quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O tanto que a Europa (não) mudou

Juncker, que até conhece bem Portugal, enganou-se ontem na geografia da União ao dizer que ela ia de Vigo a Varna e de Espanha à Bulgária. Será que acertou no caminho que preconiza para a Europa?
André  Veríssimo
André Veríssimo 13 de setembro de 2017 às 23:00

A diferença que 12 meses podem fazer. O discurso do presidente da Comissão Europeia passou, no espaço de um ano, de "os próximos 12 meses são decisivos para unir a Europa" para "o vento sopra de novo a favor da Europa".


Compreende-se. Por esta altura, em 2016, estava fresco o choque da vitória do Brexit e no horizonte pairava a ameaça da vitória da extrema-direita eurocéptica nas eleições holandesas e francesas.


Agora o optimismo está de volta, a economia da Zona Euro até cresce mais do que a dos EUA, os populismos ficaram na oposição e o Brexit parece cada vez mais um problema bicudo para os britânicos e quem os governa e menos uma ameaça ao bloco dos 27 que sobram.

Melhor, sem dúvida, mas nem por isso bem. O bloco continua sem recuperar a competitividade que foi 
perdendo nos últimos anos, com destaque para França. Macron, numa queda livre de popularidade, terá dificuldade em implementar as reformas prometidas. As coligações contranatura que governam em vários países tendem para o imobilismo. 


Na Polónia e na Hungria, continuam a afirmar-se regimes proto-autocráticos que questionam a identidade da União como um espaço comum de valores democráticos. O que pode representar um golpe ainda mais profundo do que o Brexit.


É neste quadro que o presidente da Comissão veio apresentar a sua receita para garantir o futuro da Europa. Sim, é ainda isto que está sobre a mesa. Defendeu Juncker que é preciso um alargamento da Zona Euro e de Schengen a mais países, assumindo estas duas vertentes como elementos fundamentais da pertença ao bloco. Pediu que a votação por unanimidade acabe em matérias fiscais e política externa. Quer que passe a existir um ministro das Finanças e da Economia, mas sem poder sobre os orçamentos nacionais, e um só presidente para a Comissão Europeia e o Conselho. No fim, valerá o que a Alemanha e a França ditarem, mas algumas destas ideias já são suas.


A integração foi sempre o que animou o projecto europeu, uma energia que o consolida e lhe garante um devir. Mas o que antes era visto como um processo de construção é agora percepcionado como uma fuga para frente. O que é intranquilizador. Tanto mais quando a União continua a parecer uma fortaleza demasiado distante, opaca e impenetrável sob o directório de dois alcaides. Nem tão pouco o euro deu ainda provas de que proporciona a todos os mesmos benefícios e é um instrumento de igualdade. Pelo contrário.


Numa coisa Juncker está certo: "Temos de completar este trabalho agora que o Sol brilha e enquanto ele estiver a brilhar." Mas antes convém reflectir bem se este é o trabalho de que a União precisa para garantir o seu futuro.

Fonte: Jornal de Negócios

Nenhum comentário:

Postar um comentário