A
Comissão Europeia poderá tomar hoje uma posição, em Estrasburgo, sobre os
Procedimentos por Défice Excessivo (PDE) a Portugal e Espanha, cerca de mês e
meio após ter adiado uma decisão sobre eventuais e inéditas sanções aos dois
países.
Com
a União Europeia e a própria Comissão Europeia divididas sobre a aplicação de
sanções a dois países que passaram por programas de assistência financeira, e num
contexto já particularmente conturbado na sequência da saída do Reino Unido da
UE decidido no referendo de 23 de Junho último, o Governo português tem
insistido que uma punição por uma falha do passado já impossível de corrigir
seria uma injustiça e garante que não tomará medidas adicionais, prometendo
lutar "até ao último minuto".
A
18 de Maio passado, o executivo comunitário liderado por Jean-Claude Juncker,
dividido sobre as medidas a adotar por Espanha e Portugal terem falhado as
metas do défice em 2015, adiou para "o início de Julho" uma decisão,
alegando também motivações políticas -- designadamente a realização de eleições
legislativas em Espanha no final de junho -, esperando-se agora que assuma uma
posição, na reunião do colégio prevista para Estrasburgo, França, à margem de
uma sessão plenária do Parlamento Europeu.
Em
cima da mesa há várias hipóteses, uma das quais -- noticiada durante o fim de
semana por vários órgãos de comunicação social, citando a Reuters -- a de novo
adiamento: segundo fontes ligadas ao processo, a Comissão estaria na disposição
de dar mais três semanas a Portugal e Espanha para proporem medidas de correção
do défice e evitarem desse modo sanções.
De
acordo com as mesmas fontes, o executivo comunitário vai apontar que tanto
Portugal como Espanha não tomaram "medidas efetivas" para corrigir os
respetivos défices públicos, mas dará aos dois países um prazo até 27 de julho
para apresentarem medidas convincentes, constituindo esta extensão do prazo um
"compromisso" entre os chamados "falcões orçamentais",
liderados pela Alemanha, e os defensores da flexibilidade na aplicação das
regras europeias, atendendo ao contexto específico de cada país num cenário de
crise e sacrifícios já impostos.
Já
a agência noticiosa espanhola Efe, citando outras fontes comunitárias, deu
conta, na segunda-feira, da hipótese de a Comissão adiar uma decisão para
quinta-feira, mas da parte do executivo comunitário a única posição assumida é
que a decisão, tal como indicado em maio, será tomada "no início de
Julho".
Outra
possibilidade é a Comissão considerar que os dois países de facto efetivamente
não fizeram esforços suficientes para reduzir o défice e, à luz do
incumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento, e, uma vez essa decisão
avalizada pelo Conselho (Ecofin, ministros das Finanças da UE, cuja próxima
reunião está agendada para 12 de julho), propor multas, que podem ir até 0,2%
do PIB.
Mesmo
no quadro da aplicação de sanções -- algo inédito na história da UE, apesar de
a regra europeia do défice abaixo dos 3,0% do PIB já ter sido violada em 114
ocasiões pelos Estados-membros, com França à cabeça -, a Comissão poderia
propor uma redução significativa da multa, ou mesmo sugerir uma multa
"zero", apenas com cariz simbólico, havendo ainda a possibilidade de
congelamento de fundos estruturais para 2017, uma punição que no entanto é
considerada por muitos em Bruxelas demasiado penalizadora, até por constituir
um obstáculo ao reequilíbrio das finanças públicas dos dois países, o objetivo
último de qualquer ação.
Por
fim, há a possibilidade -- defendida em Portugal tanto pelo Governo, como pelo
Presidente da República, e todos os partidos com assento parlamentar -- de não
haver sanções de todo, e apenas recomendações claras no sentido de a execução
orçamental em 2016 garantir o cumprimento dos objetivos, algo que o executivo
de António Costa garante estar a ser feito.
Portugal
deveria ter colocado o défice abaixo do limiar dos 3% do PIB em 2015, mas de
acordo com os dados validados pelo gabinete oficial de estatísticas da UE, o
Eurostat, o défice orçamental de Portugal foi no final do ano passado de 4,4%,
incluindo o impacto orçamental da medida de resolução aplicada ao Banif, que
valeu 1,4% do PIB.
Para
encerrar o PDE, o executivo comunitário tem também em consideração a trajetória
do défice, que deve apontar para uma redução duradoura, ou seja, ficar abaixo
dos 3% nos próximos dois anos.
Embora
o Governo antecipe uma redução do défice para 2,2% do PIB este ano e 1,4% no
próximo, Bruxelas estimou, nas previsões da primavera divulgadas em maio, que o
défice fique nos 2,7% do PIB este ano e em 2,3% no próximo. Mais recentemente,
após a missão de monitorização pós-programa de resgate, a Comissão afirmou
mesmo que o défice ficará perto dos 3% em 2016.
A
Espanha, que teve novas eleições a 26 de Junho, mas continua sem Governo
formado, registou um défice de 5,1% em 2015.
Fonte:
lusa
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