quinta-feira, 8 de março de 2018

A Concepção Taylorista de Divisão do Trabalho

Resultado de imagem para A Concepção Taylorista de Divisão do TrabalhoNos sistemas domésticos de manufactura era comum o trabalhador conhecer todas as etapas da produção, desde o projecto até a execução. A partir da implantação do sistema fabril, no entanto, isto não é mais possível, devido a crescente complexidade resultante da divisão do trabalho.

A nova fase de produção envolve um pequeno grupo de pessoas que conhece, cria, planeja o que vai ser produzido, inclusive a maneira como vai ser produzido e o outro grupo é obrigado à simples execução do trabalho, sempre parcelado, pois a cada um cabe uma parte do processo.

A divisão do trabalho foi intensificada quando Frederick Taylor (1856-1915), no livro Princípios de Administração Científica, estabelece os parâmetros do método científico de racionalização da produção, visando o aumento de produtividade com a economia de tempo, a supressão de gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior do processo produtivo.

O Taylorismo ou administração científica do trabalho surge como uma nova cultura do trabalho na passagem do século XIX para o século XX, nos Estados Unidos, nação que começava a despontar como potência mundial, período em que se consolida um padrão de acumulação capitalista sustentado no industrialismo e na atuação monopolista dos capitais. Período em que o conhecimento científico se torna cada vez mais decisivo para desenvolver as diversas áreas da produção industrial (elétrica, química, telecomunicações, metalurgia, construção naval e outras).

Taylor parte do princípio de que o trabalhador é indolente, gosta de fazer cera e usa os movimentos de forma inadequada. Observando seus gestos, determina a simplificação deles, de tal forma que a devida postura do corpo, dos pés e das mãos possa aumentar a produtividade. Também a divisão e o parcelamento do trabalho se mostra importante para a simplificação e maior rapidez do processo. São criados gerentes especializados em treinar operários, usando cronômetros e depois vigiando-os no desempenho de suas funções. Os bons funcionários são estimulados com recompensas, os indolentes, sujeitos a punições. Taylor tentava convencer os operários de que tudo isso era para o bem deles, pois, em última análise, o aumento da produção revertia em benefícios também para eles, gerando a sociedade da opulência e do lazer.

O modo taylorista de produção extrapolou os domínios da fábrica, atingindo outros tipos de empresas, como os esportes, medicina, a escola e até a atividade de dona de casa. Por exemplo, um ferro de passar é fabricado de acordo com os critérios de economia de tempo, de gasto de energia, a localização da pia e do fogão devem favorecer a mobilidade, os produtos de limpeza devem ser eficazes, etc. O homem reduzido a gestos mecânicos pelo parcelamento das tarefas, foi retratado em Tempos Modernos, filme clássico de Charles Chaplin.

O sistema de racionalização do trabalho faz com que o setor de planejamento se desenvolva, tendo em vista a necessidade de aprimorar as formas de controle da execução das tarefas. Ocorre, portanto a separação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. A necessidade de planejamento desenvolve intensa burocratização. Os burocratas são especialistas na administração de coisas e de homens, estabelecendo e justificando a hierarquia e a impessoalidade das normas. A burocracia e o planejamento se apresentam com a imagem de neutralidade que mascara um conteúdo ideológico eminentemente político, tratando-se de uma técnica eficiente de dominação social.

Não é fácil submeter o operário a um trabalho rotineiro, irreflexivo e repetitivo, no qual, enquanto homem, ele seja reduzido a gestos estereotipados (padronizados). Se o trabalhador não compreende o sentido de sua ação e se o produto do trabalho não lhe pertence, torna-se difícil dedicar com empenho a qualquer tarefa. O taylorismo substitui as formas de coação visíveis, de violência direta, pessoal, de um feitor de escravos, por formas mais sutis que tornam o operário dócil e submisso. É um sistema que impessoaliza a ordem (não se sabe de onde ela vem), que não aparece mais com a face de um chefe que oprime, diluindo-se nas ordens de serviço vindas do setor de planejamento. Este mecanismo retira do operário toda criatividade, cumprindo apenas ordens e recebe estímulos para alcançar o grau exemplar de operário-padrão. O recurso de distribuição de prêmios, gratificações e promoções para se obter índices cada vez maiores de produção estimula a competição facilitando ao capitalista o controle absoluto do produto final.

Marx viveu no período em que a explosão capitalista sobre o proletariado era muito explícito e por isso achava que o antagonismo entre as classes chegaria ao ponto crucial em que o crescente empobrecimento do operariado levaria à tomada de consciência da dominação e à conseqüente superação dela por meio da revolução. No entanto, ocorreu a tendência oposta a partir da diminuição da exploração econômica das massas, os conflitos existentes foram dissimulados, não havendo oposição porque o homem perdeu sua dimensão de crítica.

Não podemos assumir a posição ingénua da crítica gratuita à técnica, mas é preciso preocupar-se com a sua absolutização. Onde a técnica se torna o princípio motor, o homem se encontra mutilado, reduzido ao anonimato diante das funções que desempenha. Enquanto prevalecerem as funções divididas do homem que pensa e do homem que só executa, será impossível evitar a dominação pois sempre existirá a ideia de que alguns sabem e são competentes e, portanto decidem, a maioria que nada sabe é incompetente e executa. Por isso torna-se fundamental a reflexão sobre os fins que a técnica atende, observando se ela está a serviço da humanidade ou da sua exploração.

Por Professor Aloíso


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