Dar
sangue é dar vida. Esta é uma das frases promocionais que o tempo
fez entrar na nossa memória. Nos dias que correm, dar sangue é cada
vez mais importante. Porque as solicitações são cada vez maiores.
Em média, são cinco a seis os litros de sangue que nos correm
pelo corpo. Uma fonte de vida… e de alguns problemas.
O
sangue é um tecido constituído por várias células sanguíneas,
suspensas num líquido que se chama plasma. O plasma é constituído
por água, sais minerais, moléculas hidrossolúveis como por exemplo
a glucose e proteínas. As células sanguíneas são os Glóbulos
Vermelhos ou Eritrócitos, os Glóbulos Brancos ou Leucócitos e as
Plaquetas. É a medula óssea que se encarrega da sua produção,
sendo constantemente renovadas.
São
várias as funções do sangue, todas elas de grande importância
para o vital funcionamento do corpo humano. Algumas dessas funções
são bem complexas, entre as quais o transporte de oxigénio,
nutrientes, hormonas, dióxido de carbono e outros produtos do
catabolismo
Os
componentes
Os
Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos têm a particularidade de serem
elásticos e deformáveis, permitindo assim um fluxo normal dentro
dos vasos sanguíneos. Têm na sua membrana exterior elementos que
são específicos para cada indivíduo, são herdados de pais para
filhos, e permitem diferenciar as células de uma pessoa das de outra
pessoa – são os grupos sanguíneos. Os mais importantes na
transfusão sanguínea são o sistema ABO e Rh.
Os
Glóbulos Brancos, ou Leucócitos, podem ser classificados de acordo
com as diferentes morfologias e funções – Granulócitos
Neutrófilos, Eosinófilos e Linfócitos. Têm um papel muito
importante na defesa do organismo contra os vários agentes
infecciosos.
As
Plaquetas são as células mais pequenas do sangue, tendo cerca de
1/3 do diâmetro dos Glóbulos Vermelhos. São elas que actuam de
imediato quando há uma hemorragia, formando o rolhão plaquetário
tendo um papel muito importante na coagulação sanguínea.
A
importância de dar sangue
O
sangue não se fabrica artificialmente e só o ser humano o pode dar.
Assim dito, facilmente se percebe que o sangue é um bem escasso. Por
esta razão, o sangue existente nos serviços hospitalares depende
inteiramente do gesto de cada um.
Todos
os anos, com regularidade, as autoridades de saúde lançam campanhas
de recolha de sangue. O gesto é rápido e demonstra preocupação
pelos outros. Dar sangue é, pois, um gesto de vida,
verdadeiramente essencial, porque alguns minutos perdidos na nossa
vida podem ser suficientes para salvar outras.
O
sangue é necessário todos os dias, pois todos os dias existem
doentes com anemia, pacientes que vão ser submetidos a cirurgia,
acidentados com hemorragias, doentes oncológicos que fazem
tratamento com quimioterapia, transplantes, etc., que necessitam de
fazer tratamento com componentes sanguíneos.
Enquanto
um doente com anemia pode necessitar de uma ou duas unidades de
sangue, um doente com transplante de fígado pode necessitar de mais
de 20 unidades e um doente com leucemia pode necessitar de mais de
100 unidades.
O
que o dador deve saber
Cada
indivíduo tem em circulação 5 a 6 litros de sangue, dependendo da
superfície corporal. Uma unidade de sangue representa 450ml. Mas o
sangue doado é rapidamente reposto pelo nosso organismo.
Daí não haver qualquer problema em dar com alguma frequência 3 a
4 vezes por ano, dependendo do sexo e constituição física do dador
é a mais recomendada.
Outro
aspecto importante a ressaltar: não existe qualquer possibilidade de
contrair doenças através da dádiva de sangue, porque todo o
material utilizado na recolha é estéril e descartável – é usado
uma única vez -, garantindo assim por completo a saúde de quem,
voluntariamente, se dispôs a um gesto benemérito.
O
que acontece depois
O
sangue proveniente de uma unidade total vai ser posteriormente
separado nos seus constituintes: Glóbulos Vermelhos, Plasma e
Plaquetas, com o objectivo de uma maior rentabilização e eficácia
na terapêutica dos doentes com componentes sanguíneos, de acordo
com a deficiência que apresentam. Assim, uma dádiva de sangue
pode beneficiar pelo menos três doentes.
O
sistema de sacos múltiplos para onde o sangue é colhido permite que
todo o processo seja feito em circuito fechado e estéril, garantindo
assim a segurança e qualidade máximas na obtenção dos componentes
sanguíneos.
O
sistema de sacos contém anti-coagulante para que o sangue não
coagule e substâncias nutrientes para prolongar a viabilidade dos
eritrócitos durante o armazenamento.
Numa
primeira centrifugação vão ser separados os eritrócitos e um
plasma rico em plaquetas. Numa segunda centrifugação obtêm-se as
plaquetas e o plasma.
Cada
saco contém o componente que foi separado – Concentrado de
Eritrócitos, Concentrado de Plaquetas e Plasma Fresco. Estes
componentes têm indicações clínicas especificas.
O
Concentrado de Eritrócitos tem indicação para doentes com anemia,
o Concentrado de Plaquetas para doentes com deficiência de
plaquetas, e o Plasma Fresco para doentes com deficiência de
factores da coagulação.
Paralelamente,
cada dádiva é submetida a um conjunto de análises laboratoriais
que tecnicamente garantem a melhor qualidade do sangue a transfundir,
de acordo com o estado da arte em cada momento.
Receber
o seu próprio sangue
A
situação mais frequente é o nosso sangue ser aproveitado para
salvar outras vidas. M as há casos em que o sangue que damos é o
mesmo que recebemos.
