O partido socialista espanhol (PSOE) apresentou hoje no Congresso uma moção de censura contra o presidente do Governo, Mariano Rajoy, apenas 24 horas depois da sentença no "caso Gürtel", informaram fontes socialistas à agência de notícias espanhola EFE.
Um tribunal espanhol aplicou na quinta-feira penas elevadas a uma série de políticos e empresários envolvidos num esquema de corrupção, a que se chamou "caso Gürtel", que ajudou a financiar o Partido Popular (PP), no poder.
O próprio partido do primeiro-ministro foi multado em 245 mil euros por ter beneficiado do esquema ilegal que se baseava em conceder contratos públicos a empresas em troca de dinheiro.
O registo da moção de censura do PSOE, que foi levada em mão pela porta-voz do partido, Margarita Robles, ocorreu antes de o secretário-geral do partido, Pedro Sánchez, informar a direção nacional do partido, que está reunida neste momento na sede, em Madrid.
Sanchez reuniu-se na quinta-feira com parte da liderança do partido para analisar a possibilidade de apresentar a moção, que foi entregue esta manhã na Câmara Baixa.
A moção havia sido exigida na quinta-feira pelo líder do partido Podemos, Pablo Iglesias, que já havia adiantado que a apoiaria.
Iglesias denunciou que a decisão do "caso Gürtel" é a prova de que há "um partido delinquente" no comando do Governo, o que não se pode permitir em nenhuma democracia.
Com o apoio do Podemos a essa moção de censura, todos os olhos estão agora voltados para o partido Cidadãos.
O seu presidente, Albert Rivera, anunciou na quinta-feira que o seu partido "avaliará" o que vai fazer no resto da Legislatura e a sua relação com o Governo depois da sentença do "caso Gürtel" contra o Partido Popular (PP), que colocou o Executivo e o país em uma situação "tão grave".
"Há um antes e um depois" após a decisão do tribunal, disse Rivera.
Antes de saber da notícia da entrega da moção de censura, o vice-secretário de comunicação do PP, Pablo Casado, considerou que esta moção não seguiria em frente, já que "não teria a soma de votos necessária", sem o apoio dos Cidadãos ou de outros partidos.
Mariano Rajoy, chamado a prestar declarações ao tribunal no âmbito do "caso Gürtel", em julho de 2017, declarou na altura que não estava a par dos casos de corrupção quando estes tiveram lugar a partir de 1999 e que ele próprio decidiu, em 2004, cortar as relações que havia entre o PP e Francisco Correa, cujas empresas forneciam serviços a esse partido.
Este empresário, que é considerado o "cérebro" do "caso Gurtel", foi na quinta-feira condenado a mais de 52 anos de prisão e Luis Barcenas, um ex-tesoureiro do PP, a 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de quatro milhões de euros.
Durante o julgamento, Francisco Correa explicou um esquema em que entregava "envelopes" com dinheiro a funcionários públicos e responsáveis políticos eleitos pelo PP, para ajudarem certas empresas "amigas" a ganharem contratos de direito público.
Mariano Rajoy nunca foi envolvido diretamente no caso Gurtel, mas os seus cargos de responsabilidade no PP têm levado os opositores a acusá-lo de ter "fechado os olhos" ao esquema. Este e outros escândalos de corrupção que envolvem membros do PP contribuíram para que o partido perdesse em dezembro de 2015 a maioria absoluta que tinha no parlamento espanhol.
Lusa
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