terça-feira, 8 de novembro de 2016

Macroscópio – A noite mais longa

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
Quem vai ficar acordado esta noite à espera de conhecer o nome do próximo Presidente dos Estados Unidos? Eu vou, como a profissão obriga, mas acredito que a maioria dos leitores irão dormir sem conhecer o nome do sucessor de Barack Obama. Mesmo sendo certo que o favoritismo é de Hillary Clinton (já regressarei ao tema e às últimas sondagens), a dimensão do país, os seus diferentes fusos horários e o sistema de colégio eleitoral fará com que dificilmente seja proclamado um vencedor antes de alta madrugada. Se tudo correr normalmente amanhã de manhã, quando acordarem, já se estará a tratar do dia seguinte. Por isso mesmo este Macroscópio vai olhar um pouco para o dia seguinte e, também, para a melhor forma de seguir e entender a noite eleitoral.
 
Antes de tudo o mais, 10 perguntas (e 10 respostas) para perceber o duelo entre Clinton e Trump, um explicador do Observador preparado por João Almeida Dias, que também é o nosso enviado aos Estados Unidos. Nesta recapitulação da matéria dada, as questões são as seguintes:
  1. Quem são os candidatos destas eleições?
  2. Que influência é que os candidatos mais desconhecidos podem ter nas eleições?
  3. É verdade que nem sempre ganha quem tem mais votos? E porquê?
  4. Porque é que se tem falado tanto do Supremo Tribunal nestas eleições?
  5. O que são os swing-states e porque é que eles podem ser determinantes?
  6. Quem é que as sondagens dizem que vai ganhar?
  7. Quem é que são os principais apoiantes de Hillary Clinton? E de Donald Trump?
  8. Trump tem dito que pode não aceitar o resultado se perder as eleições. Quais serão as consequências?
  9. Quando é que o vencedor destas eleições toma posse?
  10. Porque é que as eleições são a uma terça-feira?
 
Para perceber melhor como vai ser a noite eleitoral, a que horas vão ser conhecidos os resultados e a que resultados deve estar mais atento, João Francisco Gomes preparou um Guia: Como vai ser a noite eleitoral nos Estados Unidos (“As urnas começam a fechar às 23h de Lisboa, mas só pelas nossas 5h é que os últimos estados encerram a votação.”), e Rita Dinis centrou-se mais nos estados onde tudo pode ser decidido, com uma explicação detalhada hora a hora (e meias-horas) sobre o ritmo de fecho das urnas e o que está em causa em cada “swing state”: Os “campos de batalha" onde tudo se decide?. Por este mapa que reproduz de um tweet do USA Today pode-se ficar com uma ideia gráfica de como se distribuem os estados onde as eleições se vão realmente decidir (os estados que votam republicano representados a vermelho, os que votam democrata a azul, a cinzento aqueles onde há mais disputa eleitoral):
 
 
A geografia do voto nos Estados Unidos é bastante interessante, mas às vezes olhar para o mapa não é suficiente para perceber o peso de cada estado no colégio eleitoral que depois elegerá o Presidente. Daí que seja interessante passar os olhos por este trabalho do Financial Times, The search for a better US election map.
 