A
Transfusão Autóloga ou Autotransfusão consiste num processo de
colheita prévia de sangue de um doente que vai ser operado para
posterior administração, durante ou após a cirurgia. Neste caso o
dador é o próprio doente.
Podem
integrar um programa de Transfusão Autóloga doentes com bom estado
geral e sem anemia, com valores de hemoglobina igual ou superior a
11g/dl. Os critérios de aceitação são mais flexíveis pois o
dador é o próprio doente. O médico de Imunohemoterapia vai avaliar
a situação clínica do doente antes de lhe ser colhido o sangue.
Não há limite de idade e as crianças também podem entrar num
programa de Transfusão Autóloga. As unidades de sangue colhidas vão
ser submetidas aos testes analíticos, de acordo com a legislação
existente para o sangue homólogo.
Além
de permitir poupar sangue aos serviços hospitalares, este processo
em que o doente recebe o seu próprio sangue tem inúmeras vantagens,
para já não falar nos benefícios especiais para os doentes com
grupos sanguíneos raros ou para que têm determinadas crenças
religiosas.
Assim,
se vai ser operado, e tem um bom estado geral, contacte o seu médico
assistente para saber se está em condições de se submeter a um
programa de Transfusão Autóloga. É necessário saber a data da
intervenção cirúrgica e o número de unidades de sangue previstas
para a operação.
As
unidades são colhidas com uma semana de intervalo e a última ser
colhida 72 horas antes da operação. Os doentes recebem um
suplemento de ferro para melhor recuperação durante as colheitas.
As
questões essenciais – será que posso dar sangue?
Podem
dar sangue todas as pessoas com bom estado de saúde, com hábitos de
vida saudáveis, peso igual ou superior a 50kg e idade compreendida
entre os 18 e 65 anos. Para uma primeira dádiva o limite de idade é
os 60 anos.
Os
homens podem dar sangue de 3 em 3 meses (4 vezes/ano), e as mulheres
(3 vezes/ano), sem nenhum prejuízo para si próprios. Dar
sangue não engorda, não enfraquece e não causa habituação.
De
qualquer forma, a dádiva de sangue não deve ser efectuada em jejum.
Deve-se tomar uma refeição ligeira sem álcool e sem gorduras, como
por exemplo uma sandes e um sumo.
Onde
me devo me dirigir?
Os
Centros Regionais de Sangue do Instituto Português do Sangue em
Lisboa, Porto e Coimbra, por norma os mais utilizados, embora haja
outros locais adequados, como por exemplo o Posto Fixo da ADASCA,
localizado no Mercado Municipal de Santiago, 1º. Piso onde decorrem
5/6 sessões de colheitas de sangue por mês. www.adasca.pt
Já
há tanta gente a dar sangue. Não devem precisar de mim…
Não
pense nisso, porque não é verdade. A procura de sangue, componentes
e derivados não cessa de aumentar, graças aos progressos da ciência
médica e à crescente extensão dos benefícios de uma assistência
que se pretende da melhor qualidade, a um número cada vez maior de
pessoas. As necessidades terapêuticas dos doentes exigem cada vez
mais dadores, isto é, pessoas em boas condições de saúde e com
hábitos de vida saudáveis.
Quem
não pode dar sangue?
Uma
entrevista prévia com o médico permite eliminar todos os doadores
de risco. Dura um quarto de hora na primeira vez, cinco a sete
minutos para um dador “habitual”. Por uma questão de segurança,
as pessoas que acabam de sair de um episódio infeccioso, ou as que
estão a seguir um tratamento medicamentoso (anti-inflamatórios,
corticóides, hipotensores, etc.) são sempre excluídas.
Em
princípio, as pessoas que algumas vezes receberam uma transfusão
não podem dar sangue. Elimina-se desta maneira o risco de ver
emergir uma contaminação ignorada durante a primeira transfusão.
Da mesma maneira, os viajantes que residiram num país atingido pelo
paludismo serão temporariamente recusados. A entrevista médica
abordará, por último, os hábitos sexuais a fim de determinar se
apresentam algum risco.
Todos
os anos, um número significativo de doadores é afastado por uma ou
outra destas razões.
Que
testes fazem ao meu sangue?
Cada
recolha de sangue – da qual se deve guardar uma amostra pelo menos
durante cinco anos – é submetida a testes serológicos que
permitem detectar as doenças transmissíveis como a sida, as
hepatites B e C, o paludismo ou a sífilis.
Se
análise demonstrar que uma amostra de sangue está contaminada, o
doador é identificado e advertido de maneira confidencial.
Passados
estes testes, já não há risco?
Não.
É preciso ainda ter em conta a “janela serológica”, em período
que pode durar dias, até mesmo várias semanas, durante o qual a
pessoa ignora ter sido contaminada. Por exemplo, decorre um período
de mês e meio a três meses antes que um organismo infectado pelo
vírus da hepatite C (VHC) produza anticorpos detectáveis no sangue.
Mas, na prática, para um resultado seguro, recomenda-se que seja
feito um teste três meses após a eventual contaminação. Por isso,
é absolutamente indispensável responder com franqueza total às
perguntas, por vezes indiscretas, do médico durante a entrevista.
O
meu sangue poder ser congelado?
Congelar
e armazenar os produtos sanguíneos é muito caro. Actualmente,
apenas as pessoas de grupos sanguíneos raros (além dos a, b, 0. Rh)
podem “pôr de reserva” o seu sangue na previsão de uma
necessidade vital.
NR:
considerando o interesse público do presente artigo, o Litoral Centro procedeu a algumas adaptações.
Fonte:
Artigo da revista Farmácia Saúde do nº. 52 de Janeiro de 2001.
Postado por J. Carlos
Director
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