O primeiro-ministro salientou hoje que "não há nenhum problema" com a comunidade cigana e criticou o deputado André Ventura (Chega), que "foi de trivela" e levou "um baile do Quaresma", em referência à resposta do jogador.
Durante o debate quinzenal que decorreu na Assembleia da República, em Lisboa, o deputado único do Chega questionou António Costa se "concorda ou não que há um problema com a comunidade cigana em Portugal", questionado também o que pensa fazer "com o reiterado incumprimento" às normas de confinamento por causa da pandemia da covid-19.
"Não, não há um problema com a comunidade cigana em Portugal. Agora o senhor deputado é que tem um problema, é que já foi de trivela", respondeu o primeiro-ministro, numa referência à resposta do jogador de futebol Ricardo Quaresma, cuja trivela (jogar a bola com a parte de fora do pé) é a sua 'imagem de marca'.
António Costa concretizou que existem sim problemas "com pessoas que cumprem ou não cumprem as normas sanitárias".
"E a resposta que temos que ter com qualquer dessas pessoas, qualquer que seja a sua etnia, qualquer que seja o seu local de vida, qualquer que seja a sua origem, qualquer que seja a sua religião, qualquer que seja a sua raça, é muito simples, a lei é para cumprir e deve ser aplicada a todos por igual", salientou.
Depois de André Ventura ter insistido no assunto e ter acusado o chefe de Governo de fazer uma piada, o primeiro-ministro apontou que "não disse uma graça, mas disse mesmo aquilo que é verdade".
"O senhor deputado resolveu criar um caso de uma parte importante dos portugueses, que é a comunidade cigana, como se eles fossem estrangeiros e não sabendo que há séculos que eles são tão portugueses como qualquer um de nós", assinalou, considerando que aquilo que deputado do Chega "teve foi uma resposta à altura de um grande campeão nacional e de um grande jogador da nossa seleção".
E Costa não ficou por aqui: "é ter muito mau perder quando, depois de levar um baile do Quaresma, a única resposta que teve para dar foi dizer que, sendo jogador da seleção nacional, só tinha obrigação de estar calado", contrapondo que "o direito à palavra e o direito à opinião é uma liberdade de todos".
Em comunicado divulgado no domingo, Ventura anunciou que, na sequência dos "episódios de violência e confrontação na Praia de Leirosa, Figueira da Foz", provocados alegadamente por um grupo de pessoas ciganas, apresentará "ao parlamento, já no decurso desta semana, um plano específico de abordagem e confinamento para as comunidades ciganas, face à pandemia de covid-19".
Na nota, o deputado defendia que "o cumprimento da lei não pode ser reservado apenas para alguns, que nenhuma minoria, étnica ou racial, pode considerar-se acima da lei, e que a força pública não pode recear intervir ou agir com o eterno pretexto do racismo e da xenofobia".
Já na segunda-feira, André Ventura endereçou três cartas aos líderes do PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal nas quais pedia o apoio destes partidos "na redação de obrigações legais" que "consigam, de uma vez por todas, fazer cumprir as leis de forma igual a todos os cidadãos".
Através de uma publicação na sua conta oficial da rede social Facebook o futebolista Ricardo Quaresma critica que "o populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder, que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade".
"Eu sou cigano, cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses, e não sou nem mais nem menos por isso", acrescenta o jogador, em declarações que André Ventura entretanto lamentou.
Este tema foi levantado durante o debate quinzenal pela coordenadora do BE, Catarina Martins, que disse a Ventura que "as ideias racistas" como o confinamento de ciganos "hão de ir parar ao caixote de lixo de onde nunca deviam ter saído".
Começando a sua intervenção por responder à bloquista, o líder demissionário do Chega disse que "se o caixote do lixo da história mandar o Chega para lá, se olhar para as sondagens de hoje e de ontem mais rápido a sua bancada vai toda para o caixote do lixo do que o Chega alguma vez irá para lá".
Lusa
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