Rapidamente mais alguns locais onde se pode encontrar mais esclarecimento sobre o sistema americano, o decorrer da noite eleitoral e os prognósticos para os estados onde o resultado ainda é incerto:
  • Guía para seguir el escrutinio de EE UU, no El Pais, com um grafismo muito apelativo e informação complementar sobre as eleições para o Senado, para a Câmara dos Representantes e para governadores estatuais;
  • An Hour-By-Hour Guide To Election Night, elaborado pelo FiveThirtyEight que tem a vantagem de ter explicações muito detalhadas sobre todos os estados, arrumando-os de acordo com as horas a que fecham as urnas, sendo que se analisa tanto a corrida presidencial como as eleições para o Senado.
  • 16 battlegrounds that will decide the election, no Politico, onde o detalhe da análise não se fica pelos estados mas desce ao nível dos condados. O que se passar nalgumas dessas circunscrições pode ser um excelente indicador do que se passará no país;
  • Nine Ways the U.S. Voting System Is Rigged But Not Against Donald Trump, no The Intercept, onde se descrevem algumas características do sistema eleitoral americano que resultam em distorções que podem favorecer ou desfavorecer os candidatos;
  • US election: early voting offers clues on battleground states, uma análise do Financial Times ao que sabe sobre os quase 50 milhões de americanos que votaram por antecipação. É uma análise difícil de fazer mas que oferece já algumas pistas, por exemplo: “Latino turnout boosts Clinton in Nevada while Trump has edge in Ohio”.
  • How to know when the presidential race is as good as over, onde Jonathan Capehart do Washington Post garante que não vale a pena estar com os olhos postos nos mapas eleitorais e nas sondagens à boca das urnas, basta segui-lo a ele e a Larry Sabato, diretor do Center for politics na Universidade da Virgínia em The Fix para saber tudo o que é importante: “I’ve lived politics, even decades, a couple of decades, before exit polling started, but I can tell you that exit polling has been misleading on Election Day more often than it is been accurate.”
 
Mas passemos agora a uma experiência inovadora, a do site VoteCastr que tem antenas nos locais onde os otos já estão a ser contados e já começa a fazer previsões. Os resultados podem ser seguidos na Slate, em Welcome to an Unprecedented Election Day Experiment. À hora a que escrevo já havia dois primeiros posts: VoteCastr early vote estimate shows Clinton with a lead in FloridaVoteCastr early vote estimate shows a very tight race in Colorado. Vou estar com muita curiosidade a ver como corre esta experiência.
 
Mais experimentado, e bem testado, é o sistema de previsões desenvolvido por Nate Silver e a sua equipa em FiveThirtyEight. Os leitores do Macroscópio sabem que o tenho referido muitas vezes, conhecem a sua prudência, mas o seu ultimo Election Update era mais taxativo a favor de uma vitória de Hillary Clinton: There’s A Wide Range Of Outcomes, And Most Of Them Come Up Clinton. Eis a síntese da sua previsão: “Our forecast has Clinton favored in states and congressional districts totaling 323 electoral votes, including all the states President Obama won in 2012 except Ohio and Iowa, but adding North Carolina. However, because our forecasts are probabilistic, and because Clinton’s leads in North Carolina and Florida especially are tenuous, the average number of electoral votes we forecast for Clinton is 302, which would be equivalent to her winning either Florida or North Carolina but not both” (são precisos 271 votos eleitorais para se ser eleito Presidente).
 
Porque é que Nate Silver, mesmo chegando a esta previsão e dando uma vantagem de 3,6 pontos a Hillary no voto popular, ainda é cauteloso? Ele explica:
  • First, Clinton’s overall lead over Trump — while her gains over the past day or two have helped — is still within the range where a fairly ordinary polling error could eliminate it.
  • Second, the number of undecided and third-party voters is much higher than in recent elections, which contributes to uncertainty.
  • Third, Clinton’s coalition — which relies increasingly on college-educated whites and Hispanics — is somewhat inefficiently configured for the Electoral College, because these voters are less likely to live in swing states. If the popular vote turns out to be a few percentage points closer than polls project it, Clinton will be an Electoral College underdog.
 
Claro que há muito mais, imensos liveblogues e um sem fim de locais onde seguir o escrutínio nos principais jornais norte-americanos, sendo que habitualmente prefiro fazê-lo num dos três grandes da Costa Leste – New York TimesWall Street Journal e Washington Post – onde é possível conhecer os resultados condado a condado através de um interface gráfico muito amigável. A escolha é vossa.
 
