Estão mais de 53 mil pessoas em Lisboa. Mas lembra-se de como esta loucura começou?
Começou com Jaime Jorge a subir ao palco central da Web Summit, em Dublin, em 2014. Fez um pitch que meteu “lavar loiça acumulada” e erros de programação. Confuso? Não se preocupe. Ele explicou o que fazia a Codacy bem. O público aplaudiu. Os investidores gostaram. E quando foi hora de anunciar um vencedor, falou-se em português na Irlanda. Ao Observador, num telefonema rápido, Jaime disse que tinha vencido os “óscares das startupseuropeias”. Ninguém sabia muito bem o que isso queria dizer. Nem eu. Mas, Parabéns Jaime. Obrigada, Jaime.
Depois disso, a correria. Paddy Cosgrave queria que o Governo irlandês lhe desse condições para continuar a organizar a Web Summit em Dublin. Pediu “um plano básico” para infraestruturas, para a internet de banda larga e regras para que os hotéis não inflacionassem tanto os preços. Revelou a troca de emails que teve com os líderes do seu país meses mais tarde, quando já se sabia que Lisboa tinha conquistado o coração do irlandês. Expôs a ausência de resposta do governo irlandês quando Portugal já lhe tinha aberto a porta. Lembra-se?
O Governo começou a fazer operação de charme para convencer Paddy de que Lisboa era melhor do que Amesterdão, mas foi a comunidade de empreendedores e programadores portuguesa que arrebatou não o coração, mas as redes sociais do fundador da Web Summit. A publicação digital Ship lançou um movimento. Queria que Paddy trouxesse a Web Summit para Lisboa.Maria Almeida contou ao Observador que a conferência marcava tendências. Lembra-se? Se calhar, marcou.
Grupo de Facebook criado, hashtags criadas, emails, tweets e mensagens privadas – todos quiseram dar a Paddy uma razão para trazer a maior conferência de tecnologia e empreendedorismo da Europa para Portugal. No anúncio oficial da mudança para Lisboa – em 2016, 2017 e 2018 (quiçá ate 2020) -, no mesmo palco que pisava com Paulo Portas, na altura vice-primeiro-ministro – Paddy falou “da comunidade de empreendedores brilhante” que existia cá. Falou de “magia”, falou de um movimento “maravilhoso”. Lembra-se?
Na primeira entrevista que deu ao Observador, em setembro de 2015, disse que os “portugueses se tinham revoltado e que tinham decidido começar a construir um futuro melhor”. Meses mais tarde, na primeira reunião que teve com o agora primeiro-ministro António Costa disse também que “Lisboa era um íman para atrair talento”. Talento, disse o Paddy Cosgrave. “Estrelas de rock”, disse ontem o secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos. Revolta, disse primeiro Paddy. Talento.
Entretanto, fui a Dublin em novembro de 2015, para cobrir a despedida da Web Summit da terra mãe. Encontrei startups portuguesas – jornalistas eram só quatro – e vesti os casacos de inverno pela primeira vez para ouvir Paulo Portas a falar na cerimónia de encerramento da Web Summit. See you later! Na última noite que passei em Dublin mal dormi para dizer aos lisboetas que o coração de Paddy estava prestes a bater por eles. Contei o que pude, antevendo o que aí vinha. Lembra-se?
A partir daí, instalou-se o caos. Web Summit para aqui. Web Summit para ali. Web Summit na televisão, na rádio, nos jornais, nos outdoors, nos cafés, nas pessoas. Diziam que era um evento para geeks. Nunca os geeks foram tão mainstream. E eu que nem sabia o que isto dos “óscares das startupseuropeias” era, agora estou aqui: num MEO Arena que esgotou ontem ao final do dia para ouvir os primeiros oradores do arranque da conferência. Onde estão mais de 53 mil pessoas de 166 países. Que já me fez resmungar com o Wi-Fi, ontem e hoje.
E agora que fiz uma viagem ao passado, deem-me 30 segundos para falar de futuro. Quando esta loucura acalmar, estamos todos preparados para a fase da ressaca?
Até terça!
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