terça-feira, 20 de novembro de 2018

À Lupa | Necessidade de uma opinião pública activa

J. Carlos *

É, porque uma sociedade só é digna e saudável quando é animada e servida por uma AUTÊNTICA opinião pública, mais evidente se torna a utilidade de contribuir para a formação dessa opinião, que deve ser rica e variada, no respeito da verdade dos factos e dos critérios morais que os julgam.

Como dizia Pio XII, «exprimir a sua opinião pessoal sobre os deveres e os sacrifícios que lhe são impostos e não poder ser obrigado a obedecer sem ser ouvido, eis dois direitos do cidadão que encontram numa democracia, como o nome o indica, a sua expressão» (1). E também «é preciso criar uma opinião pública que, sem procurar o escândalo, denuncie com franqueza e coragem as pessoas e as circunstâncias que não são conformes às leis e às instituições justas e que escondem o que é verdade» (2); «a opinião pública é, com efeito, o apanágio de toda a sociedade normal composta por homens que, conscientes da sua conduta pessoal e social, estão intimamente comprometidos na comunidade de que são números. Onde não parecesse nenhuma manifestação da opinião pública, onde, sobretudo, fosse necessário verificar a sua real inexistência, qualquer que fosse a razão que explicasse o seu mutismo ou a sua ausência, deveria ver-se aí um vício, uma enfermidade, uma doença da vida social» (3).

«Virtude de harmonia e de equilíbrio entre os excessos do totalitarismo e as desordens da anarquia, que desprezam e esmagam de igual modo o homem, o civismo é a base de uma sociedade forte. Exige que uma livre corrente passe sem cessar entre os membros da comunidade nacional e os seus chefes; aos governantes esta corrente traz a expressão clara e confiante de uma opinião pública amadurecida e informada; aos cidadãos manifesta as disposições de uma ordem procurada para o bem de todos, compreendida e aceite como tal» (4).

E, também, a Igreja não pode tolerar esses «casos em que a opinião pública se cala num mundo em que mesmo a justa liberdade é banida e em que, só a opinião dos partidos no poder, a opinião dos chefes ou dos ditadores é admitida a fazer ouvir a sua voz. Abafar a dos cidadãos, reduzi-la ao silêncio forçado é, aos olhos de qualquer cristão, um atentado ao direito natural do homem, uma violação da ordem do mundo, tal como Deus a estabeleceu» (5).

Resta recordar que, sendo a Imprensa, o principal órgão de expressão da opinião pública, a Igreja afirma o direito de todo o cidadão à informação e à procura da verdade, e exige, como condição moral ao exercício dessa mesma Imprensa, uma justa regulamentação, para evitar que a verdade seja submetida a juízos arbitrários e não independentes.

«Ora no dia em que a Imprensa se coloca ao serviço de um regime político – que é por essência mutável e contingente, deixa de ser imparcial, de estar ao serviço da Verdade.

É certo que ao estado compete vigiar por que não se faça um mau uso dos meios de comunicação social. Acentua-o o Decreto Conciliar. Mas há que evitar cair na tentação de os colocar exclusivamente ao serviço de uma política, o que destruiria a sua imparcialidade e de a tornar dependente de critérios pessoais que comprometerão irremediavelmente a sua liberdade. Só a lei bem clara e quanto possível minuciosa, isto é, dessa liberdade e imparcialidade, que constituem os títulos de nobreza e dignidade da Imprensa. Só assim a Imprensa poderá informar na verdade que forma no Bem» (6).

*Director
Referencias
(1) – Radiomensagem do Natal de 1944 – Pio XII
(2) – Pio XII no 1º. de Maio 1955
(3) – Pio XII , Mensagem ao Congresso Internacional da Imprensa Católica 17/02/1950
(4) – Carta da Secretaria do Estado do Vaticano às Semanas Sociais do Canadá de 1955
(5) – Pio XII, 17/02/1950
(6) – Mons. Eurico Dias Nogueira, Bispo de Vila Cabral, Moçambique, Dezembro de 1964

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