sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

DESTRUIR A EXCELÊNCIA…. PORQUE SIM! A falsa integração do Instituto de Odivelas no Colégio Militar



MOA – “Meninas de Odivelas” Associação
Quase cento e dezasseis anos após ter sido fundado, o Instituto de Odivelas é amanhã efectivamente extinto e em cerimónia oficial falsamente integrado no Colégio Militar (CM) na sequência de uma leviana e atabalhoada decisão do ex-Ministro da Defesa Aguiar Branco que tirou vantagem da ignorância, alheamento, temor e subserviência de responsáveis políticos e militares que podiam ou deviam opor-se-lhe. E também do desinteresse (real ou “aconselhado”) da comunicação social que se remeteu ao silêncio face ao que se estava a passar…

O ex-Ministro da Defesa Aguiar Branco e a sua equipa usaram sucessivamente diferentes argumentos para justificar o seu encerramento precipitado e lesivo do interesse nacional, dos direitos das mulheres e da memória da sua luta pelo acesso ao ensino.

Começaram por argumentar que representava um custo excessivo.

Primeira mentira!

Demonstrámos então com dados quantificados que o Instituto de Odivelas é, das três escolas militares, a mais barata e que, para além disso, é a que de longe apresenta a melhor relação investimento/resultados dado o seu desempenho escolar ser incomparavelmente superior ao das restantes duas escolas.

A falácia dos custos cai por terra também quando afinal o Ministério da Defesa não se poupa a gastos para “integrar” o Instituto de Odivelas no CM: 6 milhões de euros na construção parcial do internato feminino para 80 alunas no CM; transporte diário das alunas entre as duas instituições durante um ano; fardas oferecidas às alunas que transitaram para o CM, etc. Tudo providenciado por empresas da área do Porto…. E agora até a Câmara de Odivelas já vem anunciar uma remodelação do Mosteiro - que se encontra em perfeito estado de conservação! - pela “módica” verba de 16 milhões de euros!Convenhamos que os custos nunca foram a verdadeira preocupação do ex-Ministro da Defesa Aguiar Branco.

Assinale-se que dos três colégios, também o Instituto de Odivelas possuía as melhores instalações e manteve-as cuidadosamente ao longo de gerações, bem como ao monumento nacional à sua guarda, e detinha um espólio valiosíssimo cuja salvaguarda se encontra agora em risco pela negligência com que tem estado a ser tratado.

Em seguida argumentaram com a igualdade de género, tendo inclusive a ex-Secretária de Estado da Defesa Berta Cabral vindo para os jornais afirmar que se estava a fazer história!

Segunda mentira!

Não há igualdade quando das três escolas a única que é encerrada é justamente a escola das raparigas. Não há igualdade quando as raparigas são forçadas a integrarem-se num universo onde se perpetua uma visão do Mundo centrada na supremacia masculina. Não há igualdade quando não existe inclusão da diferença. Não há igualdade quando as alunas do CM são obrigadas a viver como rapazes, a vestir-se (*) como rapazes, a aceitar e interiorizar uma cultura masculina, machista e androcêntrica. Não há igualdade quando não há o menor esforço para tratar de forma diferente aquilo que é diferente. Houve e há uma uniformização no masculino.

Forçoso é, pois, de constatar que esta ‘reforma’ não só não se sustenta em qualquer racionalidade económica, pedagógica ou social, como acarreta violação de direitos, disparidades e enormes custos para o erário público, custos estes que ninguém sabe se neste novo quadro terão algum retorno.

Criado em 1900 por um grupo de oficiais do exército para providenciar às órfãs de militares a educação necessária à sua independência económica, numa época em que o direito à educação e ao trabalho não eram sequer reconhecidos às mulheres, o Instituto de Odivelas cumpriu exemplarmente esse papel formando milhares de mulheres portuguesas para o exercício de várias profissões e dando ao país mulheres preparadas para tomar decisões e assumir cargos de responsabilidade em todas as áreas.

Ao longo destes quase cento e dezasseis anos de história, o Instituto de Odivelas sobreviveu a todas as convulsões políticas, nomeadamente a duas guerras mundiais, ao fim da monarquia, à implantação da república, à 1ª república, à ditadura e ao estado novo, à guerra colonial, ao 25 de Abril e ao chamado PREC sem deixar de cumprir o seu papel e assumir as suas responsabilidades para com as mulheres portuguesas.

Aquilo a que hoje assistimos não é uma “integração”, é na realidade a extinção formal e oficial daquela que foi indiscutivelmente a melhor das três escolas militares e uma das melhores escolas portuguesas.

O mérito do Instituto de Odivelas é uma evidência incontroversa que não abona a favor da bondade da decisão do seu encerramento, antes sublinhando o paradoxo que lhe subjaz e a obstinação que o determina.

A MOA, “Meninas de Odivelas” – Associação, repudia veementemente todo este processo, a patente falta de transparência, a falta de apoio das chefias militares, a falta de diálogo com as partes interessadas e a negligência no tratamento do espólio material e histórico do Instituto de Odivelas.

(*) O regulamento de uniformes do exército, que prevê fardas para homens e mulheres, está a ser totalmente desrespeitado no CM e pela cadeia hierárquica responsável - no CM as raparigas vestem-se com as fardas dos rapazes e não têm alternativa!

NB: este assunto é do conhecimento público, essa a razão pela qual o divulgamos aqui neste Blog. No entanto, convém que ao enviar-nos comunicados deste género ou outros, sejam acompanhados com um contacto de alguém com que possamos falar no caso de se tornar-se necessário.
Joaquim Carlos – Editor|Administrador do Litoral Centro
editorlitoralcentro@gmail.com


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