Numa
altura em que se discute intensamente o combate à vespa asiática
(vespa velutina), «existe
outro inseto muito problemático, o percevejo asiático (Halyomorpha
halys), que, com certeza, nos vai incluir na já longa lista de
países invadidos em todo o mundo»,
alerta um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra (UC).
Para
sensibilizar a população em geral, e os produtores agrícolas em
particular, uma equipa do FLOWer
Lab
(Centre for Functional Ecology), da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), iniciou uma campanha
de sensibilização sobre a problemática desta praga.
Esta
campanha, inserida no projeto i9Kiwi,
inclui vários materiais de divulgação, entre os quais panfletos
acerca do percevejo asiático, difundidos em formato físico ou
através das redes sociais, bem como a realização de comunicações
públicas e publicações técnicas, alertando para a problemática
deste inseto. Os investigadores apelam também à participação de
todos os cidadãos, na melhor filosofia de uma ciência
verdadeiramente inclusiva e cidadã, através da partilha no grupo de
Facebook "Percevejo asiático (Halyomorpha halys) PT", ou
via e-mail (h.halys.i9k@gmail.com),
de fotografias de possíveis avistamentos do inseto.
Nativo
do oeste asiático, o percevejo asiático foi introduzido
acidentalmente nos continentes americano (nos EUA em 2001 e no Chile
em 2017) e europeu (Suíça em 2004), tendo expandido a sua
distribuição a partir destes pontos de introdução, contando já
com 22 países invadidos. Apesar das populações estabelecidas mais
próximas estarem na Catalunha (Espanha) desde 2016, no início de
2019, o inseto foi intercetado na região de Pombal, em equipamento
agrícola importado de Itália (Fonte: DGAV), país europeu onde se
estão a verificar mais prejuízos económicos.
Para
João Loureiro, investigador do FLOWer
Lab,
«o
estabelecimento de mais uma praga agrícola no nosso país,
especialmente de um inseto picador-sugador capaz de se alimentar em
mais de 300 espécies de plantas nas suas diferentes estruturas
(frutos, folhas, rebentos...), incluindo inúmeras plantas de
interesse agrícola, poderá ter efeitos muito negativos para a
agricultura».
O
também docente da FCTUC sublinha que «é
durante o período de atividade em que se alimenta (de abril a
novembro) que inviabiliza comercialmente os produtos agrícolas
(provocando cicatrizes, depressões, descolorações, deformações
e/ou queda). As perdas a este nível podem chegar a 90% de produção,
e culturas agrícolas como o tomate, milho, pera, uva, e laranja, tão
relevantes no contexto nacional, podem vir a ser severamente
afetadas, sem que haja ainda uma forma eficaz de controlo».
Ao
nível de saúde pública, «a
procura do inseto por abrigos, nomeadamente no interior de casas e
barracões, para a fase de diapausa (hibernação) durante os meses
frios (Dezembro-Março), leva uma concentração elevada de
organismos - na ordem dos milhares de insetos- agravada pela
libertação de odores nefastos quando perturbados»,
salienta.
Por
sua vez, Hugo Gaspar, investigador do FLOWer
Lab
responsável pela produção dos materiais de divulgação e pela
identificação dos avistamentos suspeitos, observa que «o
clima favorável em Portugal, a rápida progressão observada e os
danos agrícolas e de saúde pública com difícil combate, e a
intersecção verificada em Portugal no início do ano, tornam
imperativo trazer o conhecimento ao público e assim tentar evitar a
expansão silenciosa. O estado de alerta é a melhor medida que
podemos tomar neste momento e a ajuda de todos é essencial,
principalmente através da participação ativa dos produtores
agrícolas».
Cristina
Pinto
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