Relatório alerta que nenhuma razão médica pode explicar tamanha diferença. Cesarianas agravam riscos para mães e filhos.
Os serviços de saúde privados têm uma taxa de cesarianas que é o dobro da que se regista nos serviços públicos. O alerta é do relatório anual do Observatório Português dos Sistemas de Saúde que reúne especialistas de várias universidades.
O documento fala numa crise nos cuidados hospitalares, de uma Lei da Saúde Pública que ainda não foi aprovada e de Cuidados de Saúde Primários com carências estruturais, mas também alerta para problemas nos primeiros tempos de vida.
Portugal está entre os três países da Europa com mais cesarianas em comparação com os partos normais.
O porta-voz do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, Henrique Barros, explica que chegaram a números que mostram que a taxa de cesarianas tem descido, mas é o dobro no privado.
Em 2015, últimos números disponíveis, 27,6% dos partos no público foram por cesariana, mas no privado a taxa chegou aos 63,4%. O relatório destaca que esta é uma diferença que "nenhuma regra de boas práticas ou combinação de risco pode explicar".
Henrique Barros acrescenta que as grávidas dos serviços privados até deviam ter menos complicações do que quem vai para os hospitais públicos que por vezes até recebem os casos mais difíceis.
O investigador e professor catedrático de medicina admite que esta enorme diferença entre público e privado nas cesarianas pode ter na base interesses económicos, mas também questões culturais e formas diferentes de encarar o parto - tudo menos critérios médicos -, numa altura em que se sabe que esta forma de nascer tem riscos para as mães e piora a saúde dos bebés e das futuras crianças e adultos.
"Tem o risco normal de uma intervenção cirúrgica, aumenta a probabilidade de precisar de outra cesariana e riscos de lesões uterinas, além de já se saber que para as crianças agrava o risco de certas doenças e diminui os casos de mães que amamentam algo que está provado que melhora a saúde dos filhos", conclui o professor do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Fonte: TSF
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