segunda-feira, 2 de outubro de 2023

MUNICÍPIO DE SILVES NO XXVI CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS PORTUGUESES (ANMP)

 O Congresso decorreu ontem, na Amora, e contou com a presença da Presidente da Câmara Municipal de Silves.
«Poder Local, o Mais Próximo das Pessoas» foi a frase que serviu de mote para o XXVI Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), que se realizou no Pavilhão Municipal Cidade de Amora, no Seixal. Nesta edição fomentou-se o debate sobre questões subordinadas aos  temas: Autonomia e a descentralização; Um país mais coeso e Financiamento local.
A Presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, presente no congresso, interveio no âmbito do primeiro tema da autonomia e descentralização, refletindo sobre desafio da regionalização.
Além de representantes do Poder Local de todo o país, marcaram presença na intervenção inaugural do evento o Primeiro-Ministro, António Costa e o Presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e a Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa presidiram ao encerramento do XXVI Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
 
DISCURSO DA PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SILVES POR OCASIÃO DO TEMA | AUTONOMIA E DESCENTRALIZAÇÃO
Caros Colegas Congressistas,
A criação das Regiões Administrativas, constitucionalmente consagradas desde 1976 continua por concretizar.
É consensual que Portugal é um dos países mais centralizados da Europa, senão o primeiro, com graves consequências no desenvolvimento equilibrado do país.
É imperioso uma efetiva descentralização, racionalizar a administração do Estado e dos seus serviços, que não se ultrapassa com soluções baseadas nos limites da desconcentração.
Soluções baseadas em “aperfeiçoamentos” na organização e funcionamento das estruturas desconcentradas do Estado com a ideia de que abrem espaço para a aceitação da Regionalização ou constituem uma fase de teste, carecem de total fundamento. A desconcentração não é só uma antecâmara da descentralização como por si mesma é contrária à descentralização e à sua afirmação.
O que está em causa na Regionalização não é só o cumprimento de um imperativo constitucional para a criação do nível regional na Administração do Estado, é também a criação de um instrumento de combate às desigualdades e assimetrias regionais e de desenvolvimento equilibrado e harmonioso do País e ainda uma possibilidade de aprofundamento da democracia com a participação e o controlo pelas populações das decisões políticas que a elas se dirigem.
Com a Regionalização há três possibilidades que se abrem:
. A possibilidade de definir, ao nível regional, a estratégia de desenvolvimento que se pretende prosseguir em vez de ela ser imposta de fora, a partir do Poder Central e desligada das necessidades das Regiões e das populações;
. A possibilidade de estabelecer prioridades de investimento e mobilizar recursos para o seu cumprimento, tomando essas decisões a partir de órgãos eleitos pelas populações e perante as quais esses órgãos respondem;
. A possibilidade de termos uma efetiva descentralização e uma adequação da administração do Estado e dos seus serviços.
A criação da Regionalização permite o planeamento e execução de medidas dirigidas às necessidades das populações e ao desenvolvimento regional em matérias tão relevantes como a elaboração e execução de planos de desenvolvimento económico de curto e médio prazo, o apoio às atividades produtivas, a definição de prioridades de investimento em vias de comunicação ou equipamentos sociais – sejam lares, creches, equipamentos de apoio a pessoas com deficiência ou outros –, o ordenamento do território e conservação da natureza e de recursos hídricos, a promoção da cultura física e do desporto, a valorização da cultura e do património.
O objetivo da Regionalização implica a consideração de três elementos essenciais de uma política descentralizadora:
. Dar coerência a uma clara delimitação de atribuições e competências entre os vários níveis da administração (central, regional e local);
. Criar condições para uma política de desenvolvimento regional com a ativa participação das autarquias e dos agentes económicos e sociais;
. Garantir a defesa da autonomia do poder local.
Em regra, as objeções que são levantadas contra a Regionalização assentam essencialmente nas ideias de que:
. A dimensão do país não justifica a criação de Regiões;
. Vai aumentar o número de cargos políticos;
. Vai aumentar os encargos com o Estado;
. Vai aumentar a burocracia
Estas razões contra a Regionalização são, na verdade, pretextos com pés de barro de quem não quer Regiões Administrativas.
A realidade que mais se aproxima daquilo que poderá ser o papel das Regiões Administrativas é a das autarquias locais. 
Ninguém se lembra de invocar estes argumentos contra a existência de autarquias locais. E a avaliação que as próprias populações fazem do papel e da resposta que é dada pelas autarquias locais às suas necessidades confirma a falta de sustentação desses pretextos e reforça a necessidade da Regionalização. 
O que defendemos então para que se avance com a Regionalização?
O processo da Regionalização que tem sido consecutivamente rejeitado pelos partidos que hoje aqui se dizem defensores da Regionalização, é um processo simples, célere e objetivo.
Propomos que se inicie com uma consulta às Assembleias Municipais sobre duas propostas de mapas possíveis — uma assente no mapa aprovado na Lei n.º 19/98 e submetida a referendo e uma outra correspondente às cinco regiões-plano hoje coincidentes com as áreas das CCDR.
Após essa consulta a Assembleia da República deve assumir a responsabilidade de aprovar a Lei de Criação das Regiões Administrativas e a proposta de convocação de um referendo, hoje imposto pela Constituição.
Para terminar, resta dizer que no discurso político geral parece que estamos todos de acordo quanto à necessidade da Regionalização, sobretudo em tempo de campanha eleitoral.
A verdade é que ela até hoje não avançou e, neste caso, o diabo não está só nos detalhes ou nas diferenças de opinião quanto ao tempo e ao modo de a concretizar.
A Regionalização é uma questão em que se confrontam diferentes posições dos partidos políticos em relação à matéria mas também diferentes atitudes entre aquilo que alguns partidos fazem em sentido diverso daquilo que dizem.
Adiar a Regionalização em nome do estudo do processo é contrário ao empenho no objetivo.
Atribuir às CCDR responsabilidades de concretização regional das políticas e decisões tomadas pelo Governo central, mantendo-as até sob tutela de membros do Governo, é trocar a Regionalização por formas mais dissimuladas de centralismo.
Recusar a eleição direta dos órgãos das Regiões Administrativas significa recusar às populações a possibilidade de participarem nas decisões das quais vai depender o futuro das suas regiões e retirar-lhes a possibilidade de escrutínio democrático de quem assume aquelas competências.
Tratando de Regionalização, estamos a tratar do desenvolvimento equilibrado e harmonioso do País e esse desenvolvimento não se alcança com a insistência em adiamentos ou entraves à criação em concreto das Regiões Administrativas.
Obrigada pela atenção.
 
Presidente da Câmara Municipal de Silves
Rosa Cristina Gonçalves da Palma
 
XXVI Congresso da ANMP – Amora – 30 de Setembro de 2023

 

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