Três séculos de reinado da Rainha e Padroeira do Brasil! 300 anos de uma chuva constante de graças dispensadas não somente no abençoado local da aparição de 12 de outubro de 1717, mas de norte a sul deste reino da Santíssima Mãe de Deus e de todos os brasileiros.
A profunda crise social, política e econômica que hoje convulsiona o Brasil é incomensurável e sem precedentes. Mais grave ainda, no entanto, é a crise religiosa e moral que nos aflige. Tudo isso nos leva a voltar súplices nossos olhos para nossa Rainha e Padroeira, que está à nossa espera. Corramos e roguemos à Senhora da Conceição Aparecida que nos socorra e salve esta nação destinada por Deus a uma missão tão grandiosa — e da qual, entretanto, está tão distante em decorrência da descristianização que grassa em todos os quadrantes do País, até mesmo nos ambientes religiosos, provocada pelo clero progressista aliado da “Teologia da Libertação”.
Neste jubileu comemorativo dos 300 anos da “pesca milagrosa” da imagem da Virgem Mãe Aparecida nas águas do Paraíba, lucraremos muito em recordar o estupendo milagre e as dádivas advindas a partir daí para o Brasil. Catolicismo presta, assim, sua homenagem à nossa Augusta Rainha, recordando sua prodigiosa história através, sobretudo, de considerações tecidas por Plinio Corrêa de Oliveira em algumas conferências e matérias publicadas na imprensa.
Direção de Catolicismo
Na história do Brasil, a história mariana por excelência
Para uma breve recomposição do lugar da aparição da bendita imagem de Nossa Senhora Aparecida e do desenvolvimento da devoção a Ela até ser oficialmente declarada Rainha do Brasil, seguem algumas conjecturas feitas por Plinio Corrêa de Oliveira em conferência realizada no dia 5 de outubro de 1964.
“É interessante notar como surgiu a devoção a Nossa Senhora Aparecida, que características tomou e como foi se desenvolvendo ao longo da história do Brasil. Sabemos que ela nasceu no Vale do Paraíba, e conhecemos o seu ponto de partida.
Em outubro de 1717, três pescadores [Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso] estavam pescando no Rio Paraíba. De repente eles ‘pescam’ com suas redes o corpo de uma imagem e, mais adiante [numa segunda lançada das redes], sua cabeça. A pescaria, que estava muito difícil até aquele momento, tornou-se abundante. Depois eles construíram junto ao rio uma capelinha para a imagem que tinham encontrado, substituída mais tarde por uma capela maior. Muitos anos depois, ergueu-se no local uma igreja.1
As bênçãos ali alcançadas foram acentuadamente numerosas. O povo começou a afluir em quantidade, recebendo graças extraordinárias. Entre elas se conta que um escravo chamado Zacarias, perseguido por seu senhor; ele rezou diante da Imagem Aparecida pedindo a sua libertação. De repente percebeu que suas algemas se partiram, ficando livre delas. E seu senhor, que iria puni-lo ferozmente, porque tinha fugido, viu-se desarmado e concedeu-lhe a liberdade. As correntes e algemas ainda se conservam na sala dos milagres na cidade de Aparecida.2
Desde então a devoção a Nossa Senhora Aparecida se tem generalizado. Populações daquela zona do norte do estado de São Paulo, como também de Minas Gerais, do estado do Rio e de todo o Brasil, confluem para ali. Ela vai atendendo aqueles devotos, concedendo continuamente benefícios celestiais.
Coroada solenemente Rainha do Brasil
Ao mesmo tempo em que isto se dava, a devoção à Virgem Aparecida foi marcando a vida da Igreja. A tal ponto que, no pontificado de São Pio X, Ela foi coroada solenemente Rainha do Brasil, em 8 de setembro de 1904. Coroação efetivada num ato oficial, na presença de muitos membros do Episcopado nacional. De acordo com decreto da Santa Sé, Nossa Senhora Aparecida passou a ser Rainha do Brasil. Mais tarde, em julho de 1930, Pio XI a declarou Rainha e Padroeira do Brasil.
