A
Assembleia Municipal de Cantanhede aprovou, por unanimidade, um voto
de pesar pelo falecimento, em 18 de abril, do médico Fernando
Santos, aos 88 anos,
invocando
para o efeito “o
valor da sua atividade profissional e da
sua intervenção cívica, cultural, social e política, bem como “a
perda que o seu falecimento representa para o universo literário e
intelectual do concelho de Cantanhede”.
O
despacho da presidente da Câmara Municipal submetido a votação no
plenário de 26 de abril refere que “quem
teve o privilégio de conhecer o Dr. Fernando Santos reconhece-lhe a
irrepreensível conduta, sempre com grande profissionalismo,
elevação, dignidade e respeito pelos valores democráticos,
tendo-se destacado ainda por uma intervenção cívica, politica e
cultural particularmente ativa”.
Fernando
Rodrigues dos Santos nasceu a 2 de dezembro de 1929, na pequena
cidade brasileira de Pinheiro, no Estado do Maranhão, onde o pai,
oriundo de Covões, era responsável por uma das herdades de um tio.
Veio para Cantanhede muito cedo e aqui fixou residência. Estudou
Medicina em Coimbra, tendo terminado o curso em 1953, ano em que
começou a exercer a profissão na freguesia de Febres.
Durante
mais de 60 anos, exerceu medicina quase exclusivamente no Concelho de
Cantanhede – esteve fora apenas dois anos e meio como clínico
militar. Foi médico de várias gerações de gandareses, numa vida
dedicada, sem renúncias, à sua região da Gândara, e assumiu
vários cargos relacionados com a sua profissão, entre os quais
diretor do Hospital Distrital de Cantanhede durante várias décadas,
Presidente da Assembleia Geral da Ordem dos Médicos do Distrito de
Coimbra, Diretor Interino de um Hospital Militar nas guerras
coloniais, dirigente da Extensão de Saúde de Febres, chefe dos
cuidados personalizados do Centro de Saúde de Cantanhede e médico
desportivo.
Depois
da Revolução do 25 de Abril teve assinalável intervenção cívica
e política e desempenhou o cargo de Vereador da Câmara Municipal.
Habitou
durante muitos anos a casa onde Carlos de Oliveira escreveu parte da
sua obra, privou de perto com o escritor de “Uma Abelha na Chuva”,
de quem falava com particular emoção “pelo exemplo no rigor e
arte da escrita, mas também pela forma exemplar com que cantou esta
nossa (sub)região da Gândara”.
O
médico Cândido Ferreira assinala essa ligação reconhecendo ao Dr.
Fernando Santos, sob o pseudónimo de Ferro Santos “um hábil
manejo da palavra falada”, “uma cultura profunda, uma imaginação
prodigiosa e uma sensibilidade à altura do seu desempenho
profissional, oferecendo-nos algumas das mais saborosas e brilhantes
páginas que os médicos portugueses nos legaram.” Cândido
Ferreira, 2006 (Histórias da Arca do Velho).
O
Dr. Cidalino Madaleno, por seu lado, refere-se à veia literária do
Dr. Fernando Santos caracterizando-o como “psicólogo arguto,
contando com a experiência de mais de meio século no exercício do
sacerdócio médico – atividade que lhe permitiu ser espectador
privilegiado das grandezas exteriores e das misérias interiores –
Ferro Santos escreve a Gândara profunda com a mesma naturalidade com
que respira.” Cidalino Madaleno (prefácio de Pedras Bárbaras)
A
obra de Ferro Santos é constituída por vários livros, entre os
quais “Contos do meu rosário” - Febres - Gira Sol, 2003;
“Diversos versos e anversos” - Cantanhede - Lions Clube de
Cantanhede, 2004; “Histórias da arca do velho” - Febres - Gira
Sol, 2006; “Vinte e dois contos de reis” - Febres; Gira Sol,
2008; “Pedras Bárbaras” - Febres - Gira Sol, 2011; “Parece”-
Febres – 2012; “Contos a Descoberto” - Febres, 2015.
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