O Presidente Filipe Nyusi voltou a colocar como prioridade a construção de uma segunda e megalómana barragem no vale do Zambeze que causará graves impactos no clima cada vez mais alterado das províncias de Tete e da Zambézia onde os eventos climáticos extremos são uma constante. “(...)A central hídrica de Mpanda Nkuwa é um empreendimento estruturante” afirmou o Chefe de Estado que ainda revelou o fim da concessão ao consórcio liderado pelo grupo Insitec e a construtora brasileira Camargo Corrêa.Discursando no acto de inauguração da Central Termoeléctica de Maputo, nesta quarta-feira (22), o Presidente da República constatou: “A existência de um grande potencial energético, aliado a posição geoestratégica do nosso país coloca-nos numa posição privilegiada em relação a produção para os outros países da África Austral. Da mesma maneira sabemos que na região da SADC o acesso a energia é de apenas 38 por cento e estima-se que até 2030 a procura de energia na região atingirá os 50 por cento. Muitos países da região têm actualmente um défice de energia, em 2017 a procura atingiu 40 por cento”.
“Assim, para nos tornarmos mais competitivos precisamos urgentemente de maximizar as vantagens que temos preparando-nos atempadamente para responder a necessidade de mais energia do país e aproveitarmos as oportunidades comerciais que os mercados emergentes da região oferecem, é neste contexto que o Governo presta atenção especial ao projecto de Mpanda Nkuwa e a linha de transporte de energia eléctrica Tete – Maputo”, declarou o estadista.
Na perspectiva do Presidente Nyusi: “A linha e a central hídrica de Mpanda Nkuwa é um empreendimento estruturante que permite por um lado acelerar o processo de acesso universal de energia a população e por outro a maximização da exportação de energia para a região neste âmbito o Governo irá criar um Unidade Técnica de implementação e as empresas EDM e HCB são as únicas mandatadas para o desenvolvimento do projecto, podendo para o efeito buscar recursos necessários e estabelecer parcerias estratégicas”.
O Chefe de Estado anunciou ainda o fim da concessão ao consórcio Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa (HMNK) que é liderado pelo Grupo Insitec e a construtora brasileira Camargo Corrêa, ambas com 40 por cento, e ainda integra a EDM.
Para Nyusi a Electricidade de Moçambique e a Hidroeléctrica de Cahora “possuem capacidade e competência técnica e financeira para a estruturação do projecto. Esta medida irá evitar a obstrução e o atraso que se verifica por um lado, e por outro, contribuirá para a redução do seu custo por não envolver intermediários”.
“Se a barragem for construída só vai trazer desgraças para o povo”
Acontece que embora o Estudo de Impacto Ambiental da barragem de Mpanda Nkuwa já tenha sido aprovado, afinal foi executado pela empresa cujos estudos são sempre aprovados apesar dos impactos danosos para os moçambicanos, o mesmo está viciado de várias irregularidades que têm sido denunciados desde que o projecto foi concessionado, em 2010.
“É uma farsa, necessitava de estudos mais conclusivos e válidos cientificamente, de forma a poder prever quais seriam os verdadeiros impactos sociais e ambientais do projecto” declarou em 2012 a Justiça Ambiental, Organização Não Governamental que tem acompanhado e feito advocacia a questionar a pertinência e viabilidade desta barragem que estava orçada em 2,3 biliões de dólares norte-americanos.
Anabela Lemos, num breve contacto com o @Verdade, destacou a necessidade de se avaliar também a sismologia da província de Tete, a variação do fluxo e nível das águas, a questão da retenção de importantes sedimentos para a manutenção do riquíssimo ecossistema.
“Continuamos a dizer que a decisão da construção da barragem é uma decisão inconsciente, sem ter em conta não só os ganhos económicos como a preocupação com o povo. Se a barragem for construída só mostra a falta de respeito e consideração pelo nosso povo e país. Acreditamos que se a barragem for construída só vai trazer desgraças para o povo, para o ecossistema e nenhum beneficio para o país”, acrescentou a directora da Justiça Ambiental.
Para além da ONG moçambicana o Plano Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que é um órgão criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial, categorizou o Zambeze como sendo a bacia hidrográfica que apresenta os piores potenciais efeitos das mudanças climáticas entre as 11 maiores bacias de África devido ao efeito do aumento da temperatura e da diminuição da precipitação e por isso o rio irá enfrentar períodos de seca mais prolongados e cheias mais graves.
Sobre os reais benefícios para o povo, e embora os mentores da barragem escondam os estudos de viabilidade, tem sido avançado pelas entidades relacionadas ao projecto que pelo menos 80 por cento dos 1.500 megawatts de energia que esperam produzir será para exportação, portanto os moçambicanos e os cada vez mais projectos de exploração de recursos naturais deverão repartir a restante electricidade.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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