A Santa Sé tem o direito de constituir uma padroeira para determinada nação, bem como de erigir uma rainha dessa natureza, que estabelece um vínculo especial de um determinado povo com Nossa Senhora, e — o que é mais estupendo — da Santíssima Virgem com esse povo. O poder de desligar e ligar na Terra e no Céu tem, entre outros, esse efeito (Cfr. Mt 16, 17-19).
E Nossa Senhora, portanto, ficou sendo no Céu a verdadeira Rainha do Brasil. Esse fato nos deve ser muito grato, porque devemos ver nele um prenúncio do Reino de Maria.3
Com Nossa Senhora aclamada Rainha do Brasil, o Reino de Maria juridicamente já ficou declarado. E juridicamente — para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres — Nossa Senhora tem direitos sobre o Brasil maiores ainda do que se Ela fosse Rainha apenas nesta Terra.
Devido a isto, temos uma obrigação especial de cultuar Nossa Senhora, de dar glória a Ela, de difundir sua devoção por toda parte, de lutar junto aos outros povos que resistam ao culto de Nossa Senhora, de fazer, portanto, cruzadas em nome d’Ela. Com isso, é toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil, a partir precisamente dessa devoção a Ela como nossa Rainha.
Não esquecer o verdadeiro polo: Aparecida
Daí decorre também outro fato: se o Brasil não fosse oficialmente o País agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria, para determinados efeitos, que sua capital autêntica fosse Aparecida.
Depois de Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, eu não concebo a possibilidade de que os grandes atos da vida nacional se realizem em outro lugar que não em Aparecida: promulgação de leis importantes, declarações de guerra, tratados de paz, grandes solenidades das ilustres famílias do País. Eu só concebo tais atos sendo realizadas em Aparecida, que, como resultado dessa coroação, passou a ser o centro espiritual do País.
No momento em que tanto se discute ‘Brasília ou Rio’, nós esquecemos o verdadeiro polo — Aparecida —, para esses efeitos, a verdadeira capital do País! Assim se tem a perspectiva de como Aparecida deveria ser considerada.
É bonito imaginar como será a Basílica de Nossa Senhora Aparecida quando for instaurado no Brasil o Reino de Maria [predito por São Luís Maria Grignion de Montfort e revelado em Fátima em 1917]. Que honra, que pompa, que grandeza, que nobreza, que elevação essa basílica deveria ter!
Podemos imaginar uma grande conjunção de Ordens religiosas contemplativas que deveriam se estabelecer naquela região; grandes confessores que fossem confessar ali, para fazer bem às almas; centros especiais de cursos para intensificação da devoção mariana; enfim, quanta e quanta coisa.
São desejos que não estão no reino dos sonhos e dos ideais. Nós, que confiamos na Providência Divina, sabemos bem a diferença que há entre um sonho e um ideal. Para o homem que não confia na Providência todo ideal não é senão um sonho; para o que confia, muita coisa que parece sonho é um ideal realizável. Devemos esperar que Ela realize tais fatos e fazer tudo para apressar esse dia — dia da constituição naquela localidade de uma ordem de coisas como deve ser, sintoma da remodelação de todas as coisas no Brasil e no mundo, para o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará’.
É para o triunfo do reinado do Coração Imaculado de Maria — que no Brasil se apresenta sob a devoção a Nossa Senhora Aparecida — que devemos rezar”.
Um escândalo — uma afronta à Imaculada Conceição de Nossa Senhora
A respeito do anseio de um efetivo reinado da Santa Mãe de Deus entre nós, referido na parte anterior, é doloroso constatar que ele parece ir sendo adiado. Esse desejo está impregnado na alma dos devotos católicos, mas as recusas a essa graça insigne são muitas e outros fatores nos distanciam desse sonho maravilhoso. Razões? — Devido, por exemplo, a graves pecados, profanações, sacrilégios e blasfêmias praticadas contra Ela em nossas terras.
Com efeito, apesar das imensas graças derramadas aos brasileiros, nossa Pátria tem sido palco de pecados públicos contra sua Rainha e Padroeira. Boa parte de seu povo — enchafurdado num tsunamide imoralidades de toda ordem, impulsionado por vários meios de desagregação, entre os quais as TVs com suas novelas sordidamente imorais que invadem os lares dia e noite, não poupando sequer as crianças — volta as costas para Ela, em busca de uma vida só de interesses imediatos e prazeres terrenos.
