A Prime Rate do Sistema Financeiro voltou a reduzir em Março porém os bancos comerciais que operam em Moçambique teimam em manter as suas altas margens por cada categoria de crédito que vendem obrigando os moçambicanos a pagar taxas de juro idênticas às cobradas pelos agiotas. Equivocadamente o Presidente Filipe Nyusi anunciou durante a sua visita à Suíça que as taxas de juro haviam descido para 18 por cento!
Quiçá animado pela retórica do Governador do Banco de Moçambique o Presidente da República anunciou durante a sua visita à Suíça que as taxas de juro nos bancos nacionais haviam descido para 18 por cento. A “trupe” de empresários que o acompanhou, sempre prontos a enaltecer o Executivo para manter a “mama” dos negócios estatais, saudou efusivamente como sendo uma “notícia apetecível que estávamos a espera”, “um sinal muito positivo” e houve mesmo quem disse ser o “princípio de uma nova era”.
Efectivamente a taxa única de referência para as operações de crédito de taxa de juro variável do sistema financeiro moçambicano, denominada Prime Rate, baixou, pelo quarto mês consecutivo, mas apenas para 25,5 por cento durante o mês de Março, depois de ter fechado o ano de 2017 em 27,25 por cento.
Contudo, esta taxa que serve de base para os créditos que os bancos comerciais vendem é somada às margens que cada instituição financeira cobra (spread máximo de risco de crédito) por cada categoria de produto de crédito e o resultado é que determina a taxa de juro que efectivamente é cobrada aos moçambicanos que pedem dinheiro emprestado.
O facto é que as margens que os principais bancos comerciais cobram, e que se somam à Prime Rate, não mudaram desde que o banco central impôs alguma transparência no estabelecimento das taxas de juro, em Julho de 2017.
Por exemplo o @Verdade verificou que o líder do mercado, o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), cobrava uma margem máxima de 9,5 por cento no leasing/factoring, 6,5 por cento no crédito à habitação, 12,5 por cento no crédito ao consumo e 11,5 por cento nos empréstimos até 1 ano ou acima de 12 meses.
Spreads iguais aos que cobra actualmente e que colocam a taxa de juro leasing/factoring nos 35 por cento, do crédito à habitação em 32 por cento, do crédito ao consumo em 38 por cento, e dos empréstimos a 37 por cento.
Também o Millenium Bim (MBim) mantém as mesmas margens de Julho de 2017 que hoje, mesmo com a descida da Prime Rate, cifram a taxa de juro do leasing/factoring em 35,5 por cento, o crédito à habitação vendem a 33,5 por cento, o crédito ao consumo taxam a 37,5 por cento, o empréstimos até um ano a 35,5 por cento e o empréstimos a mais de 1 ano em 36,5 por cento.
Já o Standard Bank reduziu de 10,25 por cento para 5,5 por cento o seu spread e vende o leasing/factoring a 31 por cento. As outras margens mantêm-se inalteradas há pelo menos 7 meses taxando o crédito à habitação 28,75 por cento, o crédito ao consumo e o empréstimo até 1 ano a 36,75 por cento e o empréstimo a prazo superior a 1 anos cobra 35,75 por cento.
Portanto os bancos comerciais que dominam cerca de 70 por cento do sector financeiro moçambicanos não alteraram as margens e cobram quase tanto quando os agiotas do mercado!
“Enquanto o crédito ao sector privado caiu o crédito para o sector público aumentou”, governador do Banco de Moçambique
Mas o @Verdade verificou que os bancos vocacionados aos pobres, de microfinanças, fazem ainda pior. O LETSEGHO não alterou nenhum dos seus spreads e cobra 49,75 por cento no crédito ao consumo e para empréstimo até 1 ano, para empréstimo com prazo superior taxa 47,35 por cento.
O banco Socremo embora tenha reduzido as suas margens as suas taxas de juro são ainda altíssimas. O crédito à habitação custa 67,75 por cento, tão caro quanto o crédito ao consumo ou um empréstimo até 1 ano. O empréstimo há mais de 1 ano custa 65,75 por cento.
Note-se que embora o Governador do Banco de Moçambique tenha afirmado que Moçambique está a sair da crise Rogério Zandamela também disse no passado dia 26 que “o crédito à economia continua a decrescer” e explicou que o crédito tem sido absorvido quase na totalidade pelo Estado, “enquanto o crédito ao sector privado caiu o crédito para o sector público aumentou”.
Aliás grande parte desse crédito ao sector público é concedido em forma de Títulos do Tesouro que têm rendido biliões aos bancos comerciais graças justamente as elevadas taxas de juro. Enquanto os moçambicanos sofrem com a crise o BCI, o MBIM e o Standard Bank ganharam mais de 9 biliões de meticais em lucros.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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