Humanidade, Imparcialidade, Neutralidade, Independência. É assim há mais de 150 anos para a Cruz Vermelha Portuguesa.
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Comemora-se esta segunda-feira o Dia Mundial da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, data que assinala o nascimento de Henry Dunant, fundador da instituição, a 8 de maio de 1828.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Luís Barbosa, destaca não a data de hoje em especial, mas antes o trabalho diário em prol dos outros, incondicional e desinteressado.
Está agendada alguma iniciativa para assinalar a data?
Não temos nenhuma iniciativa específica por uma razão simples: a Cruz Vermelha funciona todos os dias, todos os dias há problemas humanitários para resolver. Naturalmente é um dia de memória, a nossa forma de dignificar o dia em que a Cruz Vermelha faz anos é mantermo-nos no terreno em situações extremamente difíceis, como é o caso da Síria neste momento, apoiando o seres humanos que precisam. Essa é a grande comemoração.
Estamos a falar, no caso da Cruz Vermelha Portuguesa, de uma instituição com 152 anos de vida, que peso tem esta idade?
Muita experiência, naturalmente. Esses anos foram vividos com vários conflitos mundiais e uma das questões fulcrais é pensar que a Cruz Vermelha já foi por três vezes objeto de um Prémio Nobel da Paz, o que é muito significativo.
Muito mudou nos últimos anos. Hoje em dia falamos de teleassistência, teleurgência… Estamos a caminhar uma ajuda cada vez mais próxima das pessoas?
Sim, isso é indiscutível, as novas tecnologias têm cada vez mais importância. No mundo em que estamos a viver cada vez mais a informação é necessária porque o mundo é cada vez mais complexo. É preciso uma adaptação permanente.
Como é que se faz hoje uma vida sem água, sem gás, sem eletricidade? É algo muito difícil
A pobreza continua a ser o principal problema a combater em Portugal pela Cruz Vermelha?
A pobreza é uma insuficiência de recursos para fazer face às necessidades. E isso pode acontecer de muita maneira. Há pessoas que não pagam a água, que não têm dinheiro para o gás, para a eletricidade. Isso tem um reflexo na vida e na organização familiar muito profunda. Como é que se faz hoje uma vida sem água, sem gás, sem eletricidade? É algo muito difícil.
A crise trouxe novos desafios à Cruz Vermelha em Portugal?
Certamente. Novos e outros repetitivos. Há o problema da violência entre seres humanos… é dramático. E nós estamos constantemente a assistir a novas formas de violência. Há questões que são repetitivas com novos aspetos técnicos a ter em conta.
Quem faz não precisa de anunciar que faz. A solidariedade deve ser silenciosa
E em tempos de crise, os portugueses continuam a ser solidários?
Sim, o povo português é solidário. Mas nesta altura a solidariedade entrou numa certa fase de marketing. Há muitas vezes uma atitude por parte de doadores e de quem organiza formas de doação que tem muito a ver com publicidade - ‘nós fizemos isto, nós fizemos aquilo, nós ajudamos’ - Isso não é muito positivo, é retrógrado. Quem faz não precisa de anunciar que faz. Anunciar que faz não é bom.
Há um altruísmo com interesse.
A solidariedade deve ser silenciosa. O colete da Cruz Vermelha vê-se em reportagens em todo o mundo, simbolizando a presença de voluntários e profissionais, mas não se ouvem declarações nem discursos. Faz parte do estatuto de imparcialidade, de neutralidade e de independência da Cruz Vermelha, o que leva a que possa estar presente em todos os países, com todos os regimes políticos, com todas as religiões, sem nenhuma espécie de discriminação.
Para a Cruz Vermelha, é o ser humano que conta
Em caso de conflito, o que interessa é a humanização.
Indispensável. São seres humanos e nós olhamos para os seres humanos como tal. Com todas as diferenciações que a civilização vai estabelecendo, para a Cruz Vermelha é o ser humano que conta. Esse princípios não são ultrapassáveis de nenhuma forma.
Temos de ter cuidado e ter em conta que às vezes a felicidade desaparece de um dia para o outro
O conflito na Síria e a crise de refugiados são atualmente os problemas mais graves que a Cruz Vermelha Internacional enfrenta. Portugal tem a sorte 'passar ao lado'?
Até agora, felizmente, temos estado a uma certa distância dessas situações dramáticas, mas temos de ter cuidado e ter em conta, que apesar de tudo, às vezes a felicidade desaparece de um dia para o outro. Mas isso não é connosco, é um problema das autoridades, manter a segurança.
Portugueses estão em excelentes condições para prestar auxílio a nível internacional em situações de guerra
Como é que em Portugal se acompanha a situação internacional?
Estamos envolvidos no mesmo tipo de motivações e de entreajuda quando é esse o caso. Quando falamos de confrontos, de guerras, cabe mais ao Comité Internacional da Cruz Vermelha. Tem de ter uma posição ainda mais independente mas recruta pessoas para colaborar em todos os países. Pela informação que temos até há uma tendência para recrutar pessoas em Portugal. Fomos visitados ainda há pouco tempo por membros do Comité Internacional que acham que os portugueses estão em excelentes condições, pela sua personalidade, formação escolar e princípios, para prestar auxílio a nível internacional em situações de guerra.
Mais uma vez a Cruz Vermelha vai acompanhar a viagem dos peregrinos até Fátima. Será mais difícil este ano com a visita do Papa?
Vamos prestar um serviço aos caminhantes, como é habitual fazermos. Acredito que os níveis de segurança vão manter-se.
Gostava de deixar alguma mensagem a propósito do dia de hoje?
Apenas que a Cruz Vermelha estará sempre presente em todos os momentos, sem condições e sempre na melhor boa vontade para ajudar os seres humanos.
Fonte: Noticiasaominuto
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