Não faremos aqui um elenco de tais pecados coletivos, pois encheria várias páginas… Ainda neste ano, no último carnaval, um escândalo sem precedentes: Nossa Santíssima Rainha foi cruelmente ultrajada. Realizou-se um “carnaval de blasfêmias”, como já foi publicado nesta revista, mas que relembramos aqui a fim de se apalpar a gravidade da situação, a necessidade de reparação e de emenda de vida.
Justamente a propósito do terceiro centenário da aparição, com autorização de altas autoridades eclesiásticas permitiu-se que uma réplica da sacrossanta imagem de Nossa Senhora Aparecida fosse exposta num carro alegórico no sambódromo da capital paulista. Levada pela Escola de Samba Unidos da Vila Maria, em meio a outras “escolas de samba” com um desfile de imoralidades próprias a um bacanal, com passistas em trajes sumários, danças torpes, drogas, bebedeiras etc.
A propósito do escândalo causado pela presença da imagem da Virgem Santíssima no carnaval, recordemos uma advertência do grande São Dionísio Areopagita: “A salvação das almas é, entre as obras divinas, a mais divina. Portanto, induzir as almas ao pecado por meio do escândalo é, entre as obras diabólicas, a mais diabólica”.
O ato escandaloso deixou inúmeros fiéis católicos indignados, que fizeram atos de reparação. Mas nem a totalidade, nem sequer a maioria das paróquias se empenharam em desagravar tão grave afronta à Imaculada Conceição,4 representada por sua sagrada imagem no carnaval pornográfico do sambódromo.
Alguns movimentos reagiram, como o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, que coletou aproximadamente 10.000 assinaturas de apoio a uma carta entregue ao Cardeal de Aparecida pedindo-lhe que impedisse essa ofensa à Santa Mãe de Deus. E também promoveu uma manifestação de desagravo à Imaculada Conceição Aparecida junto ao Monumento da Independência no bairro do Ipiranga da capital paulista [foto]. Portando uma faixa com os dizeres: “Face à grave ofensa no carnaval: reparação, reparação, reparação”, os participantes rezaram um terço e uma oração para desagravá-La.
Quebra da imagem sacrossanta! Um sinal! Sinal de quê?
Outro gravíssimo sacrilégio, embora mais remoto, contra a imagem de Nossa Senhora Aparecida, ocorreu no dia 16 de maio de 1978, quando um protestante a arrancou de seu altar e a espatifou, reduzindo-a em quase 200 fragmentos.5
Em reparação à Santa Mãe de Deus, Plinio Corrêa de Oliveira organizou uma peregrinação de vários quilômetros a pé até Aparecida do Norte, e publicou na “Folha de S. Paulo” o artigo que transcrevemos a seguir, no qual expressa sua dor pelo sacrílego atentado.
A Imagem que se partiu
Plinio Corrêa de Oliveira
“Folha de S. Paulo”, 29-5-1978
O Brasil, há mais de dois séculos, venera Nossa Senhora como sua especial Padroeira. E essa veneração se dirige a Ela sob a invocação de Imaculada Conceição Aparecida.
— Nossa Senhora Aparecida!
A exclamação acode frequentemente ao espírito dos brasileiros. E sobretudo nas grandes ocasiões. Pode ser o brado de uma alma aflita que se dirige a Deus pela intercessão da Medianeira que nada recusa aos homens, e à qual Deus, por sua vez, nada recusa. Pode igualmente ser a exclamação de uma alma que não se contém de alegria e extravasa seu agradecimento aos pés da Mãe, de quem nos vêm todos os benefícios.
