A
vida política Paradoxos da política A política é uma actividade própria para profissionais, ou um interesse e mesmo uma obrigação
de todos? O paradoxo da política faz aqui sua aparição: é ela uma actividade específica de alguns profissionais da sociedade ou
concerne a todos nós, porque vivemos em sociedade? A palavra
política é usada para especificar a actividade do profissional — o
político — ora para significar uma mobilização de reivindicações
da sociedade e dirigida ao Estado. Podemos usar a palavra política
em expressões como “política universitária”, “política da
escola”, “política do hospital”, “política da empresa”,
“política sindical”, não encontramos referência ao governo nem
a profissionais da política. Pois elas se referem funcionalidade
administrativa, organizacional nas finalidades económica,
educacional, saúde reivindicatória dependendo da entidade a que se
refere. A palavra política é usada para referir-se a toda
modalidade de direcção de grupos sociais que envolva poder,
administração e organização. 1. o significado de governo,
entendido como direcção e administração do poder público, sob a
forma do Estado. 2. o significado de actividade realizada por
especialistas — os administradores — e profissionais — os
políticos — os partidos — que disputam o direito de governar,
Neste segundo sentido, a política aparece como algo distante da
sociedade, uma vez que é actividade de especialistas e profissionais
que se ocupam com o Estado e o poder. A política é feita “por
eles” e não “por nós”, ainda que “eles” se apresentem
como representantes “nossos”; 3. o significado, derivado do
segundo sentido, de conduta duvidosa, não muito confiável,
contrários aos interesses da sociedade e obtidos por meios ilícitos.
Este terceiro significado é o mais corrente para o senso comum
social e resulta numa visão pejorativa da política. Esta aparece
como um poder distante de nós (passa-se no governo ou no Estado),
exercido por pessoas diferentes de, através de práticas secretas
que beneficiam quem o exerce e prejudicam o restante da sociedade.
Onde está o paradoxo? Na divergência entre o primeiro e o terceiro
sentido da palavra política, pois o primeiro se refere a algo geral,
que concerne à sociedade como um todo, definindo leis e costumes,
garantindo direitos e obrigações, criando espaço para contestações
através da reivindicação, da resistência e a desobediência,
enquanto o terceiro sentido afasta a política de nosso alcance,
fazendo-a surgir como algo perverso e maléfico para a sociedade.
A
divergência entre o primeiro significado e o terceiro é provocada
pelo segundo significado, isto é, aquele que reduz a política à
acção de especialistas e profissionais. A política foi inventada
pelos humanos como o modo pelo qual pudessem expressar suas
diferenças e conflitos sem transformá-los em guerra, em uso da
força e extermínio recíproco. No modo pelo qual os humanos regulam
e ordenam seus interesses conflitantes, seus direitos e obrigações
enquanto seres sociais. De outra forma, a política foi inventada
como o modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute,
delibera e decide em comum para aprovar ou rejeitar as acções que
dizem respeito a todos os seus membros. Como explicar, então, que
seja percebida como algo que não nos concerne, mas nos prejudica,
não nos favorece, mas favorece aos interesses escusos e ilícitos de
outros? As pessoas, desgostosas e decepcionadas, não querem ouvir
falar em política, recusam-se a participar de actividades sociais que
possam ter finalidade ou cunho políticos, afastam-se de tudo quanto
lembre actividades políticas, mesmo tais pessoas, com seu isolamento
e sua recusa, estão fazendo política, pois estão deixando que as
coisas fiquem como estão e, portanto, que a política existente
continue tal qual é. A apatia social é, pois, uma forma passiva de
fazer política. A palavra política égrega: ta politika, vinda de
polis. Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada,
formada pelos cidadãos nascidos no solo da Cidade, livres e iguais,
portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade
perante a lei) e a isegoria (o direito de expor e discutir em público
opiniões sobre acções que a Cidade deve ou não deve realizar).
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