Já
não vai para nova, mas está aí para as curvas e para abraçar
causas das Nações Unidas. A fazer 75 anos, a Mulher Maravilha, a
personagem de BD criada pela DC Comics, torna-se embaixadora
honorária.
A
cerimónia aconteceu esta sexta-feira, na sede das Nações Unidas,
com a presença da Warner Brothers e da DC Entertainment.
No
mundo dos homens, ela é Diana Prince. Mas, quando se transforma, é
uma heroína com super poderes para espalhar a paz e a justiça
A
partir de agora e durante o próximo ano, ela é também embaixadora
honorária das Nações Unidas para o empoderamento das mulheres e
das raparigas.
Catarina
Furtado, embaixadora de boa vontade do fundo das NU para a População,
está convencida de que esta pode ser uma boa "estratégia de
marketing" para que se fale neste assunto: "Esta personagem
da BD é uma mulher que tem super-poderes. Eu sei que muitas mulheres
têm super-poderes e que os utilizam para continuar a sobreviver num
mundo muito desigual entre homens e mulheres".
Embaixadora
há 16 anos, Catarina Furtado trabalha no terreno as matérias da
igualdade de género, planeamento familiar, saúde sexual e
reprodutiva, empoderamento das mulheres. "Não deixo de
constatar que é sempre muito complicado colocar estas questões na
agenda. Às vezes é preciso ter grande imaginação", sublinha.
São
17 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
São os chamados ODS, que vieram a seguir aos ODM - os Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio.
"No
que diz respeito ao acesso a cuidados de saúde sexual e reprodutiva
e até de educação para muitas mulheres, falhámos, não foram
atingidos os objetivos dos ODM. Nos ODS, esse investimento tem que
ser mais certeiro", nota a embaixadora da Boa Vontade.
A
questão que está a ser levantada agora é porquê a Mulher
Maravilha?
Porquê
uma personagem de ficção da DC Comics e não uma pessoa real?
Porquê
uma boneca que, ainda para mais, tem uma imagem sexualizada?
Nelson
Dona, diretor do Festival de banda desenhada da Amadora, ajuda-nos,
antes de mais, a conhecer melhor a Wonder Woman: "A partir dos
anos 60/70, a Wonder Woman é um estereótipo de mulher contestada
por grupos feministas por ser ligada a uma objetização sexual. Mais
recentemente, ela é reinventada e desempenha o papel de uma mulher
contemporânea que, tendo super-poderes, é ao mesmo tempo
interventiva na sociedade. É bonita, vistosa, mas é também
inteligente e com intervenção na sociedade".
Na
discussão feminista, a discussão passa também por se se deve ou
não associar o papel das mulheres ao de super-heroínas.
Sara
Falcão Casaca, professora do ISEG e especialista nas questões da
igualdade de género, reflete sobre isso: "A veiculação desta
ideia de super-mulher afasta muitas mulheres reais de aspirar a
lugares de liderança ou a posições de maior relevo, porque o ónus
de serem super-mulheres é muito forte. Não há super-mulheres".
Essa
é uma carga demasiado pesada. Mas não para a Mulher Maravilha, que
era protagonizada na televisão por Lynda Carter. "Eu vi a
série, era criança, gostava imenso", recorda Sara Falcão
Casaca, sublinhando "o simbolismo daquela imagem em que ela dava
três voltas e se transformava". "Era quase impossível não
sonhar ser uma mulher assim".
A
Wonder Woman aparece como resposta ao Super Homem e, de certa forma,
contra corrente. Nesta altura, a esmagadora maioria dos
super-herois... eram homens. "As mulheres, por norma, eram as
companheiras dos super-heróis, personagens secundárias",
recorda Nelson Dona, "embora houvesse exceções, como o caso
daBecassine ou
a Super-Mulher ou ainda a Mafalda".
Talvez
por não ter comido a sopa toda, a Mafalda não foi escolhida para
este cargo de embaixadora honorária para o empoderamento das
mulheres.
EM-PO-DE-RA-MEN-TO,
uma palavra que vai ouvir cada vez mais vezes, "uma palavra
fortíssima, porque não é só conferir poder, é preparar para o
exercício do poder em várias esferas da sociedade", frisa Sara
Falcão Casaca feminista e professora do ISEG.
António
Guterres já prometeu dar mais destaque às mulheres e às questões
da igualdade de género.
Catarina Furtado. O empoderamento vai chegar também às salas de cinema.
Catarina Furtado. O empoderamento vai chegar também às salas de cinema.
Em
junho do próximo ano, sai o filme Wonder Woman - versão 2017
Esta
não é a primeira vez que uma personagem de ficção é nomeada
embaixadora honorária das Nações Unidas. A fada Sininho já tratou
de questões ecológicas, o Winnie the Pooh já olhou pela amizade e
o Angry Birds já esteve associado às questões climáticas.
A
partir de hoje e durante um ano, a Mulher Maravilha é embaixadora
para o empoderamento das mulheres e das meninas.
TSF
Imagem:
DR
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