A pandemia
provocada pela COVID19 teve um forte impacto na perceção de
segurança e planos de viagem e turismo dos portugueses.
A conclusão é de um estudo conjunto do Instituto Politécnico de
Viseu (IPV) e da Universidade de Coimbra (UC), feito a partir de
dados recolhidos ao longo dos últimos três meses por questionário
online.
Este estudo, que
abrangeu o período compreendido entre os dias 02 de fevereiro e 02
de maio de 2020, é o primeiro a analisar os efeitos da atual
pandemia na perceção de segurança para viajar no país e no
estrangeiro e para a prática de várias atividades de lazer e
turismo, bem como medo e preocupação relacionados com o contágio e
medidas/restrições com as quais os residentes em território
nacional concordam para se sentirem mais seguros.
Numa primeira
fase, a equipa, constituída por Carla Silva, José Luís Abrantes,
Manuel Reis e Odete Paiva (IPV) e Cláudia Seabra (UC), analisou os
dados totais daqueles vários aspetos. Posteriormente foi feita uma
análise do tipo sondagem para se perceber a mudança de opinião dos
residentes nacionais ao longo do tempo, considerando cinco momentos
marcados por eventos específicos referentes à atual pandemia: 02 de
fevereiro, quando foram confirmados os primeiros casos na Europa
(dois turistas chineses em Itália); 02 de março, dia em que foram
confirmados os primeiros dois casos de infeção em Portugal; 18 de
março, início do primeiro Estado de Emergência; 02 de abril, dia
em que foi decretado o segundo Estado de Emergência; e finalmente o
período entre o decreto do terceiro Estado de Emergência a 18 de
abril e o seu termo em 02 de maio.
Os principais
resultados do estudo, salientam os autores, «mostram
que a atual pandemia tem um impacto significativo na perceção de
segurança dos portugueses para viajar no país e no estrangeiro. Os
residentes nacionais concordam que a segurança é um fator
fundamental para viajar e inclusive é o atributo mais importante
para a escolha de um destino, em termos globais, mas é ainda mais
crucial quando se consideram as viagens internacionais. Os
respondentes consideram que, devido à pandemia, são arriscadas as
viagens para férias, deslocações de trabalho, viagens com a
família ou para visita de amigos e familiares dentro do país. Estas
respostas são ainda mais expressivas para as mesmas viagens no
estrangeiro. Finalmente, consideram que medidas de segurança
adicionais nos aeroportos tornam as viagens mais seguras no país e
no estrangeiro».
Numa análise por idades, todas as gerações - das mais novas às
mais velhas - consideram a segurança como um dos aspetos mais
importantes para viajar. Contudo é a geração mais velha a revelar
uma perceção de risco de viagem mais elevada seja em destinos
nacionais ou em destinos internacionais.
Por outro lado,
este estudo indica que, devido à ameaça do novo coronavírus, os
residentes nacionais sentem-se muito inseguros para praticar
atividades de lazer e turismo. O destaque vai para a ida a casinos ou
locais de diversão noturna que 80% dos respondentes indicam como
atividades muito inseguras. Entre 60% a 80% classificam também como
muito inseguras as visitas a parques temáticos, galerias, museus e
monumentos, centros urbanos e centros históricos; participação em
eventos como concertos, festivais, eventos desportivos ou religiosos;
prática de desportos em espaços fechados; fazer refeições em
restaurantes, ficar em alojamentos hoteleiros, participar em visitas
turísticas ou fazer compras em centros comerciais e mercados.
Já a ida a
praias, rios e lagos é uma atividade menos insegura, segundo os
participantes no estudo. A ida a parques naturais, percursos
pedestres e a prática de desportos de natureza são as únicas
atividades consideradas como relativamente seguras pelos portugueses
no contexto da pandemia. As gerações mais velhas são aquelas que,
tendencialmente, demonstram um maior receio para praticar todas as
atividades de lazer e turismo.
No que se refere
ao medo e preocupação relacionados com o contágio, observou-se que
85% dos inquiridos sentem que cidadãos e turistas poderão ser
vítimas de contágio e que esse receio se aplica a si e aos seus
familiares. Apesar desta preocupação, o nervosismo demonstrado é
moderado, referindo também que sentem pouco ou nenhuma necessidade
de informação adicional sobre medidas de proteção em relação à
COVID19. Finalmente, cerca de 50% dos respondentes afirmam que vão
mudar vários aspetos da sua vida e rotinas quotidianas por causa da
doença, mas no que concerne aos planos de férias e viagens a
percentagem sobe para 65%. Num retrato geracional esses receios são
mais vincados na geração mais velha, sendo que a geração com
idades entre os 40 e os 65 anos sente maior necessidade de informação
adicional para se proteger de contágio do que as gerações mais
novas.
Foi igualmente
questionado quais as medidas/restrições com as quais os residentes
nacionais estavam de acordo. Os resultados indicam que,
independentemente da faixa etária, os portugueses são unânimes
sobre a obrigação de quarentena para os casos diagnosticados (95%)
e um maior controlo das fronteiras (86%). É também elevada a
concordância com as limitações não só em Portugal como em todos
os países para a entrada de estrangeiros, principalmente de zonas
afetadas pela doença (62%-64%). As respostas são mais moderadas na
aceitação de medidas mais impositivas como fecho total de
fronteiras (53,5%) ou obrigação de todos os cidadãos serem
examinados por equipas médicas (52,5%).
