quinta-feira, 20 de setembro de 2018

EDITORIAL | Jorge Costa | Serviço Nacional de Saúde


É no compasso de espera para uma sessão de “quimioterapia de consolidação” (é esta a terminologia clínica), no Hospital de São Jerónimo, em Coimbra, que esboço esta peça, precisamente 48 horas depois de se terem assinalado 39 anos sobre a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), pela mão de António Arnaut, então Ministro dos Assuntos Sociais, Saúde e Segurança Social.

Este foi o primeiro ano que a efeméride foi assinalada sem a presença física do “Pai do SNS”, mas isso não nos deve impedir de lembrar o seu decisivo contributo para a criação de um diploma através do qual o Estado passou a assegurar o direito à protecção da saúde, a prestação de cuidados globais de saúde, garantindo o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social.
Sempre tive uma grande admiração pelos protagonistas do SNS, que, concluo, resulta dos 36 anos que a minha mãe desempenhou funções no Posto Médico - onde passei muitos momentos da minha infância, em contacto com médicos, enfermeiros, administrativos... -, e, depois, no Centro de Saúde, quando o equipamento se mudou da margem esquerda do Rio Águeda para o cimo da cidade.
Uma admiração que ganhou dimensão quando, faz agora um ano, me vi confrontado com um problema oncológico (ainda me custa um bocadinho escrever a palavra cancro...), que me transformou num “habitué” de vários equipamentos: Hospital da Luz (Aveiro e Águeda), Idealmed (Cantanhede e Coimbra), Hospitais da Universidade de Coimbra, de São Jerónimo, dos Covões e de Águeda, Instituto Português de Oncologia do Porto e Centro de Saúde de Águeda. Às vezes sorrio e digo, na brincadeira, que, por este andar, ainda arrisco uma licenciatura em... Medicina.
É ao atravessar este bocado de caminho mau que vos confidencio o orgulho que nutro pelo nosso SNS, que, apesar dos problemas com que se debate, continua a contribuir, claramente, para a edificação de um Portugal equitativo, inclusivo e justo; com personagens de uma grandeza humana admirável; e com profissionais que se deixam enamorar pelos progressos da ciência e da inovação.
Sempre defendi que as políticas de quem nos governa (sejam políticos de direita ou de esquerda; municipais, da Nação ou da União Europeia), devem estar alicerçadas (cada vez mais) na Saúde e na Educação! Não abdico desta ideia pré-concebida e nem tolero que o investimento público seja canalizado, muitas vezes, para o acessório, esquecendo-se o essencial.
António Arnaut, no mais belo poema que escreveu, construiu quadras que deram ao SNS uma matriz constitucional e humanista que devemos preservar em honra de um Homem que teve uma intervenção cívica admirável e que foi uma verdadeira referência na luta pelo direito à nossa Saúde. 

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