Enquanto se propagandeia cada bloco colocado na pouco prioritária e super facturada ponte entre Maputo e a Ka Tembe, o Governo não tem cerca de 29 milhões de dólares norte-americanos necessários para a urgente e imperativa reabilitação da ponte sobre o Rio Save. Por isso o trânsito de viaturas de grande tonelagem está condicionado desde o passado dia 1, na única ponte que liga o Centro ao Sul de Moçambique. Note-se que o custo total da ponte Maputo - Ka Tembe é quase o triplo de todo orçamento gasto no Programa Integrado do Sector de Estradas(PRISE) em 2016.
Em meados de 2015 deveriam ter iniciado as obras de substituição de cabos pendurais, aparelhos de apoio, juntas de dilatação, reparação do pavimento, betão e pintura geral da ponte sobre o rio Save, construída nos anos 60 e inaugurada em 1972.
Orçada em aproximadamente 29 milhões de dólares norte-americanos a reabilitação foi adjudicada à construtora portuguesa Teixeira e Duarte que no entanto nunca chegou a iniciá-las. Em Abril de 2016 foram descobertas as dívidas secretas e ilegais da Proindicus e da MAM, os fundos da cooperação internacional foram suspensos e precipitou-se a crise que, entre outros impactos, desvalorizou o metical em mais de 100%.
O Relatório do balanço semestral do Plano Económico e Social do exercício económico de 2017, a que o @Verdade teve acesso, reconhece que as obras “deviam ter iniciado há 2 anos mas ainda não iniciaram devido a atraso no pagamento do adiantamento”.
De acordo com o Relatório, o impasse no arranque da reabilitação está relacionado com a “desvalorização do metical face ao dólar, o empreiteiro propõe o pagamento de 70% do contrato ao câmbio do dia”, refere o documento.
Só pode cruzar o Save um camião de cada vez com peso máximo de 35 toneladas
Entretanto o @Verdade apurou, junto a uma fonte do departamento de comunicação institucional da Administração Nacional de Estradas(ANE), que ao longo destes dois anos em que a reabilitação não aconteceu o estado de degradação da ponte sobre o rio Save acentuou-se daí a decisão tomada em Agosto último de limitar o peso máximo por cada veículo que cruza-la.
“Devido ao actual estado técnico da ponte sobre o rio Save na Estrada N1, ligando as províncias de Inhambane e Sofala, a Administração Nacional de Estradas comunica que, a partir do dia 31 de Agosto de 2017, o peso bruto dos veículos que circulam nesta ponte não deverá exceder 35 toneladas, observando os limites admissíveis por eixo ou grupo de eixos”, pode-se ler no comunicado de imprensa da ANE que ainda refere que só “será permitido o trânsito de um único veículo pesado de cada vez, através do eixo central da ponte, numa velocidade máxima de 30 km/h”.
O comunicado que estamos a citar não estabelece durante quanto tempo a medida vai durar mas o @Verdade apurou que só poderá ser revista quando as obras de reabilitação iniciais, e as adicionais devido a contínua degradação, forem executadas.
Reabilitação da ponte sobre o rio Save representa menos de 4% do custo da ponte Maputo - Ka Tembe
As referidas obras não tem nenhum previsão para acontecerem devido a manifesta falta de fundos do Orçamento de Estado e a suspensão de grande parte dos financiamentos internacionais, responsáveis por mais de 60% do financiamento do sector de Obras Públicas.
No cúmulo da falta de ideias para arranjar fundos o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, chegou mesmo a sugerir que fosse feita uma Parceria Público-Privada para a reabilitação da ponte sobre o rio Save e o privado depois instalasse uma portagem para recuperar os investimentos.
Todavia, enquanto não há dinheiro para uma infra-estrutura de vital importância para Moçambique - cruzam diariamente uma média de três centenas de camiões de grande tonelagem, autocarros e milhares de viaturas - estão a decorrer em sprint as obras da majestosa ponte entre a cidade de Maputo e o distrito municipal Ka Tembe.
Orçada em 725 milhões de dólares norte-americanos, em Dívida Pública de Moçambique com a China em condições que não são públicas, o custo desta ponte que tem viabilidade duvidosa é notavelmente elevado, quando comparado com obras similares em outras partes do mundo. Aliás o “timing” do empréstimo parece ter sido alinhavado à tempo do ciclo eleitoral de 2013 e 2014, e não é preciso grandes investigações para saber que não só no nosso país as obras públicas são ideais para geração de fundos de campanha.
Mas o facto é que o custo da reabilitação inicial da ponte sobre o rio Save, que é uma necessidade para a maioria dos moçambicanos, representa menos de 4% do custo da ponte que vai beneficiar menos de 10% do povo moçambicano e alguns turistas.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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