A história da pequena imagem de terracota escura — com o seu grande manto azul sobre o qual resplandecem pedras preciosas, e cingindo à fronte a coroa de Rainha do Brasil — encheria livros. Esses livros, se fossem concebidos como eu os imagino, deveriam conter não só os insignes fatos históricos que a Ela se prendem, mas também, em apêndice, as legendas que a piedade popular a respeito deles teceu. É da amálgama de uma coisa e outra — história séria e incontestável, e legenda graciosa — que resulta a imagem global da Aparecida como ela existe no coração de todos os brasileiros:
- o escravo que rezava aos pés da Senhora concebida sem pecado original, ao mesmo tempo que dele se acercava o dono inclemente, quando as algemas se rompem, o coração do amo que se comove etc.;
- o Príncipe Regente que saudava a imagem no decurso do trajeto que o levava do Rio a São Paulo, onde iria proclamar a Independência e fazer-se imperador;
- o ato do novo monarca colocando oficialmente o Brasil sob a proteção da Virgem Imaculada Aparecida;
- a coroação da imagem com a riquíssima coroa de ouro cravejada de brilhantes, oferecida anos antes pela Princesa Isabel, coroação feita em 8 de setembro de 1904 pelos bispos da Província Meridional do Brasil e de outros pontos do País, em razão do decreto do Cabido da Basílica Vaticana, aprovado por São Pio X;
- o velho Venceslau Brás, ex-presidente da República, assistindo piedoso, no jubileu de prata da coroação da imagem, à missa hieraticamente celebrada por D. Duarte Leopoldo e Silva, reluzente daquela como que majestade episcopal tão caracteristicamente dele;
- a solene proclamação do decreto do Papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, constituindo e declarando “a Beatíssima Virgem Maria, concebida sem mácula, sob o título de Aparecida, padroeira principal de todo o Brasil, diante de Deus”;
- a apoteótica manifestação do dia 31 de maio de 1931, em que o episcopado nacional, diante da milagrosa imagem levada triunfalmente ao Rio de Janeiro em trem-santuário, na presença das maiores autoridades civis e militares e em união com todo o povo — mais de um milhão de pessoas! — consagrou o País a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
E assim por diante, sem falar das curas, aos milhares. Quantos milhares? Cegos, aleijados, paralíticos, leprosos, cardíacos, que direi eu mais! Multidões e multidões sem conta de devotos, vindas do Brasil inteiro, com as mães contando às criancinhas, ao voltarem para os lares, alguma narração piedosa sobre a santa, inventada na hora ou ouvida da avó ou da bisavó. Bem entendido, narração enriquecida, de geração a geração, com mais pormenores maravilhosos.
Tudo isso levava o Brasil inteiro a emocionar-se — e com quanta razão — ante a pequena Imagem de terracota escura, vendo nela o sinal palpável da proteção de Nossa Senhora.
E o sinal se quebrou.
Por sua vez, essa quebra não será um sinal? Sinal de quê?
A julgar pelas narrações da imprensa, os pormenores do fato ocorrido estão envoltos em mistério. [...]
Amigos meus que conversaram há dias com altíssima personalidade eclesiástica, dela ouviram que o sacrilégio teria relação com a aprovação do divórcio no Brasil.
A hipótese faz pensar. Talvez, entristecida a fundo pela promulgação do divórcio, Nossa Senhora, ao permitir o crime, tenha querido fazer ver ao povo brasileiro seu desagrado pelo fato. Seria bem isso? Sem dúvida, a introdução do divórcio foi um gravíssimo pecado coletivo cometido pela Nação brasileira. [...]
Há dois aspectos pelos quais a aprovação do divórcio pode ser relacionada com o crime sacrílego. De um lado, se o divórcio foi aprovado, é porque a resistência contra o mesmo foi insuficiente. Quando o sr. N. Carneiro era aclamado aos brados pelo plenário do Congresso e por uma minoria que abarrotava as galerias, logo depois da aprovação da lei, a Nação dormitava. E essa soneira em hora tão grave exprime, por sua vez, uma flagrante falta de zelo. Pois não nos basta não fazer uso da lei. Se não a queríamos, por que não a impedimos?
Por outro lado, como não reconhecer nesse censurável indiferentismo, não um estado de espírito de momento, mas uma atitude de alma resultante de efeitos ainda muito mais profundos?