Agora algumas leituras para enquanto esperam pelos primeiros números. Sendo que começo por Portugal:
  • Os EUA vão eleger um mau presidente, de Rui Ramos, no Observador: “Nestas eleições, parece que os americanos, à direita ou à esquerda, não esperam escolher mais do que um mal menor. Mas um mal menor é ainda um mal. Os EUA vão ter um mau presidente, ganhe quem ganhar.”
  • Trump e a nostalgia do que nunca existiu, de João Miguel Tavares no Público: “Donald fala connosco como se fôssemos crianças de cinco anos: com ele, tudo vai ser fantástico, mesmo sem explicar como – “believe me”, repete –, e os Estados Unidos vão proteger-se com uma grande parede, para que os “bad ombres” fiquem do lado de fora.”
  • What Happened to America?, de João Marques de Almeida no Observador: “A vulnerabilidade dos americanos e dos ingleses ao populismo, à demagogia, à mentira, a uma linguagem racista e xenófoba é muito preocupante. (…)Se isto acontece nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que irá acontecer na Alemanha, em França e na Rússia? Se aqueles que acreditam na liberdade e em sociedades abertas e pluralistas, deixam de contar com americanos e com britânicos, quem nos irá defender?
  • A Europa dificilmente sobreviveria (sobreviverá) a Donald Trump, de Teresa de Sousa no Público: “É neste quadro que as eleições americanas chocam de frente com a nova realidade europeia. Trump promete pôr tudo em causa. O que quer isto dizer? Que as tropas americanas saem da Europa? Que a corrida ao armamento nuclear regressa sob a forma de proliferação? Ninguém tem a certeza de nada.”
 
E sigo com alguns recados para as discussões desta noite e do dia seguinte, que prometem ser muito azedas entre os republicanos, e por isso notem nestas duas colunas de dois analistas conservadores:
  • As we get closer to Election Day, remember…, de Jennifer Rubin no Washington Post: “Women may have the final and decisive word on Trump. It appears that there are more women than expected who are voting early. (…) Sometimes what goes around, comes around.”
  • Some helpful history to remember on election night, de George F. Will também no Washington Post: “In 1984, when Ronald Reagan carried 49 states, under-30 voters were the most Republican age group.This year, will it be, for the fourth consecutive election, the most Democratic?”
 
Bem, antes de terminar, e apenas para que tenhamos uma ideia do que podia vir aí, mais dois textos sobre o que poderá acontecer se Donald Trump vencer:
  • How Donald Trump Could Change the World, uma entrevista na The Atlantic a Thomas Wright, um especialista de política externa norte-americana da Brookings Institution, onde ele refere que “What’s unique about this election is that Trump has a very, very different notion of American foreign policy and [America’s] global role, and would dramatically change U.S. foreign policy if he was elected. Since the world is essentially organized around American power and American intentions, that would have an enormously disruptive effect. I think you need to go back, in terms of elections just totally unraveling the status quo, to the ’30s.”
  • What would Donald Trump's first 100 days of the presidency look like?, um trabalho do britânico The Telegraph, onde se escreve que, por exemplo, “A Trump presidency would break from the traditional Republican commitment to free trade, imposing a set of protectionist policies to close America's economic borders. He will immediately announce his intention to "renegotiate" the North American Free Trade agreement with Canada and Mexico. He would cancel participation in the Tran-Pacific Partnership, a controversial trade arrangement with 12 countries.”
 
E assim chegamos ao fim, a esta longa noite em que esperamos colocar uma pedra sobre a campanha mais agressiva e negativa história da democracia americana, em saberemos o resultado de uma eleição onde muitos estão a votar não por um candidato, mas contra o outro candidato. Depois de tanta negatividade, um toque final de optimismo, o de George Melloan no Wall Street Journal, em Whoever Wins, Capitalism Will Survive. Ou seja, “Don’t despair. Trump or Clinton may be a dismal choice. But the U.S. economy is resilient.”
 
Desta vez despeço-me sem vos desejar bom Descanso, pois a noite pode ser de vigília. Acabe ela bem. 

 
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