terça-feira, 5 de julho de 2016

CABINDA PÓS NZITA TIAGO

Não é por o regime angolano não falar do problema de Cabinda que esse problema deixa de existir. No sentido de ajudar a perceber o que será a FLEC na era pós Nzita Henriques Tiago, o Folha 8 publica em exclusivo um artigo de Osvaldo Franque Buela, Chefe do Gabinete da Presidência da FLEC.

“Já fez um mês que essa data de 3 de Junho de 2016 ficará para sempre gravado em nossas memórias, como uma data histórica pela perda do líder carismático da causa cabindense, Nzita Henriques Tiago.

Mal amado por alguns e bem amado por outros, muitas vezes combatido mas nunca vencido, importa realçar a força das convicções que caracterizou Nzita Henriques Tiago que deu toda a sua vida pela causa de Cabinda.

Ao contrário do que as fofocas dizem, ele contactou os seus próximos e distantes colaboradores, ex-comandantes, comandantes operacionais, parentes e o seu ultimo e próximo conselheiro José Nkusu Tiaba , durante os últimos dias de sua longa doença.

E ao deixar este mundo, como bom chefe de família e como qualquer bom chefe da aldeia, foi digno em respeitar as tradições que são nossas, as tradições invioláveis do costume de Cabinda na sua profundeza, com a qual dirigiu e conciliou a FLEC entre o choque de culturas do mundo político moderno, com as raízes tradicionais do nosso território.

Ele teve o cuidado de preparar a sua partida, com garantias de que a casa não vai ficar vazia, sem um guia, sem direcção a quem confiar os arquivos que são a memória de todas as suas acções tomadas durante sua longa e permanente consulado como chefe da maior da organização independentista de Cabinda.

Transmissão pontuada por palavras que não enganam ninguém sobre o caminho a seguir e para onde ir.

Tomai e ide trabalhar com todos os Cabindas, organizai, unificai e reconciliai a luta permanecendo abertos ao diálogo. Estas foram as suas últimas palavras antes de sua última hospitalização e também as suas últimas recomendações.

Nesta perspectiva, Emmanuel Nzita wa Nzita não é uma escolha por padrão, nem uma sucessão autoproclamada, mas uma indicação clara para realizar recomendações específicas.

Reorganizar, estruturar e unir o movimento

Tão logo anunciada, a reorganização foi engajado através da nomeação do chefe do gabinete presidencial e do Secretário-Geral, uma abertura considerada positiva pelo regresso de alguém que assumiu durante muito tempo essa função e a chegada de uma figura estratégica do chamado grupo de cinco que ainda era chamada a cintura diplomática FLEC, ex-grupo da FLEC de Antoine grupo Nzita Mbemba.

Uma empreitada que vai continuar com a reestruturação de toda a Direcção política do movimento partindo da Europa para África, e já está em marcha com a criação de um Vice-Presidente na Europa e outro Vice-Presidente para a região de África e do interior do território, afim de dotar a organização dos estatutos e regulamentos que estejam à altura das suas ambições.

Nessa fase do trabalho que consiste em dotar a organização de estruturas legais, operacionais e adaptados por um modelo de funcionamento democrático não pode ser confundida com uma ideia de reunificação ou reconciliação com facções dissidentes. Essa nossa união que é necessária não o pode ser a qualquer preço. Será baseada em mecanismos internos, simples e claros de acordo sobretudo com as orientações que foram dadas aos comandantes operacionais que já estão a trabalhar nesse sentido. Nunca nos vamos deixar dividir por aqueles que escolheram tudo estragar graças às suas ambições pessoais, com intenções de ignorar o quadro e a estrutura organizacional da Europa, onde nosso líder viveu os últimos dias da sua vida.

A disciplina, o entendimento mútuo, a compreensão, o respeito pela diferença e o capítulo sobre os direitos humanos são balizas sobre as quais vamos gravar as nossas marcas de luta contra a ocupação e opressão do regime angolano do MPLA. A FLEC de hoje e de amanhã não será a Coreia do Norte onde existe apenas um único pensamento e de forma obrigatória. Os irmãos de uma mesma família não precisam de um mediador para voltar para casa, a porta esteve e estará sempre aberta.

A autodeterminação

É, e continuará a ser o ponto culminante de nossos objectivos, é o nosso direito elementar sobre o qual vamos colocar todo os nossos esforços. A nossa determinação é total e inflexível.

A nossa opinião permanece inalterada e intacta sobre a questão do diálogo com Angola, mas terá de ser um diálogo com uma arbitragem neutra para garantir a transparência e respeito dos compromissos que serão aceites por ambas as partes. Para tal, vários mecanismos podem ser estudados afim de nomear um mediador neutro, no plano nacional, regional e internacional.

Neste contexto, a FLEC não estará sozinho e não irá impor qualquer regra ou os seus pontos de vista no caso de um possível diálogo aberto e inclusivo com Angola, porque a questão de consulta ou coesão interna é necessário para um consenso. Mas como alcançar uma verdadeira consulta interna sem desconfiança e influência externa a não ser de próprios Cabindas? Como organizá-lo? Quem para organizar e financiar?

Estas são questões que sempre tem feito com que todas as iniciativas de Cabindas nunca foram capazes de alcançar os resultados esperados. Não podemos ser actores e ao mesmo tempo ser parte integrante a encabeçar a concepção de uma tal organização. Apenas uma órgão credível de resolução de conflitos pode reunir as diferentes tendências e criar uma verdadeira plataforma consensual para um bom entendimento.

Nós ainda pensamos que é o nosso dever aprender com as lições do passado, sobretudo da última experiência da Holanda e corrigi-las. Sobre esta questão, a FLEC será muito exigente para não repetir os mesmos erros, e deixar claro que qualquer iniciativa unilateral sobre Cabinda será de nenhuma utilidade.

Nós os Cabindas, FLEC’s, sociedade civil, homems, mulheres, estudantes, padres, pastores, funcionários públicos, empresários, etc. devemos abandonar todas as formas de acomodações mentais ou espirituais e lutar juntos ao lado de organizações internacionais para fazer ouvir as nossas vozes e nossos gritos de angústia e de injustiça, resultantes da nossa condição de escravos modernos perpetrado por um outro povo africano como nós, porque os dirigentes angolanos do MPLA e o seu sistema de exploração colonial e de ocupação não consideram os Cabindas como um povo, como seus cidadãos e nem tão pouco como irmãos.

Não acreditamos na teoria do MPLA de ser o único interlocutor valido, pois isso é um argumento estúpido para enganar a comunidade internacional e os fracos enquanto financiam as divisões entre nós. A verdade é que entre os partidos políticos Angolanos, é mesmo o MPLA e os seus dirigentes corruptos que já não são interlocutores válidos para resolver o problema de Cabinda.

Estes corruptos do MPLA continuam a esconder-se atrás do argumento de que estamos muito divididos em várias facções e que é difícil para eles saber com quem falar. Será que é foi difícil para eles encontrar António Bento Bembe?

Quando Portugal decidiu resolver o problema da independência de Angola, não hesitou em convidar os três movimentos da luta de libertação de Angola.

Os líderes políticos angolanos devem fazer o mesmo, ter a vontade política e a coragem de convidar todos os nacionalistas e movimentos Cabindas à volta de uma mesa de negociações e a solução será encontrada. O resto é demagogia e a paciência tem limites.

Partindo do princípio de que só é vencido aquele que deixa de lutar, Cabinda vencerá por que a sua causa é justa.”

Folha 8

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