Quanto ao
repatriamento, os respondentes são mais concordantes quando a medida
é aplicada a cidadãos portugueses no estrangeiro (49%) do que a
cidadãos estrangeiros em Portugal, já que 39% dos participantes do
estudo discordam até desta medida. No que respeita à possibilidade
de forças de segurança pararem pessoas aleatoriamente nas ruas para
serem examinadas, a discordância é maior com quase 40% dos
participantes a afirmarem a sua opinião contra, 34% a favor e 26%
neutra.
A avaliação das
respostas nos cinco períodos temporais já referidos indicam que o
medo de viajar pelos residentes nacionais aumentou progressivamente,
a cada período estudado, tal como o medo de contágio em termos
pessoais e familiares. Na vigência do 3º Estado de Emergência, os
portugueses sentiram, contudo, ser menos arriscado viajar,
principalmente dentro do país. Paralelamente, a importância
atribuída à segurança foi aumentando, atingindo os valores mais
elevados no último período, sobretudo para as viagens
internacionais. No início da investigação, viajar com a família
era considerado seguro ou muito seguro, sobretudo em Portugal. Esta
perceção diminuiu drasticamente ao longo do tempo, tendo também
diminuído a diferença entre fazê-lo em Portugal ou no estrangeiro.
Quanto à
perceção de segurança para a prática de atividades de lazer e
turismo, esta atingiu os níveis mais baixos durante o 1º Estado de
Emergência. No período seguinte, entre 2 e 17 de abril, regista-se
uma melhoria na perceção de segurança, em todas as atividades
avaliadas, embora com crescimento diferenciado. O último período
avaliado, de 18 de abril a 2 de maio, apresenta resultados díspares.
Atividades como visitas a parques temáticos, galerias, museus e
monumentos, centros urbanos e centros históricos; ida a praias, rios
e lagos mantêm a tendência de crescimento na perceção de
segurança.
Neste grupo,
merece especial destaque a ida a parques naturais, percursos
pedestres e a prática de desportos de natureza, por serem as
atividades consideradas mais seguras, apresentando valores muitos
próximos dos que se verificavam antes dos primeiros casos de Covid19
em Portugal. Atividades como participar em eventos, concertos e
festivais; fazer compras em centros comerciais e mercados e ficar em
alojamentos hoteleiros mostram uma estagnação na perceção de
segurança, sendo esta negativa.
Por fim, surge um
conjunto de atividades em que, depois de uma subida na perceção de
segurança durante o 2º Estado de Emergência, voltou a diminuir
durante o período seguinte, como são a frequência de restaurantes,
casinos e discotecas, ida a locais e eventos religiosos, a prática
de desportos em espaços fechados e a participação em visitas
turísticas organizadas. De referir que a necessidade de informação
para se poder proteger do coronavírus era inicialmente de 52%,
baixando no último período do estudo para cerca de 30%.
As conclusões
desta investigação, «além
de contribuírem para se perceber melhor como a atual pandemia está
a influenciar a vida quotidiana dos portugueses e os seus planos de
lazer e viagem, chamam a atenção para vários aspetos muito
importantes, tais como o nível de segurança sentido para viajar
dentro e fora do país e sua evolução ao longo do tempo, mostrando
que as viagens domésticas foram consideradas como menos arriscadas
ao longo do tempo; e quais as atividades de lazer e turismo que os
portugueses consideram mais seguras, destacando-se claramente a
prática de turismo de natureza»
consideram os autores.
«As
gerações mais velhas são quem mostra mais receios, pelo que este
segmento de mercado será aquele que precisará de mais tempo para
recuperar a confiança para viajar. Já no que respeita às
restrições e medidas de segurança, os portugueses aceitam as
medidas impostas pelo Governo, contudo, não concordam com medidas
mais impositivas»,
acrescentam.
Este estudo, que
envolve o Centro de Investigação em Serviços Digitais (CISeD) do
IPV e o Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território
(CEGOT) da UC, está ainda a decorrer e permitirá num futuro próximo
apurar os impactos da COVID19 não só em Portugal como também
noutras regiões do mundo. Os autores obtiveram até ao momento,
respostas de residentes em 74 países nos cinco continentes, alguns
dos quais importantes mercados emissores para Portugal. O
questionário, disponível
em 21 línguas, pode ser consultado e respondido em:
http://estatisticas.estgv.ipv.pt/index.php/823712?newtest=Y&lang=pt.
Recolha de dados
e perfil da amostra:
Este
estudo baseia-se numa amostra não restrita obtida a partir de um
questionário online partilhado nas redes sociais. O trabalho de
campo decorreu entre os dias 02 de fevereiro e 02 de maio de 2020. O
Universo do estudo é constituído por indivíduos de ambos os sexos,
residentes no território nacional com 18 anos ou mais. Foram obtidas
1010 respostas válidas. Os respondentes tinham as seguintes
características: i) Género: 70,3% mulheres e 29,7% homens; ii)
Idade: 25,5% idades compreendidas entre os 18 anos e os 24 anos;
30,3% entre os 25 anos e os 40 anos; 31,3% entre os 41 anos e os 55
anos; e 12,9% têm mais de 55 anos; iii) Nível de escolaridade:
87,6% têm estudos superiores, os restantes 12,4% têm estudos até
ao 12º ano; iv) Grupo Ocupacional: 4,7% Empresário(a) em nome
individual, 7,3% Profissional liberal, 41,8% são Quadro
médio/superior, 10,8% Funcionário(a) comercial ou administrativo,
2% são Operário(a)s, 3,1% Pensionista/Reformado(a), 2,1%
Doméstica/Desempregado(a) e 28,3% Estudantes. 58,1% dos inquiridos
fizeram até 5 viagens internacionais nos últimos 3 anos, 24,8%
fizeram entre 5 e 10 viagens e os restantes 17,1% fizeram mais de 10
viagens.
Cristina
Pinto
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