Quando a moralidade das modas decai assustadoramente, quando os costumes sociais se degradam a todo momento e a limitação da natalidade, praticada por meios condenados pela Igreja, vai ganhando proporções assustadoras, prepara-se o caldo de cultura para o comunismo. Este, embuçado em criptocomunismos, eurocomunismos, socialismos e outros disfarces ideológicos, vai avançando. Como não reconhecer nisto um complexo de circunstâncias nas quais se insere, com toda a naturalidade, o divórcio?
Isto dito, como não lembrar a profecia de Nossa Senhora, feita em Fátima pouco depois da queda do tzarismo?
Eis as palavras d’Ela: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.
É impossível não perguntar se existe uma relação entre essa trágica e materna previsão, desatendida pelo mundo, e a também trágica ocorrência de Aparecida. Não será esta um eco daquela? Um eco destinado especialmente ao Brasil, pois que entre nós, e contra a Imagem de nossa Padroeira, o crime se deu.
Especialmente para o Brasil, sim; exclusivamente para o Brasil, quiçá não. Pois nosso País é o que tem hoje em dia a maior população católica do globo. E Aparecida é, depois de Guadalupe, o santuário mariano de maior afluxo de peregrinos em todo o orbe. Pelo que, quanto aqui ocorra em matéria de devoção marial tem um significado para o mundo inteiro.
Muitos dirão que a ilação entre Fátima e Aparecida não pode ser afirmada, por falta de provas cabais. Não entro aqui na análise da questão. Pergunto simplesmente se há quem se sinta com base para negá-la…
A indispensável restauração moral do Brasil
Narramos apenas alguns atos sacrílegos que marcaram muito nossas vidas. No entanto, diversos outros aconteceram deploravelmente, como o do pastor protestante que chutou uma cópia da imagem de Nossa Senhora Aparecida perante câmaras de televisão no dia de sua festividade em 1995, ou do evangélico que no dia 4 de abril de 1999 atirou uma pedra na bendita imagem. Nestes últimos anos temos tido notícias sobre o aparecimento de muitas apresentações blasfemas em filmes, exposições, shows, teatros etc. ridicularizando Deus e Sua Santa Mãe.
Um exemplo recente. Em fins de agosto e início de setembro, o Banco Santander, utilizando dinheiro público proporcionado pela “Lei Rouanet”, organizou em Porto Alegre a exposição de “arte” blasfema denominada Queermuseu. Queer é o termo inglês para qualificar algo estranho, peculiar, entretanto mais aplicado atualmente como sinônimo de homossexual.
Com 263 “obras de arte” e aberta às crianças, essa exposição LGBT apresentava cenas escabrosas de pornografia infantil e fazia até mesmo “apologia da pedofilia e da zoofilia”, como afirmou o prefeito portalegrense, Nelson Marchezan Junior. Mas a impiedade, em tal exposição, não se detinha aí: ela atingia diretamente a honra de Jesus Cristo e de Nossa Senhora.
Diante da repercussão altamente negativa, o Santander Cultural alegou que a finalidade da exposição era “fazer refletir sobre os desafios que devemos enfrentar em relação a questões de gênero, diversidade, violência”. E depois foi obrigado a pedir desculpas (esfarrapadas), ao ver que milhares de correntistas indignados estavam transferindo suas contas para outros bancos.
Graças a Deus, a forte reação de movimentos conservadores de todo o País teve como efeito o cancelamento da exposição, mas seus promotores dizem pretender levá-la agora para outras capitais, começando por Belo Horizonte. Não se sabe, até o momento do fechamento desta matéria, se o conseguirão, pois os católicos mineiros já estão reagindo e dizendo que “BH não é depósito de lixo!”.
