Diana Paiva,
investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) do Departamento
de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC) identificou e descreveu um novo
género e espécie de fungo microcolonial negro, com potencial para
deteriorar monumentos de pedra.
Denominada
Saxispiralis lemnorum, esta nova espécie foi encontrada no Panteão
dos Lemos, Monumento Nacional localizado em Trofa do Vouga, Águeda,
numa peça de arte fúnebre calcária com sinais de biodeterioração,
e pertence à família Aeminiaceae, descoberta pelo mesmo grupo de
investigação, liderado pelo professor do DCV, António Portugal, em
2019, na Sé Velha de Coimbra. O nome deste novo género é alusivo
ao substrato de onde foi isolado, às suas características
morfológicas peculiares, enquanto o restritivo específico é um
tributo ao monumento onde foi identificado.
À semelhança da
espécie Aeminium ludgeri, a única espécie descrita nesta família
até esta descoberta, «a
nova espécie também se caracteriza pela sua impressionante
capacidade de sobreviver a condições adversas. Os fungos negros são
um grupo ecológico de fungos melanizados que são amplamente
reconhecidos como um dos principais contribuintes para a
biodeterioração de património cultural em pedra»,
revela Diana Paiva.
Como explica a
investigadora do CFE, «estes
fungos possuem notáveis adaptações que lhes permitem tolerar uma
ampla gama de fatores de stress, tais como temperaturas extremas,
doses elevadas de radiação ultravioleta, baixa disponibilidade de
água e nutrientes, altas concentrações de sal e flutuações de
pH, frequentemente encontradas na superfície da pedra. Ao colonizar
rochas, estes fungos podem induzir deterioração química ao
excretar vários tipos de compostos, como por exemplo sideróforos».
No entanto, «o
dano mais significativo resulta da ação mecânica causada pelo
crescimento das suas hifas, que pode levar à erosão, à formação
de pequenas fissuras e também à desagregação de pequenos
fragmentos da pedra, consequentemente, fragilizando o substrato. Além
disso, causam danos estéticos como consequência da produção de
melanina, resultando no aparecimento de manchas negras»,
descreve.
De acordo com a
investigadora, esta descoberta não deve ser encarada de forma
alarmante. «O
objetivo não deve ser tentar erradicar este tipo de fungos, e daí a
importância de estudos como este, mas sim compreender a melhor forma
de minimizar o impacto que têm e, consequentemente, proteger estes
monumentos»,
afirma.
Dado o valor
inestimável que estes monumentos históricos têm, para Diana Paiva
«a
realização de tipo de estudos como este é crucial para a
construção de uma base de informação sobre esta e outras espécies
que colonizam a pedra, que possa ser útil para o estabelecimento de
processos de restauro mais adequados e eficazes para a conservação
do património cultural, podendo auxiliar no controlo do
desenvolvimento destes organismos».
Este trabalho,
desenvolvido no âmbito do seu Doutoramento em Biociências,
«representa
uma contribuição significativa para o entendimento da diversidade
fúngica envolvida na biodeterioração do património em calcário»,
acredita Diana Paiva, revelando ainda que, no Panteão dos Lemos, foi
encontrada uma diversidade muito além das expectativas inicias.
«Estamos
a trabalhar para a descrição de mais sete novas espécies, o que
envolve um trabalho longo e laborioso»,
conclui.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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