Segundo Gramsci, um filósofo italiano contemporâneo, "não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal". Isso significa que as questões filosóficas fazem parte do cotidiano de todos nós. Todos nós somos filósofos, no sentido bem amplo, porque todos têm a capacidade de pensar.
Todos nós podemos filosofar e superar o ACHISMO que marca o dia-a-dia das pessoas. Eu acho. Eu acho... Não basta achar. É preciso ter a capacidade de pensar com coerência. Existe uma diferença profunda entre o eu acho e o eu penso. O pensar exige método e profundidade na análise. O nosso desafio é pensar filosoficamente.
O sentido do nosso desafio é partir do senso comum (aquilo que nós aprendemos no dia-a-dia, com nossa família, as crenças passadas para nós desde nossa infância, o conhecimento vulgar conseguido através das experiências adquiridas no decorrer da vida) e superá-lo. Isso não significa que o senso comum seja inferior em relação às demais formas de conhecimento. Mas, nós precisamos superar o conhecimento do senso comum. Afinal, estamos numa esfera de estudos para produzir conhecimento com bases filosóficas e científicas.
O ato de pensar filosoficamente possui um caminho que nos permite pensar de modo mais amplo e coerente. Por isso, vamos analisar as características da reflexão filosófica.
Aproveitamos algumas idéias das professoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, lançadas em seu livro Filosofando: introdução à filosofia (ver bibliografia), para facilitar nosso entendimento das características do pensamento filosófico. Vejam as características da reflexão filosófica.
Radical: a palavra latina radix, radicis significa raiz, e no sentido figurado, fundamento, base. Portanto, a filosofia é radical não no sentido corriqueiro de ser inflexível, mas enquanto busca explicar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir. Por exemplo, a filosofia das ciências examina os pressupostos do saber científico, do mesmo modo que, diante da decisão de um vereador em aprovar determinado projeto, a filosofia política investiga as raízes (os princípios políticos) que orientam sua ação.
Rigorosa: enquanto a "filosofia de vida" não leva a conclusões até as últimas conseqüências, e nem sempre capaz de examinar os fundamentos delas, o filósofo deve dispor de um método claramente explicitado a fim de proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica. O filósofo usa uma linguagem rigorosa para evitar ambigüidades ou duplas interpretações. Isso possibilita a discussão das suas teses a partir de conceitos claros e precisos.
De conjunto: enquanto as ciências são particulares porque se ocupam somente com o seu objeto de estudo, a filosofia é de conjunto porque analisa a questão de forma global, isto é, examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, relacionando os diversos aspectos entre si. A filosofia visa ao todo, à totalidade.
Recorremos também à contribuição do professor Agostinho José Soares, no livro Introdução ao Pensamento Filosófico (ver bibliografia). Leiam atentamente a sua definição de filosofia.
Vamos, agora, ver como o próprio professor Agostinho explica o que significa cada uma das características. Nosso objetivo é fazer uma adaptação do texto do professor Agostinho para reforçar o entendimento das características da reflexão filosófica.
Criticidade: a palavra criticidade vem de crítica. Crítica significa exame, arte de julgar o valor, critério. Esta idéia de analisar minuciosamente o objeto nos dá a idéia de crítica como uma característica da reflexão filosófica, mas também como uma postura do filósofo. Criticar é ter o cuidado de estabelecer critérios.
Radicalidade: é necessário que a reflexão filosófica seja radical, ou seja, que ela busque a raiz, a origem, os fundamentos. O conhecimento que não vai às raízes da questão, é um conhecimento ingênuo ou é manifestação de uma consciência ingênua.
Totalidade: a filosofia está interessada na reflexão sobre a totalidade. Para haver a compreensão real dos fatos, é preciso inseri-los no contexto do qual fazem parte. Deve-se levar em consideração o contexto sócio-político-econômico no qual está inserido o problema analisado.
Estas são as características da reflexão filosófica, que só podem ser entendidas em seu conjunto. Não há necessidade de decorá-las, através de um trabalho de memorização pura e simples. O mais importante é compreender como é fundamental ter atitudes críticas, radicais e visão de conjunto no nosso cotidiano.
Autor: Professor Aloíso
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