Milhares de lusodescendentes celebraram o Dia de Portugal nos EUA. Presidente e primeiro-ministro tomaram banhos de multidão e colocaram os serviços de segurança em polvorosa.
"Deixem os homens falarem connosco!". Este foi um dos muitos apelos escutados no caótico banho de multidão de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa na praça do município de Boston, nos Estados Unidos da América.
No tiro de partida para a comemoração do Dia de Portugal, a comitiva, vinda dos Açores, chegou com uma hora de atraso em relação ao previsto, mas isso não demoveu a comunidade lusa que ali participava no festival português em Boston - uma celebração da cultura portuguesa e do papel da comunidade na sociedade norte-americana.,
Não há números oficiais, mas terão sido vários milhares de pessoas a concentrarem-se em frente ao City Hall, numa festa que envolveu petiscos, música folclórica e popular, ranchos, e, no final, os discursos de Costa e Marcelo.
O primeiro-ministro, que falou em português e inglês, arrancou aplausos entusiásticos quando afirmou que a comunidade lusodescendente já demonstrou, "com esforço e trabalho", ter conquistado "o direito a ter duas pátrias". "Podem por isso ser bons americanos sem deixarem de ser excelentes portugueses".
Mas os aplausos mais fortes estavam reservados para Marcelo, que não perdeu tempo a dizer ao que vinha: "Os Estados Unidos da América são um grande país, mas Portugal ainda é maior. Temos o maior país do mundo", afirmou ao som de aplausos prolongados.
Marcelo, que pediu "o favor de torcerem por Portugal no Campeonato Mundial de Futebol" que está mesmo ao virar da esquina, terminou o discurso em apoteose: "Viva a cidade de Boston e o Estado de Massachusetts, viva os Estados Unidos da América, mas sobretudo viva o mais importante: viva Portugal".
Logo de seguida, Marcelo fez o que Marcelo sabe fazer melhor: mergulhou na multidão, perante o visível nervosismo das forças de segurança norte-americanas, pouco habituadas a lidar com situações deste tipo. Foram muitas dezenas de abraços, pares de beijinhos e selfies que Marcelo, acompanhado por Costa, ofereceram num percurso feito no meio da comunidade.
Os agentes da autoridade - primeiro, pacientemente e depois com menos paciência - afastavam os braços que abraçavam o Presidente e o primeiro-ministro e os microfones que os tentavam ouvir, mas sem grande efeito: eram eles próprios que os procuravam e os agentes pouco podiam fazer. Ao ponto de um dos polícias começar a incentivar o contacto - depois de escutar uma criança de três ou quatro anos gritar "Portugal", o agente disse-lhe: "Chama o presidente! Pode ser que ele te diga 'olá!'".
Tochas flutuantes para comemorar a comunidade lusa
Marcelo e Costa seguiram do banho de multidão de Boston diretamente para a carrinha que os levou a Providence, capital do Estado de Rhode Island, aquele em que a população portuguesa é, em proporção, maior, e onde participaram no evento WaterFire, uma celebração artística e de cultura popular que todos os anos é dedicada a um tema diferente. O tema deste ano? Portugal.
O evento, que homenageou as personalidades que mais se distinguiram na promoção da comunidade lusa, consiste em acender 18 tochas flutuantes no rio que atravessa a cidade, uma por cada homenageado. Marcelo e Costa acenderam, cada um, uma tocha na cerimónia, de grande efeito visual, que durou cerca de meia hora, e seguiram, de tocha acesa, para o evento seguinte, onde todas as chamas foram unidas numa só: a "chama da portugalidade", que ardeu enquanto Presidente da República e primeiro-ministro se dirigiram mais uma vez à comunidade.
"Fazemos a paz, não a guerra"
No palco, diante da "chama da portugalidade", Marcelo e Costa foram recebidos e antecedidos nos discursos pelo mayor (presidente da Câmara) de Providence, Jorge Elorza, e pela governadora do Estado de Rhode Island, Gina Raimondo. Ambos teceram elogios rasgados à comunidade lusodescendente, e ambos a comemoraram com atos: o mayor ofereceu a Marcelo a chave da cidade, e a governadora anunciou a criação de uma matrícula automóvel especial de comemoração do dia de Portugal em Rhode Island - os americanos levam muito a sério o tema das matrículas.
Foram temas que Marcelo não deixou passar em claro no discurso improvisado: perguntou à governadora como podia tirar uma dessas matrículas, para poder ter uma quando regressar ao local e poder conduzir; e produziu as gargalhadas da noite quando ao reparar que o mayor já tinha abandonado a cerimónia. "Ele foi-se embora e levou a minha chave!", exclamou p Presidente, provocando risos prolongados na assistência de muitas centenas e outros mais contidos em quem com ele partilhava o palco, incluindo o primeiro-ministro.
À saída do palco, Costa e Marcelo receberam novo banho de multidão, mais umas dezenas muito largas de selfies, abraços e pares de beijinhos.
Uma proximidade que impressionou quem assistia. "O Presidente é um de nós", dizia Carlos Couto, açoriano emigrante nos Estados Unidos há meio século. A proximidade cde Marcelo com a comunidade não o deixou indiferente: "Ele vive normalmente, e não tem peneiras".
Hugo Neutel / TSF
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