Há coisas em que não é preciso inventar. Basta olhar lá para fora e perceber como fazer ou como não fazer. O turismo é um desses casos.
É um tema que, sobretudo em Lisboa e no Porto, parece polarizar mais as opiniões do que o sempre interessante Donald Trump. É claro que, além da turba barulhenta das redes sociais - que se reparte entre os que odeiam os turistas e os que odeiam quem odeia os turistas, que consideram burros retrógrados -, há gente normal, numa época em que ser normal parece ser o pior dos pecados.
O contributo económico do turismo é indesmentível e não pode ser desbaratado. Ou seja, combater o turismo é só um tique radicalista que dá uns slogans engraçados, mas que seria um erro. Da mesma forma que prosseguir como se nada fosse é um erro da mesma dimensão.
Lá está, basta olhar lá para fora, para destinos mais maduros do que o nosso. O Guardian dava voz aos protestos em Espanha e em Itália e alerta que o movimento antiturista cresce em toda a Europa, sobretudo no Sul. Ao mesmo jornal, o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo disse tudo: "Assegurar que o turismo é uma actividade enriquecedora para os visitantes e para os habitantes locais exige práticas e políticas sustentáveis, bem como envolvimento dos governos locais, das empresas do sector privado, das comunidades e dos próprios turistas."
A entidade liderada por Taleb Rifai dá mesmo conselhos sobre como o impacto pode ser amortecido, com benefícios para todos. Combater o alojamento ilegal; mitigar a sazonalidade, algo que Portugal tem mais condições para fazer; diversificar a oferta em termos de actividades; e encorajar os operadores turísticos a serem mais criativos e os turistas a visitar outros pontos de atracção que não os clichés no centro das cidades, sempre a abarrotar.
Tanto os efeitos positivos como os negativos do "boom" turístico são fáceis de ver. Neste último campo, os preços do imobiliário são apenas a face mais dramática de um movimento natural de aumento do custo de vida, mesmo sem os excessos criminosos dos Made in Correeiros desta vida. E isto não se esgota num debate fanático de uma clubite pró ou antiturista.
É preciso uma política coerente e integrada, que não existe. A última medida da Câmara de Lisboa, de proibir a circulação de autocarros turísticos ocasionais, é uma cartada eleitoralista de um executivo que anda há anos a desenhar a cidade para o turista, em detrimento do morador ou trabalhador.
Não vamos lá não fazendo nada nem vamos lá fazendo retoques de fachada. Quanto ao problema da sobrecarga de turistas, se calhar nem será um problema. Basta continuarmos com as intermináveis esperas para sair do aeroporto ou com a inenarrável oferta de transportes públicos para isso se resolver por si. Mesmo com o sol, a simpatia e a cerveja barata, nem os turistas têm paciência para tudo.
Fonte: Jornal de Negócios
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