo dos nove, os "moderados", e Varela Gomes, que vive na clandestinidade até janeiro de 1976, viveu, então, quatro anos, no exílio. Foge para Espanha, Cuba e depois vive em Angola.

Regressa em 1979, antes mesmo de ser promulgada uma lei de amnistia e surgiu, nos anos 80, associado à tentativa de uma candidatura da esquerda a eleições, europeias e autárquicas.

Até ao fim, manteve opiniões polémicas, sobre a democracia portuguesa, por exemplo, que apelida de "democracia filofascista", filha do "25 de Novembro" que, durante anos, quis "descomemorar".

Escreveu vários livros, entre eles "A Contra-revolução de fachada socialista" e "Tempo de Resistência" (1980) e "Esta democracia filofascista" (1999).

João Maria Paulo Varela Gomes nasceu em 24 de maio, em Lisboa, e entrou para a Escola do Exército, em 1943, cursando em Artilharia.

Fonte: DN


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