sábado, 22 de outubro de 2016

Mulher Maravilha já é embaixadora da ONU para o empoderamento das mulheres

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Já não vai para nova, mas está aí para as curvas e para abraçar causas das Nações Unidas. A fazer 75 anos, a Mulher Maravilha, a personagem de BD criada pela DC Comics, torna-se embaixadora honorária.
A cerimónia aconteceu esta sexta-feira, na sede das Nações Unidas, com a presença da Warner Brothers e da DC Entertainment.
No mundo dos homens, ela é Diana Prince. Mas, quando se transforma, é uma heroína com super poderes para espalhar a paz e a justiça
A partir de agora e durante o próximo ano, ela é também embaixadora honorária das Nações Unidas para o empoderamento das mulheres e das raparigas.
Catarina Furtado, embaixadora de boa vontade do fundo das NU para a População, está convencida de que esta pode ser uma boa "estratégia de marketing" para que se fale neste assunto: "Esta personagem da BD é uma mulher que tem super-poderes. Eu sei que muitas mulheres têm super-poderes e que os utilizam para continuar a sobreviver num mundo muito desigual entre homens e mulheres".
Embaixadora há 16 anos, Catarina Furtado trabalha no terreno as matérias da igualdade de género, planeamento familiar, saúde sexual e reprodutiva, empoderamento das mulheres. "Não deixo de constatar que é sempre muito complicado colocar estas questões na agenda. Às vezes é preciso ter grande imaginação", sublinha.
São 17 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. São os chamados ODS, que vieram a seguir aos ODM - os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
"No que diz respeito ao acesso a cuidados de saúde sexual e reprodutiva e até de educação para muitas mulheres, falhámos, não foram atingidos os objetivos dos ODM. Nos ODS, esse investimento tem que ser mais certeiro", nota a embaixadora da Boa Vontade.
A questão que está a ser levantada agora é porquê a Mulher Maravilha?
Porquê uma personagem de ficção da DC Comics e não uma pessoa real?
Porquê uma boneca que, ainda para mais, tem uma imagem sexualizada?
Nelson Dona, diretor do Festival de banda desenhada da Amadora, ajuda-nos, antes de mais, a conhecer melhor a Wonder Woman: "A partir dos anos 60/70, a Wonder Woman é um estereótipo de mulher contestada por grupos feministas por ser ligada a uma objetização sexual. Mais recentemente, ela é reinventada e desempenha o papel de uma mulher contemporânea que, tendo super-poderes, é ao mesmo tempo interventiva na sociedade. É bonita, vistosa, mas é também inteligente e com intervenção na sociedade".
Na discussão feminista, a discussão passa também por se se deve ou não associar o papel das mulheres ao de super-heroínas.
Sara Falcão Casaca, professora do ISEG e especialista nas questões da igualdade de género, reflete sobre isso: "A veiculação desta ideia de super-mulher afasta muitas mulheres reais de aspirar a lugares de liderança ou a posições de maior relevo, porque o ónus de serem super-mulheres é muito forte. Não há super-mulheres".
Essa é uma carga demasiado pesada. Mas não para a Mulher Maravilha, que era protagonizada na televisão por Lynda Carter. "Eu vi a série, era criança, gostava imenso", recorda Sara Falcão Casaca, sublinhando "o simbolismo daquela imagem em que ela dava três voltas e se transformava". "Era quase impossível não sonhar ser uma mulher assim".
A Wonder Woman aparece como resposta ao Super Homem e, de certa forma, contra corrente. Nesta altura, a esmagadora maioria dos super-herois... eram homens. "As mulheres, por norma, eram as companheiras dos super-heróis, personagens secundárias", recorda Nelson Dona, "embora houvesse exceções, como o caso daBecassine ou a Super-Mulher ou ainda a Mafalda".
Talvez por não ter comido a sopa toda, a Mafalda não foi escolhida para este cargo de embaixadora honorária para o empoderamento das mulheres.
EM-PO-DE-RA-MEN-TO, uma palavra que vai ouvir cada vez mais vezes, "uma palavra fortíssima, porque não é só conferir poder, é preparar para o exercício do poder em várias esferas da sociedade", frisa Sara Falcão Casaca feminista e professora do ISEG.
António Guterres já prometeu dar mais destaque às mulheres e às questões da igualdade de género.
Catarina Furtado. O empoderamento vai chegar também às salas de cinema.
Em junho do próximo ano, sai o filme Wonder Woman - versão 2017
Esta não é a primeira vez que uma personagem de ficção é nomeada embaixadora honorária das Nações Unidas. A fada Sininho já tratou de questões ecológicas, o Winnie the Pooh já olhou pela amizade e o Angry Birds já esteve associado às questões climáticas.
A partir de hoje e durante um ano, a Mulher Maravilha é embaixadora para o empoderamento das mulheres e das meninas.
TSF
Imagem: DR


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