Cassitérides foi o nome dado, na Antiguidade, a um arquipélago imaginado a oeste da Grã-Bretanha onde, reza a lenda, os mercadores fenícios, no século VII a. C., iam buscar estanho (“kassiterós”, em grego), uma actividade a que, segundo a mesma, se seguiram gregos, cartagineses e romanos. As Cassitérides eram algumas das diversas ilhas míticas que, até finais do século XV, os cartógrafos acreditavam existirem no Atlântico, a noroeste da Península Ibérica.
Entre os estudiosos antigos que procuraram descrever essas ilhas destacam-se o historiador Heródoto (c.485-420 a.C.), o historiador e geógrafo Possidónio de Apaméia (c. 135-c. 50 a. C.), o historiador Diodoro da Sicília (90 a. C.), o geógrafo Estrabão (c. 63 a.C. a c. 24 d.C.), quatro nomes grandes da Grécia antiga, e o naturalista romano Plínio. o Velho (23-79 d. C.).
Sabemos hoje que a Cornualha, em Inglaterra, é um dos produtores mundiais de estanho, devendo ter sido, pois, esta região do Sul da grande ilha britânica, que deu origem ao mito das Cassitérides. O respectivo minério, conhecido por “cristal de estanho”, foi descrito no século XVIII como “estanho mineralizado com ar puro” (o oxigénio era conhecido e designado por “ar puro”). Em 1832, o mineralogista francês François Sulpice Beudant (1787-1850) descreveu-o como um dióxido de estanho (SnO2) e designou-o por cassiterite (do grego “kassiteros”).
De brilho adamantino ou gorduroso, a cassiterite tem cor variável entre preto, púrpura e castanho-avermelhado ou amarelado. Geralmente opaca, pode apresentar-se translúcida e, por vezes, transparente, quando em pequenos cristais. Alguns exemplares mais claros e transparentes têm sido lapidados e usados como gemas. Sendo um mineral resistente à meteorização e relativamente duro, concentra-se em depósitos aluviais de tipo “placer,” os mais usuais na respectiva mineração como acontece actualmente na Malásia, na Tailândia, na Indonésia e na Rússia. Ocorre ainda em relação com intrusões graníticas, sob a forma de filões hidrotermais de alta temperatura e em pegmatitos associados, em especial, a quartzo, volframite, arsenopirite, pirite, esfalerite, dolomite e apatite. Acredita-se que a mineração da cassiterite se tenha iniciado na Cornualha e, só depois, em Portugal, em aluviões no centro e no norte do país. Uma destas ocorrências a céu aberto, localizada na Ribeira da Gaia (afluente do Zêzere), no concelho de Belmonte, foi explorada pelos romanos (e, provavelmente, muito antes) e, mais, recentemente, entre 1910 e 1940. Hoje explora-se nas minas da Panasqueira e de Neves Corvo.
O estanho (do latim “stagnum”) é um dos metais conhecido há mais tempo. De baixo ponto de fusão e aspecto prateado, é bastante resistente à corrosão, não se oxidando facilmente no contacto com o ar. Para além da produção de bronzes, é utilizado para recobrir outros metais a fim de os proteger da corrosão, como é o caso da folha-de-Flandres (a vulgar lata). Devido à sua grande maleabilidade, permite produzir folhas extremamente finas, utilizadas para embalar barras de chocolate e outros produtos.
Os arqueólogos falam da Idade do Bronze para designar um período da história do Homem com começo no Médio Oriente, há cerca de 3300 a. C., e terminado dois mil anos mais tarde, com o advento da metalurgia do ferro, iniciada e praticada na Europa pelos celtas.
Aceite por muitos como casual, a descoberta da liga de cobre e estanho a que foi dado o nome de bronze (do persa “biring”, cobre) veio substituir o uso do cobre, uma vez que mostrou ter maior resistência mecânica e mais elevada dureza, sem alterar as suas maleabilidade e ductilidade. Utilizado, nos seus primórdios, no fabrico de armas e utensílios, o bronze é hoje o nome de um conjunto de ligas metálicas que têm como base o cobre e o estanho, mas às quais, segundo os diversos objectivos, se adicionam teores variáveis, entre outros, de zinco, chumbo, níquel, alumínio, antimónio e fósforo, com o propósito de obter características superiores à do cobre.
A.M. Galopim de Carvalho (Geólogo)
APImprensa
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