Um
bebé em fim de gestação morreu no hospital de Beja durante o
parto, na sequência de falhas agora denunciadas pela Entidade
Reguladora da Saúde (ERS). Em causa está a demora a chegar ao bloco
de operações para a realização de uma cesariana de urgência e
ainda a eventual má prática do médico obstetra e da enfermeira que
assistiram a grávida.
O
caso remota a abril de 2015 e consta de uma deliberação da ERS, de
7 de setembro, publicada ontem. Ao hospital, o regulador dá
instruções para que faça as alterações necessárias por forma a
garantir melhor prestação de cuidados.
A
grávida deu entrada no hospital de Beja por volta das 18.00 do dia 9
de abril de 2015, mas o parto só aconteceu na manhã do dia
seguinte. O relatório do processo de inquérito feito pelo hospital,
na sequência da queixa do pai do bebé, relata que à 01.00 o
batimento cardíaco do feto mostrou desacelerações "profundas
e repetidas a partir desta hora".
A
situação agravou-se após as 04.00 "com o aparecimento de
desacelerações profundas e repetidas". Mas só meia hora
depois a enfermeira chamou o médico, que desvalorizou a situação.
O médico só voltou a ser chamado pela enfermeira por volta das
06.30, quando o ritmo cardíaco do bebé voltou a mostrar grandes
alterações. Foi nessa altura que o obstetra decidiu fazer uma
cesariana de emergência, obrigando à deslocação do bloco de
partos para o bloco central, que fica quatro pisos abaixo.
Segundo
o relatório, o percurso demorou meia hora, o dobro do tempo
recomendado pela Direção-Geral da Saúde para uma situação de
urgência. Entre a decisão e a cesariana o tempo não pode ser
superior a 15 minutos.
O
bebé nasceu morto às 07.05. "O registo de foco fetal audível
no bloco de partos e a sua inexistência quando à chegada ao bloco
operatório levam a pressupor que a ocorrência da morte fetal tenha
ocorrido neste lapso de tempo", diz o documento. "A
distância entre a ala de obstetrícia e o bloco operatório terão
contribuído para a demora na intervenção e consequentemente para o
desfecho final."
A
atuação do médico e da enfermeira também é questionada pelo
inquérito do hospital. Do relatório, diz a ERS, conclui-se que o
obstetra e a enfermeira não terão agido segundo as boas práticas.
A
enfermeira devia ter chamado mais cedo o médico e este não deveria
ter desvalorizado as alterações cardíacas do bebé. O hospital
concluiu que havia matéria para um processo disciplinar, mas que a
falta de informação no diário clínico não era suficiente para
fazer a nota de culpa.
A
ERS emitiu uma instrução ao hospital para garantir "o acesso
dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade, em
tempo útil" e implementar todas as medidas necessárias para
evitar casos como este, em que a distância entre a obstetrícia e o
bloco operatório terão contribuído para a demora na intervenção.
Dão ainda indicação para que tudo seja feito para que a informação
clínica dos pacientes seja sempre registada e os eventos adversos
sejam comunicados à Direção-Geral da Saúde.
O
resultado do inquérito será enviado às ordens dos Médicos e dos
Enfermeiros para que estes avaliem as decisões dos profissionais em
causa. Ao DN, a bastonária dos Enfermeiros disse desconhecer o
processo. Quanto ao hospital, não foi possível obter resposta em
tempo útil.
DN
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