* * *
Pouco depois de cancelada a referida mostra LGBT na capital gaúcha, outra peça blasfema foi programada para ser apresentada, desta feita no SESC de Jundiaí (SP). Denominada de modo infame “O Evangelho de Jesus, Rainha do Céu”,também foi cancelada em virtude das reações indignadas pela ofensa que nela se fazia à divina pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, que seria representado por uma “mulher transexual”.6
Não sabemos se seus promotores conseguirão levar essa monstruosa peça de teatro para outras cidades, mas, também até o fechamento desta matéria, uma liminar expedida pelo Juiz da 1ª. Vara Cível de Jundiaí, Dr. Luiz Antonio de Campos Júnior, impediu sua apresentação naquela cidade.7
Brasil, outrora a maior nação católica da Terra
Relacionemos agora essas considerações com o nexo existente entre Fátima e Aparecida, estabelecido por Plinio Corrêa de Oliveira no artigo acima transcrito. Nexo que se torna hoje mais evidente do que nos tempos em que tal artigo fora redigido. Senão, vejamos. Em Fátima, Nossa Senhora profetizou: “A Rússia [...] espalhará seus erros pelo mundo”. Os erros da doutrina ateia e materialista do comunismo estão aí, difundidos por todas as partes — até mesmo no igualitarismo pregado pelo clero de esquerda —, visando ao chamado “despojamento”, que consiste em privar a Santa Igreja de todo esplendor, riqueza, beleza e hierarquia.
Os “erros do comunismo” estão também enraizados nas constituições das diversas nações. Por exemplo, nas legislações que de um lado debilitam o direito de propriedade e a instituição familiar, e de outro favorecem o divórcio, o aborto, a antinatural Ideologia de Gênero, o “casamento” entre duplas do mesmo sexo etc.
Se quisermos ser autênticos filhos de Deus e de Nossa Senhora, não podemos cruzar os braços e deixar de repará-Los à altura pelas ignomínias e afrontas que sofrem. Tais abominações feitas contra o Céu afetam diretamente a “Terra de Santa Cruz”, de cujo nome o Brasil não mais poderia se ufanar, pois a aceitação delas implicaria em transformá-lo numa “terra da foice e do martelo”…
Nesse sentido, para não nos estendermos muito, basta lembrar que devido aos malefícios advindos à Igreja com o progressismo dito católico — sobretudo os da crise oriunda do Concílio Vaticano II —, o número de católicos diminuiu imensamente, e os espaços vazios deixados por eles vêm sendo preenchidos por outras religiões e seitas.
De acordo com o Censo demográfico IBGE/2010, relativo às religiões no Brasil, a cifra de católicos sofreu uma forte queda: “Entre 1960 e 2010, o Brasil viu a parcela de sua população que se declara católica cair de 93,1% para 64,6%”. E registra que nós, católicos, perdemos mais espaço para os evangélicos: “Entre 2000 e 2010, fatia de católicos cai 12% no total da população brasileira; parcela dos evangélicos cresce 43% e de pessoas sem religião sobe 10%”.
* * *
À vista dos “erros comunismo” difundidos no Brasil, considerados em todas as suas conotações e tonalidades, podemos nos dar conta da urgente necessidade de uma restauração dos valores católicos em nossa Pátria. Como obtê-la? Rejeitando tais erros; arrependendo-nos dos nossos pecados; fazendo um filial pedido de perdão e uma súplica sincera a nossa Rainha e Padroeira: “Vinde, Senhora, em nosso socorro! Vinde logo! Não tardeis, pois vossos filhos estão naufragando neste mar de erros do mundo contemporâneo. Protegei sob o vosso Manto maternal este País como feudo vosso; transformai-o efetivamente em Reino vosso; estabelecei aqui o vosso trono e fazei de vossos filhos dignos súditos da Rainha do Céu!”.
Agradecimento, pedido de perdão e súplica pelo Brasil
Em 1972 Brasil completou o sesquicentenário de sua independência. Plinio Corrêa de Oliveira publicou nessa ocasião um artigo na “Folha de S. Paulo” que corresponde a uma fervorosa e eloquente súplica. Tal é a elevação de seu teor, que muitos o qualificaram não de um artigo, mas de uma oração enternecedora pelo Brasil. Esta consistiu num agradecimento e, ao mesmo tempo, num pedido de perdão e numa súplica dirigida a nossa Rainha e Padroeira.
“Agradecimento” pela grandiosa missão concedida pela Divina Providência ao nosso País; “perdão”pelos desvios nessa esplêndida missão; “súplica” para que, apesar de tais desvios, a nação brasileira atinja no mais alto grau a sua missão histórica. Transcrevemo-lo, no encerramento de nossa homenagem à Virgem Mãe Aparecida em seu tricentenário.
