Rui Peralta, Luanda
O Pan-africanismo tornou-se uma questão central não apenas no continente mas no mundo. Todos os seres humanos são africanos de origem e o pan-africanismo, nesse sentido e como reacção contra a opressão é um conceito que origina uma concepção planetária alternativa, a construção de um mundo mais justo. O pan-africanismo refere-se ao mundo e á economia-mundo, ao capitalismo, às oligarquias e classes dominantes, á solidariedade internacional, direitos humanos, democracia, liberdade e justiça social.
Na actualidade questões como a liberdade de expressão em todos os países africanos, a liberdade sindical e dos trabalhadores organizarem-se, a criação de redes cooperativas camponesas, de redes solidárias africanas, o relembrar e recuperar percursos trilhados por revolucionários africanos como Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Thomas Sankara, Mandela e outros, os problemas com que África se debate actualmente, a nível politico, social, económico e cultural, as encruzilhadas do desenvolvimento, o pan-africanismo na actualidade e a necessidade de o dinamizar, constituem importantes reflexões e análises, assim como esboços de estratégias para definir ou redefinir lutas, revindicações e exigências dos povos, objectivos primários e básicos que não chegaram a ser cumpridos por parte dos movimentos de libertação nacional.
Porquê uma África pobre? Como superar os obstáculos ao desenvolvimento? Como aproveitar o manancial e as lições retiradas da luta contra o colonialismo e aplica-las na luta contra o neocolonialismo, o imperialismo e em prol do desenvolvimento integral dos nossos povos, um desenvolvimento que não se resuma ao crescimento do PIB, mas que represente a correlação entre este e o Índice de Desenvolvimento Humano?
A luta centra-se em muitas frentes: politica, social, económica, cultural. A luta pela terra, pelos recursos naturais, pelos direitos, liberdades e garantias, a luta das mulheres pela sua emancipação efectiva, contra as teias culturais do patriarcado, a luta contra todo o tipo de opressão, a luta contra a actualidade neoliberal e alienatória do continente, a lutar pelo aprofundamento democrático do nosso continente, são lutas constantes e que podem definir o futuro de África.
Neste contexto assume uma importância fundamental o relacionamento e a troca de experiências com o continente americano, em particular com a América-Latina e o Caribe. A América Latina foi um laboratório do neoliberalismo, implementado nos solos ensanguentados pelas ditaduras militares e pelas oligarquias latino-americanas. Ao contrário, o desejo efectivo de emancipação, os grandes projectos emancipadores do subcontinente sul e centro-americano são uma herança de África, dos povos africanos que foram para esta região, escravizados e que se revoltaram contra a escravatura e revindicaram a sua terra. Esta é a origem dos grandes movimentos sociais e políticos latino-americanos, como os movimentos bolivarianos, ou o Movimento dos Sem-Terra no Brasil. Esta é a origem da Revolução Cubana e dos ideários do Che (um exemplo da dinâmica planetária de África é a presença de Che em todo o continente e o seu combate no Congo e a presença cubana em Angola e Etiópia), ou do Exército Zapatista de Libertação Nacional do México.
África, o pan-africanismo, estão por detrás de Chaves, Lula, Evo, assim como os trabalhadores venezuelanos foram e são a muralha bolivariana da Venezuela, os Sem-Terra viabilizam uma alternativa para o Brasil, e trabalhadores mineiros são um alicerce da Bolívia de hoje. Este e outros exemplos de toda a América, do Norte ao Sul (as grandes lutas sindicais nos USA e Canadá, a luta pelos direitos cívicos nos USA, as figuras de Martin Luther King e de Malcom X) são processos de luta construídos pelos povos e intimamente ligados (parte integrante) de África.
A integração dos países latino-americanos ao nível do MERCOSUR, da ALBA, da UNASUR e da CELAC são factores importantes para a unidade e integração do continente africano. Os passos dados pela integração no continente americano são experiências e lições para a unidade africana. Lições para África também são as ofensivas contra os governos democráticos e legítimos, através de “golpes brandos” (como nas Honduras e Paraguai) de “golpes de Estado sem recorrer ao golpe militar”, a utilização da guerra económica para provocar “revoluções primaveris e coloridas”, golpes em que as baionetas são substituídas pela extrapolação do Poder Judicial e do Poder legislativo (golpes palacianos) e dos quase-oligopólios (monopólios fortemente cartelizados e com grande concentração de capital) da comunicação social (Venezuela e Brasil).
Os atentados á democracia na América são atentados á unidade e ao desenvolvimento da África democrática e progressista. Os povos de ambos os continentes têm um longo Passado, comum, de luta contra a escravatura e a opressão, o colonialismo e o imperialismo. Que construamos, juntos, o Futuro.
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