Prece do sesquicentenário
Plinio Corrêa de Oliveira
“Folha de S. Paulo”, 16-1-1972
“Ó Senhora Aparecida.
Ao aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil. 150 anos de vida são, para um povo, o mesmo que 15 para uma pessoa: isto é, a transição da adolescência — com sua vitalidade, suas incertezas e suas esperanças — para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e sua capacidade de realizar.
Neste limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.
Agradecimento
Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.
Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais e as riquezas que nele pusestes.
Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu na grande caudal étnica de origem lusa, e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.
Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.
Agradecemo-Vos nossa História serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho do que de desavenças e guerras.
Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória.
Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças de grandeza.
Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.
Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos é dada não só para nosso bem, mas para o de todos.
Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa história no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, e terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.
Prece
Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas. Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.
Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.
E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.
Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.
Quanto confiamos nela!
Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.
Quanto é rica destes e de todos os outros dons imagináveis a vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!
Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.
Amai-o mais e mais.
Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.
Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.
Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da Terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.
Fazei-nos sempre mais amantes da paz e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho vosso e Senhor nosso.
De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.
Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?
De Vós exclamava profeticamente o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos:
— Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostri. Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama”.8
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Notas:
- Refere-se à chamada “Basílica Velha”, ainda em nossos dias aberta aos fiéis, que data de 1888. No ano em que Dr. Plinio pronunciou esta conferência, a atual Basílica, o “Santuário Nacional”, ainda não estava construída. Sua inauguração ocorreu somente em 1980.
- Vide Catolicismo, Nº 502, outubro/1992. Ao leitor desejoso de conhecer mais detalhes desse milagre, e de vários outros operados por meio de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, aconselhamos o livro Rainha do Brasil — A maravilhosa história e os milagres de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, dos irmãos Gustavo Antônio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo (Diário das Leis, São Paulo, 1992). Pedido pelo tel.: (11) 3331-4522.
- Ao referir-se a “Reino de Maria”, o autor o entende no mesmo sentido empregado por São Luís Maria Grignion de Montfort (grande missionário francês do século XVII) em seus escritos, especialmente no célebre Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem: “Quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? [...] Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o Vosso [de Jesus Cristo] Reino” (São Luís Maria G. de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 1984, 13ª ed., pp. 210-211).
- “Conceição Imaculada”: singular privilégio concedido por Deus à Virgem Maria por ter sido concebida sem pecado original. De onde o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 8 de dezembro de 1854 pelo Bem-aventurado Papa Pio IX.
- A sacrossanta imagem foi totalmente reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, restauradora, na época, do Museu de Arte de São Paulo.
- A “Folha de S. Paulo” (online em 17-7-17) noticiou o nosso esperado cancelamento. Com o título “Peça com transexual em papel de Jesus é cancelada após decisão judicial”, publicou: “Em página do Facebook, a organização do espetáculo creditou o pedido de cancelamento a ‘congregações religiosas, políticos e pelo TFP (Tradição, Família e Propriedade)’. [...] A atriz e travesti santista Renata Carvalho, que interpreta Jesus Cristo na peça, diz que houve protestos contra a peça durante a semana e que foi ela informada sobre a liminar [...] pela equipe do Sesc, uma hora e meia antes de começar o espetáculo. [...] Segundo Carvalho, o documento judicial suspende apenas a apresentação no Sesc Jundiaí”.
- Escreveu o Juiz Luiz Antônio de Campos Júnior: “Além de ser uma peça de indiscutível mau gosto e desrespeitosa ao extremo [...] Não se olvide da crença religiosa em nosso Estado, que tem JESUS CRISTO como o filho de DEUS, e em se permitindo uma peça em que este HOMEM SAGRADO seja encenado como um travesti, a toda evidência, caracteriza-se ofensa a um sem número de pessoas”.
- Os textos integrais dos artigos reproduzidos, assim como uma coletânea de documentos sobre Nossa Senhora Aparecida encontram-se disponíveis no site: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Mariologia_Nossa_Senhora_Aparecida.htm
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